Cultura
Quarta-feira, 24 de julho de 2024

‘Morbius’ é um chato escarcéu de efeitos especiais decepcionantes

Adiado em decorrência do coronavírus desde 2020, “Morbius” estreia nas sombras do triunfo monumental de outras adaptações dos quadrinhos, como “Homem-Aranha: Sem Volta para Casa” e “Batman”, com Robert Pattinson. Trata-se do terceiro filme do chamado Universo Homem-Aranha da Sony, após “Venom” e, outro sucesso pandêmico, a sequência “Venom – Tempo de Carnificina”.
Criado em 1971 por Roy Thomas e Gil Kane, Michael Morbius é uma adaptação pseudocientífica do bom e velho conde Drácula. Nos quadrinhos, o doutor Morbius é um bioquímico que buscava a cura de sua doença sanguínea e acabou contraindo impulsos vampirescos, se tornando o Vampiro Vivo –um inimigo para Blade, Motoqueiro Fantasma e, é claro, o Homem-Aranha.
Interpretado no filme por Jared Leto, ator responsável pela versão mais execrável do Coringa em “Esquadrão Suicida” –e também por alguns dos momentos mais sofríveis de “Casa Gucci”–, Morbius agora recebe o mesmo tratamento de anti-herói dado ao vilão Venom, tão simpático na performance esquizofrênica de Tom Hardy.
Além de Leto, o elenco conta com Matt Smith como Milo, amigo de infância de Morbius; Adria Arjona como a doutora Martine Bancroft, o interesse romântico do protagonista; um desperdiçado Jared Harris como Nicholas, o mentor do anti-herói; e, unidos pela caça ao vampiro, dois agentes do FBI interpretados por Tyrese Gibson e Al Madrigal.
Com um orçamento relativamente modesto de US$ 75 milhões –nem metade do custo da produção de “Sem Volta para Casa”–, “Morbius” é dirigido pelo sueco Daniel Espinosa, diretor da ficção científica “Vida” e do suspense “Crimes Ocultos” –produções com estrelas renomadas, mas que não causaram grande impressão na crítica.
Pelos trailers, “Morbius” seria uma tentativa de conectar ainda mais o Universo Homem-Aranha da Sony com o Universo Cinematográfico Marvel, da Disney, dada a participação de Michael Keaton como Adrian Toomes, o Abutre de “Homem-Aranha: De Volta ao Lar”. Na cena pós-crédito de “Venom – Tempo de Carnificina”, Tom Holland já havia aparecido como o aracnídeo e, em “Sem Volta para Casa”, Tom Hardy retornou a cortesia.
Os “easter eggs” dos trailers, contudo, também fazem alusão aos Homens-Aranha de Andrew Garfield e de Tobey Maguire. Ou seja, em qual realidade “Morbius” se passaria? Depois de quase dois anos de especulações dos fãs, a resposta é decepcionante. O Vampiro Vivo habita o mesmo universo de Venom, embora ele não apareça –e o Abutre tenha sido relegado ao pós-créditos.
Em dezembro, havia rumores de que Michael Keaton estava gravando cenas adicionais para “Morbius”, mas a sua participação na trama principal, tão ostentada na campanha de marketing, é pura propaganda enganosa, uma mentirinha –nos Estados Unidos, afinal, o filme estreia oficialmente em primeiro de abril.
Colocando as aguardadas conexões com o Universo Cinematográfico Marvel de lado, “Morbius” ainda fracassa em todos os departamentos. Os efeitos especiais são ruins e atrapalham a ação. O protagonista deixa rastros quando se movimenta e, às vezes, é difícil de entender o que está acontecendo –sobretudo, no embate final, mais um escarcéu em CGI.
Com roteiro assinado por Matt Sazama e Burk Sharpless, roteiristas de bombas como “Deuses do Egito” e “Power Rangers”, as tentativas de humor, obrigatórias em filmes de super-heróis, são desastradas. A todo instante, os personagens declaram as suas motivações, sempre da forma mais rasa e simplória possível, caso o espectador seja burro.
Há uma cena, envolvendo um corredor de hospital, em que o gênero do terror é mais bem explorado, com direito até mesmo a um sustinho –mas, em geral, “Morbius” é uma oportunidade perdida de fazer algo voltado aos trevosos. No filme, há um navio chamado “Murnau”, uma referência ao diretor alemão de “Nosferatu”, mas as associações com o clássico param aí.
Tecnicamente falando, “Venom” e sua sequência também não são filmes bons, mas conseguem divertir pela bobeira da relação entre Eddie Brock e o simbionte rabugento. Já no caso de “Morbius”, no entanto, não há nada que se salve. É de uma ruindade que não é grotesca o suficiente para sequer tornar a obra charmosa ou engraçada.

MORBIUS
Quando: Estreia nesta quinta (31)
Onde: Nos cinemas
Classificação: 14 anos
Elenco: Jared Leto, Matt Smith, Adria Arjona
Produção: EUA, 2022
Direção: Daniel Espinosa
Avaliação: Ruim

Fonte: FolhaPress/Ieda Marcondes