Economia
Quarta-feira, 24 de julho de 2024

Nova política industrial sairá até dezembro, afirma secretário do MDIC

A ideia é articular o plano a partir da perspectiva de sete “missões”, definidas como macrodesafios com o objetivo de gerar emprego e renda

O governo pretende estruturar até dezembro um plano “abrangente” de política industrial, afirmou à CNN o economista Uallace Moreira, um dos principais auxiliares do vice-presidente Geraldo Alckmin no Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).

A ideia é articular esse plano a partir da perspectiva de “missões”, que são definidas por Moreira como macrodesafios a serem enfrentados pela futura política industrial, tendo como objetivo a geração de emprego e renda.

No comando da Secretaria de Desenvolvimento Industrial do MDIC, Moreira — que é doutor em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), ex-consultor do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), ex-pesquisador da Universidade Nacional de Seul (Coreia do Sul) e professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA) — enumera sete “missões” nas quais o governo trabalha.

Secretário Uallace Moreira Mdic
Secretário Uallace Moreira. Foto: divulgação/MDIC

1. Cadeias agroindustriais sustentáveis e digitais: aplicação de biotecnologia, nacionalização de bioinsumos, redução da dependência externa de máquinas, fertilizantes e implementos agrícolas.

2. Complexo da saúde resiliente: autonomia em tecnologias críticas para a produção nacional de vacinas, medicamentos e equipamentos médicos.

3. Infraestrutura sustentável: universalização da cobertura de 5G, destravamento de obras (com adensamento e uso de materiais sustentáveis), integração produtiva com os países vizinhos (incluindo em minerais estratégicos).

4. Transformação digital: desenvolver empresas em tecnologias emergentes, como inteligência artificial, internet das coisas e realidade virtual.

5. Descarbonização da indústria, transição energética e bioeconomia: expandir produção de biocombustíveis, dominar a rota tecnológica do hidrogênio verde, ocupar elos na fronteira da produção de baterias, domínio de tecnologias críticas à produção de energia solar, eólica e pequenas centrais nucleares.

6. Tecnologias críticas para a soberania e a defesa nacionais: domínio de tecnologias para bens críticas à defesa nacional (inclusive em micro e nanoeletrônica), desenvolvimento e fabricação de satélites, expansão das capacidades internas em cibersegurança.

7. Moradia e mobilidade sustentáveis nas grandes cidades: promover a sustentabilidade ambiental nas cadeias de fornecimento do Minha Casa, Minha Vida (MCMV), estímulo à produção doméstica de veículos e peças sob novas rotas tecnológicas, desenvolvimento de softwares para cidades inteligentes.

Cada uma das “missões” terá estudos específicos, que vão ficar prontos no fim do segundo semestre. Moreira acredita que, em dezembro mesmo, haverá um empacotamento de ações e medidas para a indústria.

“Queremos uma visão estrutural de políticas para o setor”, afirma o secretário. Na parte de transformação digital, por exemplo, avalia-se um pacote de incentivos para a atração de investimentos em semicondutores.

O plano começou a ser desenhado ainda no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), mas acabou não saindo. Um dos desafios é superar o enorme fosso que separa o Brasil, com suas limitações orçamentárias, de países como os Estados Unidos.

“O programa do governo [Joe] Biden para impulsionar a indústria de semicondutores tem US$ 52 bilhões em subsídios. O nosso Padis [programa de apoio ao desenvolvimento tecnológico da indústria de semicondutores] prevê R$ 672 milhões”, compara.

Moreira vê possibilidades, porém, de o Brasil especializar-se em alguns elos da cadeia produtiva de chips. Não no chamado “front end”, que engloba etapas como o design e a fabricação, mas no “back end”, que envolve o corte e o encapsulamento dos semicondutores. “Talvez possamos nos posicionar como uma plataforma de exportação para a América Latina”, diz o secretário.

A elaboração da nova política será discutida no âmbito do Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI), recriado em abril, após sete anos de inatividade. Ele é formado por 20 ministérios e 21 representantes da sociedade civil, sob a presidência do MDIC. Em junho, haverá sua primeira reunião de alto nível.

Fonte: CNN