Durante o enfrentamento à pandemia do novo coronavírus, especialistas afirmam que empresas que já tinham estrutura fortalecida de compliance conseguiram lidar melhor com a situação e solucionar problemas com mais agilidade. Alguns desses benefícios são a utilização de plataformas de segurança para funcionários e solução direcionada para setores.
Um levantamento da empresa de gestão de canais de ética Contato Seguro, aponta que houve aumento de cerca de 30% no volume de recebimento de denúncias e relatos em plataformas no início da quarentena entre seus clientes.
Cerca de 50% desses registros eram relacionados a medidas de prevenção adotadas, como questionamentos e reclamações, enquanto o restante se dividiu em questões trabalhistas e perguntas sobre o fim do período de home office.
Para o sócio-diretor da Compliance Total e Contato Seguro, Wagner Giovanini, o aumento de chamados pelos canais de denúncia é um exemplo da importância de uma estrutura de compliance fortalecida para combate a crises.
“Nós vimos a utilidade de um canal de denúncias em um momento como esse. O compliance como um todo, em um momento de pandemia, ajuda a empresa a tomar medidas sem criar um problema futuro”, afirma o especialista.
De acordo com o sócio da PwC Brasil, Washington Cavalcanti, a adoção urgente do trabalho remoto por boa parte das empresas criou maiores riscos para empresas que não possuíam normas e procedimentos bem definidos.
“Várias empresas não tinham processos de segurança da informação tão adequado, como a estrutura de VPN ou de banco de dados, e existiu um volume importante de fraudes nesse período. Houve então um estresse pela fraude e pela estrutura, de talvez não se ter mapeado direito os seus processos e não ter entendido os seus riscos”, diz Cavalcanti.
Companhias com boa política de compliance tendem a conhecer melhor a amplitude dos problemas e a garantir melhor comunicação com funcionários, ferramenta essencial no combate à crise do novo coronavírus.
“É um sistema de gestão que vai permitir que a empresa previna ou até venha a detectar e corrigir irregularidades e ilicitudes, e dessa forma vai proteger a empresa e seus funcionários. O canal de denúncias foi importante porque deu oportunidade para a empresa resolver problemas que estavam acontecendo em determinado setor e ela não tinha como saber”, explica o sócio da Compliance Total.
O especialista da PwC Brasil aponta que boa parte das companhias ainda têm procedimentos frágeis, o que afetou o tempo de resposta aos desafios da pandemia.
“Várias empresas tiveram dificuldades de operar nos primeiros dias de quarentena, porque tiveram de colocar um grande contingente de pessoas em home office e não estavam estruturadas. As pessoas tiveram de trabalhar de forma descentralizada, em suas casas”, conclui Cavalcanti.
Para organizar processos inteligentes de compliance, especialistas afirmam que o primeiro passo é desenhar uma estrutura pensada individualmente para o negócio. “Se você fizer um sistema muito complexo, as pessoas vão abandonar o sistema. Se você fizer algo muito simples, não vai ajudar. Tem que encontrar o ponto ótimo dessa relação, em que o sistema se encaixa naquela empresa”, diz Giovanini.
Cavalcanti destaca que a estratégia definida deve estar alinhada com o planejamento da diretoria, o que garante a eficácia do investimento. “Tem muitas companhias que criam o compliance muito mais para atender a demanda regulatória, o que implica um custo sem ter benefício para o negócio. Se eu não entender isso como um critério de vantagem competitiva, vou estar perdendo dinheiro e oportunidades”, diz o sócio da PwC.
Giovanini também aconselha buscar ajuda especializada para estruturar o melhor modelo de compliance e otimizar recursos: “Às vezes a empresa adota uma solução muito simples, em que ela gasta, só para exemplificar, R$ 10 mil em algo que não funciona, então ela jogou fora esse dinheiro. Talvez seja melhor gastar R$ 15 mil e fazer uma coisa que funcione, ter todos os benefícios do compliance e recuperar esse investimento lá na frente”.
Fonte: Estadão