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Quinta-feira, 25 de julho de 2024

Na guerra contra os gigantes do streaming, Roku quer “comer pelas beiradas”

A Roku, uma empresa americana que transforma televisões comuns em smart TVs, está investindo no streaming para aumentar sua competitividade. Com concorrentes como Amazon e Google, que são plataformas de streaming e também vendem dispositivos semelhantes, a Roku identificou uma oportunidade de crescimento no Brasil: estabelecer parcerias com empresas médias e pequenas localizadas fora dos grandes centros.

“André Romanon, country manager da Roku no Brasil, afirma em entrevista ao NeoFeed: ‘Na nossa visão, o streaming será o futuro da TV. No entanto, para isso, é necessário ter uma operação que atenda às necessidades de custo-benefício dos produtos, conteúdo relevante e facilidade de acesso aos serviços’”.

De acordo com a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), em março (último dado disponível), as empresas de pequeno e médio porte representavam mais da metade dos 45,8 milhões de clientes de banda larga fixa no Brasil. No entanto, ao contrário de empresas como Claro, Vivo e Oi, essas empresas menores não conseguem oferecer planos que incluam serviços de TV por assinatura. A solução é apostar no streaming.

A Roku vê esse segmento de clientes como uma oportunidade a ser explorada. Esses provedores precisam firmar parcerias com uma empresa que ofereça acesso a plataformas como Netflix, Prime Video e Star (sendo necessário ser assinante desses serviços), além de fornecer o dispositivo (com preços a partir de R$ 299). Também é importante que a empresa tenha canais próprios com filmes e séries de estúdios como Sony Pictures, Warner Bros e Paramount Pictures, entre outros.

Para fornecer o equipamento para esses clientes B2B, a Roku vende os produtos de forma facilitada ou faz leasing. Nesse sentido, a empresa fechou parceria com a Celeti, uma empresa do Rio de Janeiro que aluga equipamentos para provedores e atende cerca de 4,5 mil empresas, totalizando 12 milhões de clientes.

Uma das empresas interessadas nesse arranjo é a Vero. Com 812 mil clientes (representando 1,8% do total do setor), a empresa mineira oferece serviços de banda larga fixa em mais de 200 cidades de Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Para se diferenciar dos concorrentes, grandes e pequenos, a Vero passou a oferecer a contratação de planos que incluem um dispositivo Roku para seus clientes.

As parcerias com empresas de internet não são as únicas estratégias da Roku. A empresa também trabalha em conjunto com fabricantes de televisores. No Brasil, foram firmados acordos para que a plataforma Roku já esteja presente no sistema operacional das marcas Semp, TCL, Philco e AOC. Com isso, cada TV vendida garante à Roku um novo usuário em sua plataforma.

André Romanon justifica essa estratégia, afirmando que o mercado de televisores no Brasil é “gigantesco”, enquanto o de dispositivos é “embrionário”. Ele afirma: “Há um histórico do brasileiro consumir muito conteúdo através da televisão. Isso é quase peculiar quando comparado a outros mercados”.

Segundo a Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos, foram vendidos 10,7 milhões de televisores em 2022. Em relação aos dispositivos, não há dados concretos sobre o mercado, mas a Roku estima que menos de 2 milhões de aparelhos sejam vendidos anualmente no país.

Além de competir com a Amazon e o Google, a Roku também tem como alvo concorrentes fabricantes de eletrônicos que também investem em canais próprios, como Samsung e LG. A Samsung, por exemplo, já oferece acesso a emissoras como Record News e Bloomberg TV, além de canais com conteúdo exclusivo de programas como MasterChef Brasil e WildEarth, entre outros.

Em termos financeiros, o modelo de negócios da Roku tem gerado resultados, apesar dos gastos elevados nos últimos trimestres. Mais de 86% da receita total de US$ 3,1 bilhões obtida pela empresa no ano passado veio de sua plataforma, o equivalente a US$ 2,7 bilhões. Já a venda de dispositivos gerou uma receita de US$ 415,2 milhões no mesmo período.

Segundo um estudo da consultoria Pixalate com dados de fevereiro deste ano, a Roku ficou com mais de 50% da receita destinada a anúncios exibidos dentro de suas plataformas. A Samsung é a concorrente mais próxima, com 21%, seguida pela Amazon, com 13%. A consultoria não revela o valor total movimentado pelo setor.

No entanto, expandir rapidamente requer investimentos substanciais. As despesas operacionais da Roku em 2022 totalizaram US$ 1,9 bilhão, resultando em um prejuízo de US$ 498 milhões para a empresa no ano. Para efeito de comparação, a Roku registrou um lucro de US$ 242 milhões em 2021.

A previsão para 2023 indica outro ano de altos investimentos. No primeiro trimestre deste ano, a empresa, avaliada em US$ 7,5 bilhões, registrou um prejuízo de US$ 193,6 milhões em seu negócio, devido a um aumento de 42% nos custos operacionais, que totalizaram US$ 550 milhões. A receita foi de US$ 741 milhões, um aumento de 1%.

Fundada em 2002, a Roku é uma daquelas empresas que precisou reinventar seu negócio para sobreviver. Em seus primeiros anos, a empresa se concentrou na fabricação de reprodutores de mídia. Com o tempo, passou a investir em streaming e lançou dispositivos que transformam TVs comuns em smart TVs.

A Roku conseguiu estabelecer um negócio que depende mais de anunciantes do que da venda de hardware nos mercados dos Estados Unidos, México e Canadá. Com isso, expandiu sua base para mais de 70 milhões de clientes na plataforma, que oferece acesso facilitado a serviços de streaming e possui canais com conteúdo gratuito (mas com anúncios).

Presente no Brasil desde 2020, a Roku definiu três etapas para o sucesso de seu negócio. Primeiro, busca aumentar o número de clientes em sua plataforma em cada novo mercado (isso é feito através do acesso à plataforma); o segundo passo é envolver esses usuários para que se tornem consumidores de novos serviços da empresa; por fim, ocorre a rentabilização por meio de publicidade nos canais.

Na prática, isso é um desafio um pouco mais complexo. No Brasil, a empresa ainda está superando a primeira fase desse desafio.

Fonte: Neofeed