Indústria gaúcha vai abrir pelo menos 10 novas lojas nos próximos dois anos, apostando na diversificação dos canais de venda
O varejo brasileiro está celebrando a marca de um trilhão de reais em faturamento. Em 2022, pela primeira vez, as 300 maiores empresas do setor ultrapassaram esse marco e registraram um faturamento de 1,046 trilhão de reais, um aumento de 17,2% em comparação com os 892,4 bilhões de reais obtidos em 2021. Esses dados são fornecidos pela Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC).
Não muito diferente, a Tramontina também almeja comemorar um marco significativo em seu braço de varejo este ano. A tradicional empresa metalúrgica do Rio Grande do Sul tem como objetivo atingir uma receita de 100 milhões de reais com suas próprias lojas de varejo, conhecidas como Tramontina Store, até o final de 2023. Isso representa um crescimento de cerca de 40%.
Recentemente, a indústria com sede em Carlos Barbosa, localizada a 85 quilômetros de Porto Alegre, decidiu acelerar a expansão de suas lojas próprias. Somente neste ano, eles abriram ou estão em processo de abertura de cinco das 20 lojas já existentes em todo o país. No último mês, eles também expandiram para novas regiões: Norte e Sul. O plano para os próximos dois anos é abrir pelo menos mais 10 unidades.
“O conselho de administração deu a diretriz de acelerar a expansão nos próximos dois anos”, diz Evandro da Costa, Gerente Geral da Tramontina Store. “Queremos fortalecer nosso canal de varejo próprio dentro do grupo, pois também é uma maneira de movimentar os produtos das fábricas.”
A expansão ocorre principalmente por meio de lojas próprias em shoppings. São operações de 200 metros quadrados que vendem tanto produtos tradicionais quanto itens que não são comuns em varejistas maiores, que são clientes importantes da Tramontina.
De acordo com Costa, o momento é oportuno. Os shoppings se tornaram mais flexíveis na negociação das taxas de aluguel devido ao aumento da vacância. Ao mesmo tempo, a demanda nas lojas da Tramontina não diminuiu significativamente devido ao crédito mais restrito, uma vez que o público-alvo de suas operações de varejo é principalmente a classe alta (Classe A), que não depende necessariamente de crédito para comprar bens de consumo.
Como a Tramontina Começou a Investir em Lojas Próprias
Em Carlos Barbosa, cidade na região montanhosa do Rio Grande do Sul e sede da Tramontina, uma grande loja da empresa existe no centro da cidade há 30 anos. O local se tornou uma atração turística, com ônibus de turistas de outras cidades e estados parando a cada hora.
“Sempre que os turistas visitavam a loja, eles comentavam que gostariam de ver uma operação semelhante em suas próprias cidades”, afirma Costa. “A demanda dos consumidores sempre esteve presente.”
No entanto, levou um tempo para o desejo dos turistas se tornar realidade. O conceito de lojas próprias começou a tomar forma em 2012, quando a Tramontina contratou a consultoria Gouvêa de Souza para realizar um estudo de viabilidade para a criação desse canal.
A primeira loja foi inaugurada um ano depois, em 2013, no Rio de Janeiro. A cidade foi escolhida na época devido à proximidade de dois eventos importantes: a Copa do Mundo e as Olimpíadas. A partir daí, eles começaram a abrir novas operações, embora em um ritmo moderado, com foco no Sudeste durante muitos anos.
“Começamos a perceber que as lojas também são uma ferramenta de marketing poderosa para a Tramontina”, diz Costa. “A marca já é consolidada no Sul, mas também queríamos entrar mais no Sudeste. A quantidade de pessoas que entra nas lojas e interage com os produtos é significativa. Estamos falando de milhares de pessoas.”
Por Que a Aceleração Agora
Empresas centenárias, como a Tramontina, enfrentam desafios iminentes. Um deles é atrair novos clientes e alcançar novas gerações que talvez não estejam tão familiarizadas com a força dessas marcas. É aí que entra a estratégia de disseminar a marca por meio de vários canais, incluindo lojas próprias. Além disso, uma crise no varejo tradicional nos últimos meses tem obrigado as empresas a explorar opções de venda alternativas.
Para a Tramontina, Costa justifica a expansão com a consolidação do negócio. “Durante a pandemia, finalmente chegamos a um modelo ideal de loja”, afirma o executivo. “O projeto amadureceu, temos uma estrutura independente. Somos clientes da fábrica como qualquer outro. Nossa maturidade nos permite acelerar a expansão, e era um desejo da empresa.”
Considerações para Lojas Próprias
Uma parte significativa dos clientes da Tramontina, como indústria, são as grandes varejistas. Portanto, eles tomam cuidados constantes para evitar prejudicar esses compradores importantes dos produtos metalúrgicos. Para alcançar isso, a Tramontina toma três precauções principais:
- Diferenciar a variedade de produtos das lojas próprias daquelas das varejistas. Incluir itens nas lojas próprias que não são tão comuns no varejo tradicional.
- Manter os preços alinhados com o mercado, evitando praticar preços mais baixos na loja do que em grandes varejistas.
- Ser atencioso em relação à localização, abrindo lojas principalmente em shoppings onde as grandes varejistas têm uma presença mais fraca.
O Que Está por Vir
Neste ano, a Tramontina Store já lançou operações em um shopping em Porto Alegre e outro em Belém. Até o final do ano, planejam abrir mais uma na capital do Rio Grande do Sul, outra no Rio de Janeiro e uma em São José dos Campos. Para o próximo ano, a abertura em Curitiba já está confirmada.
A expansão continuará por meio do modelo de lojas próprias. Embora a empresa tenha considerado a possibilidade de franquias, concluíram que não era o ajuste correto.
Eles também continuarão investindo no comércio eletrônico. No próximo mês, começarão a testar a capacidade de omnicanalidade, oferecendo serviços como comprar no site e retirar na loja, ou comprar na loja física e receber produtos em casa. Essa iniciativa começará na Tramontina Store do Shopping Morumbi, em São Paulo.
Esses são os caminhos que a Tramontina está percorrendo para atingir o marco de 100 milhões de reais em lojas próprias, somando-se aos 10 bilhões de reais que eles já geram anualmente.
Fonte: Exame
Ver Jornal 25 de Julho de 2024 