IGOR GIELOW
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Acusações de interferência do Kremlin sobre a linha editorial de um dos principais jornais russos, o Vedomosti, levaram à demissão coletiva da equipe de editores-adjuntos da publicação nesta segunda (15).
Eles protestaram contra a confirmação no cargo do novo editor-chefe do jornal, Andrei Chmarov, que ocupava interinamente o posto desde o fim de março e provocou uma série de polêmicas por suas atitudes favoráveis ao governo de Vladimir Putin.
“Não podemos trabalhar com alguém que não se preocupa com nossos princípios”, escreveu a amigos Boris Safronov, um dos editores demissionários.
Ele trabalhava havia 15 anos no Vedomosti. Além dele, deixaram o diário econômico Philip Sterkin, Kirill Kharatian, Dmitri Simakov e Alexander Gubski, o último no jornal desde sua fundação, em 1999.
O jornal é um símbolo da ascensão e queda da liberdade de expressão na Rússia, tendo nascido no ano em que Putin chegou ao poder como primeiro-ministro.
Ele foi criado por um grupo russo que editava o hoje apenas digital The Moscow Times, em parceria com o britânico Financial Times e o americano Wall Street Journal. Como o DNA indica, o Vedomosti (Afirmações, em russo) é um jornal direcionado a economia, negócios e política, de viés liberal.
Sempre foi chamado de “o Financial Times russo”, até por repetir o esquema gráfico e a coloração levemente rosada, até que em 2015 uma nova lei vetou a propriedade estrangeira de mais de 20% de um grupo de comunicação no país.
A legislação veio na esteira do endurecimento da política externa de Putin, que no ano anterior havia anexado a Crimeia como reação à queda do governo pró-Moscou em Kiev, levando a uma série de sanções ocidentais contra seu governo, que persistem até hoje.
O Vedomosti se manteve independente, apesar dos rumores de dificuldades financeiras. Sua circulação, que chega a quase 160 mil exemplares por dia, caiu para cerca de 65 mil.
Isso durou até março, quando foi anunciada sua venda para um empresário, Alexei Golubovitch, conhecido por seus laços com o Kremlin. Chmarov, que editava uma revista de negócios pró-Putin chamada Expert, foi chamado para chefiar a publicação.
Não há censura oficial na Rússia, mas a pressão econômica pode ser feita de diversas formas. Assim, quando Chmarov assumiu interinamente, uma série de eventos evidenciaram que o vento mudara.
O primeiro foi um episódio em que Chmarov mudou o título e o teor de uma reportagem crítica à Rosneft, a Petrobras russa, grande anunciante.
Depois, ele seguiu um pedido formal do Kremlin para que não fossem mais publicadas pesquisas do Centro Levada, o principal instituto independente de opinião pública do país, que vinha registrado a queda na popularidade de Putin.
Houve resistência interna. Editores passaram a publicar os números do Levada na seção de Opinião, driblando assim o veto a seu uso em reportagens, e o conflito cresceu: dez jornalistas experientes deixaram a publicação.
Em abril, repórteres do jornal fizeram um manifesto se queixando de que o editor-chefe havia proibido tom crítico em reportagens acerca da mudança constitucional patrocinada por Putin, que abre caminho para que o presidente fique no poder até 2036 e será votada em referendo em julho.
“Ele violou repetidamente os padrões do jornal, segundo os editores”, disse o próprio Vedomosti na surpreendentemente transparente reportagem em seu site no qual a demissão coletiva foi anunciada.
O texto não ouve Chmarov, que também não respondeu a pedidos de contato de agências internacionais nesta segunda. Cita apenas a decisão da manutenção de Chmarov apesar do protesto, dizendo que ela foi tomada pelo Conselho de Administração da editora do Vedomosti, a Business News Media.
Amigos dos editores demissionários se revezaram em redes sociais se solidarizando com eles e reclamando do estado da liberdade de expressão na Rússia. “Temos um mercado minúsculo, mas ainda há locais independentes para trabalhar, como o site Meduza”, disse Nastia Dagaieva no Facebook.
Internacional
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