TETÉ RIBEIRO
FOLHAPRESS – É difícil se divertir com uma história tão cruel, mas o diretor e roteirista britânico J Blakeson, de “O Desaparecimento de Alice Creed”, de 2009, consegue desviar a atenção do público com uma boa dose de humor, muito suspense e alguma violência. Sem deixar de apontar o dedo para a ferida que sua personagem principal expõe.
Ela é Marla Grayson, vivida por Rosamund Pike, dona de um negócio lucrativo e totalmente legal.
Como curadora de idosos apontada pela justiça, o trabalho dela é tomar conta da saúde física, mental e financeira de seus clientes. Junto com sua parceira e namorada, Fran, interpretada pela mexicana Eiza González, ela tem um esquema todo azeitado para fazer com que velhinhos e velhinhas caiam nas suas garras sem querer, para então ficar com todo o dinheiro que eles têm.
Com a ajuda de uma médica geriatra, a doutora Amos, papel de Alicia Witt, Marla toma conhecimento de idosos com um bom patrimônio e algum sinal de demência, por menor que seja, e parte para o ataque.
Faz uma pesquisa inicial para levantar possíveis problemas e, se decide seguir em frente com o golpe, basta pedir uma audiência de emergência para um juiz e o convencer de que a pessoa não tem mais condições de tomar conta de si mesma nem nenhum parente que possa fazer isso por ela. Se o juiz concordar, ela vira a responsável por todos os aspectos da vida da vítima.
O segundo passo é tirar o velhinho de sua casa, mandar para um asilo gerenciado por outro comparsa, Sam Rice, papel de Damian Young, tirar o celular e o manter isolado do mundo. Em seguida, ela e a namorada fazem uma limpa nos bens do sujeito, com a justificativa de que precisam usar o dinheiro para os cuidados da pessoa, assim como para pagar pelo seu trabalho. O velhinho fica no asilo até morrer, e as duas com todo o dinheiro que ele juntou.
O filme começa com uma narração em off de Marla, em que ela fala sobre os ricos ficarem sempre mais ricos e os pobres mais pobres. Por um momento, dá a sensação de que vai se desenrolar uma batalha pela justiça, mas ela logo emenda que “há dois tipos de pessoas no mundo, os predadores e as presas, e eu sou uma leoa”.
Marla é uma anti-heroína do tipo que quase só se vê em papéis masculinos. Sem nenhum escrúpulo nem um pingo de empatia, é uma daquelas personagens feitas para serem odiadas, mas por quem o público acaba torcendo. Mérito da atriz britânica Rosamund Pike, que já interpretou uma personagem ultramanipuladora antes, no filme que a fez conhecida, “Garota Exemplar”, de 2009. Ela parece verossímil tanto dando um sorriso singelo quanto fazendo as piores atrocidades.
Mas Marla não contava com Jennifer Peterson, papel interpretado por Dianne Wiest. Ela é o próximo alvo de seu golpe, considerada uma “cherry”, cereja em inglês.
Educada, bem-sucedida e sem parentes próximos, parece a paciente perfeita. Dois problemas, no entanto -o primeiro é que Jennifer está em pleno poder de suas faculdades mentais. O segundo é que ela é ligada com a máfia russa, e o chefão, Roman Lunyov, interpretado por Peter Dinklage, de “Game of Thrones”, a quer fora do asilo de qualquer maneira.
Aí começa o thriller propriamente dito, quando Roman e Marla guerreiam pela posse de Jennifer. Ele, gângster, logo parte para o uso de armas, chantagens e ameaças, na tentativa de ter sua velhota enigmática de volta. Ela, que não se intimida facilmente, resolve enfrentar seu rival.
É uma briga de vilão versus vilão, e nenhuma violência ou baixaria está descartada. São pessoas horríveis fazendo coisas horríveis umas com as outras, envoltas em um humor politicamente incorreto que alivia um pouco o clima pesadão que se instala.
Parece difícil torcer para um dos dois, mas o desempenho unidimencional de Peter Dinklage para o seu bandido é tão desigual em comparação à atuação nuançada de Rosamund Pike que fica óbvio em que personagem desprezível o espectador vai apostar suas fichas.
Marla não costuma perder suas batalhas dentro da lei, assim como Roman não está acostumado a sair por baixo nas empreitadas fora dela. Quem será o mais resiliente?
Nada nesse filme é exatamente novo ou mais bem executado que outros do gênero, mas “Eu Me Importo” tem alguns pontos a seu favor, apesar de ser um pouco mais longo do que deveria.
Uma edição que tirasse uns 15 minutos cairia bem. No fim das contas, é um filme satírico que parte de fatos terríveis e reais, os maus tratos a idosos por quem deveria cuidar de seus interesses. E é também reconfortante ter um casal LGBT ocupando papéis centrais sem que isso seja o tema da história.
Cultura
Quarta-feira, 24 de julho de 2024
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