Economia
Quinta-feira, 4 de julho de 2024

Na Agrosmart, uma rodada de US$ 20 milhões para virar fintech

Quando tinha apenas 16 anos, a mineira Mariana Vasconcelos foi emancipada pelo pai, Marcos – um produtor de milho no Sul de Minas – e logo estava ajudando a tocar a Morro Chic, a padaria da família em Itajubá, ao mesmo tempo em que fazia administração na universidade da cidade.

Não foi exatamente uma surpresa quando, aos 23 anos e recém-formada, fundou com dois amigos a Agrosmart, uma startup que começou a trajetória com um sensor climático que ajuda a economizar água nas lavouras – em poucos anos, a agtech atingiu 100 mil agricultores na base.

Num mundo de mudanças climáticas (São Pedro está cada vez mais arisco, e não por culpa dele), as indústrias de alimentos precisam acompanhar no detalhe os fornecedores de commodities para fomentar a produção sustentável, um desafio que encontrou na Agrosmart uma solução.

Com o uso de sensores, cruzamento de dados e algoritmos que ajudam nas recomendações de irrigação por fazenda – a partir do microclima –, a Agrosmart acompanha 58 milhões de hectares (para efeito de comparação, o Brasil planta quase 41 milhões de hectares de soja), o já que atraiu clientes do porte de AB Inbev, Raízen, Cargill, Bradesco, Syngenta. “Nosso algoritmo de previsão do tempo é um dos mais precisos”, afirma Vasconcelos, que é a CEO da agtech fundada em 2014.[

Na Nestlé, uma das maiores compradoras de café do planeta, a tecnologia da Agrosmart trouxe um alívio para pequenos produtores do Espírito Santo que sofriam com o clima, economizando mais de 70% em água e eletricidade. “A florada do café ficou muito mais uniforme e a produção, de maior qualidade”, conta a CEO. Os dados coletados também permitem que a dona da Nespresso e os outros clientes conheçam a pegada de carbono dos fornecedores.

A solução da Agrosmart, que inclui sensores meteorológicos e alertas diários por WhatsApp, também ajudou a reduzir a incidência da ferrugem do café (uma doença causada por um fungo) de 30% para 3%. “Conseguimos prever a ferrugem com até 15 dias de antecedência, o que permite ajustar o calendário de aplicação de defensivos”, diz.

Com os resultados, a Agrosmart não atraiu apenas os clientes. A tecnologia da startup também está angariando investidores. Poucos meses após fundar o negócio ao lado de Raphael Pizzi e Thales Nicoleti, Vasconcelos levantou capital com as aceleradoras Baita e Thrive e a gestora SP Ventures – a firma de venture capital criada por Francisco Jardim já colocou R$ 10 milhões na Agrosmart.

Há quase dois anos, a agtech fez o série A, levantando mais R$ 22 milhões numa rodada liderada pelo InovaBra (fundo do Bradesco) e que também contou com a participação da Positivo. Agora, a Agrosmart está em plena captação do série B que levará a startup a outro nível, entrando em serviços financeiros, a começar por um cartão de crédito e carteira digital voltada ao produtor.

“É uma rodada de US$ 15 milhões a US$ 20 milhões”, revela Vasconcelos. A agtech não abre o valor, mas parte desse montante já foi levantado com a Sucafina – a trading de café com sede na Suíça anunciou que estava participando da rodada, sem divulgar a cifra. A expectativa é que a rodada seja concluída em poucos meses, atraindo fundos dos EUA, Europa e América Latina.

A tese do série B da Agrosmart está na possibilidade de explorar serviços financeiros com uma pegada ESG, aproveitando a base de 100 mil produtores – o grosso está no Brasil, mas a agtech também está presente em outros países da América Latina e nos Estados Unidos. Inicialmente, o Boosterbank terá cartão de crédito e wallet, mas a fundadora já imagina passos mais ousados, financiando projetos maiores para captura de carbono nas fazendas e agricultura regenerativa.

Fonte: Pipeline Valor