Economia
Quarta-feira, 19 de novembro de 2025

Com Selic mantida em 15% ao ano, a Bolsa ainda tem fôlego para subir? 

Especialistas seguem otimistas com as ações brasileiras, mas destacam a importância da seletividade ao montar a carteira

Investir em ações com a Selic em 15% ao ano não é tarefa fácil. Afinal, os ativos de risco não costumam performar bem em ambientes de política monetária contracionista. O Ibovespa, porém, vem desafiando essa lógica ao bater seu novo recorde de fechamento no mesmo dia em que o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) decidiu manter os juros básicos em 15%

Além de fatores externos, o otimismo com a Bolsa brasileira vem da expectativa por cortes na Selic no início de 2026. Para especialistas, a manutenção dos juros não impacta negativamente as ações e o Ibovespa tem potencial para fechar o ano em patamares superiores a 150 mil pontos. 

Luciano Boudjoukian França, sócio-fundador e gestor da Paramis Avantgarde Asset Management, diz que “o momento exige uma abordagem seletiva, mas ainda há assimetria favorável para quem mantém visão de médio e longo prazo”. Para ele, a decisão do Copom contribui para ancoragem das expectativas de inflação e reforça a credibilidade da política monetária, o que ajuda a melhorar a percepção de risco do País e abre espaço para valorização de ativos de risco. 

Bolsa ainda tem fôlego? 

Quando os juros futuros começarem a cair de forma consistente, veremos o Ibovespa operando acima de 150 mil pontos “com certa tranquilidade”, projeta Tales Barros, líder de renda variável da W1 Capital.

Já Fernando Siqueira, head de research da Eleven Financial, argumenta que, mesmo com recordes, a valorização das ações ainda não é tão expressiva: “por mais que está sendo um bom ano, há anos bons do Ibovespa com altas muito superiores”. 

João Daronco, analista da Suno Research, concorda e diz que “muitas empresas andaram pouco ou nem andaram” e alerta que, diante desse fato, os investidores precisam aprofundar as análises sobre cada companhia e aumentar a seletividade: “separar o joio do trigo”.

A chegada de um ano eleitoral pode trazer uma política fiscal mais restritiva e, portanto, “favorável à redução dos juros longos” e também é citada por França como um fator que mostra que ainda há fôlego para a Bolsa andar. 

Além disso, os valuations seguem “comprimidos” enquanto os fundamentos são “sólidos”, segundo o gestor. Daronco diz que “a Bolsa brasileira, na média, continua descontada quando olhamos métricas históricas; logo, ainda vejo que há fôlego para continuar subindo”.

“Mantemos uma visão construtiva para os ativos de risco no Brasil; acreditamos que o mercado ainda não precificou totalmente o potencial de normalização da taxa de desconto”, diz França.

O que comprar e evitar agora

Nesse contexto, manter a diversificação é importante, já que as ações posicionadas em setores defensivos podem continuar performando bem enquanto os papéis de setores sensíveis aos juros têm potencial para se destacar no quesito valorização. “É importante ter uma reserva para aproveitar uma eventual correção e ficar atento aos setores mais sensíveis aos cortes (de juros), recomenda Barros, da W1.

Para o especialista, as seguradoras tendem a performam bem enquanto os juros ainda estão altos. Ele também recomenda exposição a empresas ligadas a consumo cíclico e commodities. 

    Já Siqueira prefere “nomes que ganham com a queda da Selic”, posicionados nos stores financeiro, varejo e utilidades públicas. O especialista também recomenda investir em small caps, mais voláteis, mas que costumam subir em ciclos de afrouxamento monetário. 

    Os setores regulados ou com receitas indexadas à inflação, como as empresas ligadas à energia elétrica, são os preferidos de Luciano França, já que elas “preservam margens mesmo em cenários de transição monetária”. Para ele, a exposição a ativos domésticos, “que se beneficiam da queda estrutural do juro real”, também é positiva. 

    Por outro lado, o gestor indica evitar a exposição a empresas “excessivamente alavancadas”, negócios com margens pressionadas por commodities ou câmbio, “cuja previsibilidade de resultados segue baixa” e ações com múltiplos já esticados, “especialmente aquelas que dependem exclusivamente de cortes de juros para justificar o preço-alvo”. 

    Fonte: InfoMoney