Economia
Quarta-feira, 19 de novembro de 2025

Roberto Campos Neto vê risco de ‘desintermediação bancária’ com avanço dos tokens e da digitalização

Campos Neto considera que o Brasil está relativamente ‘bem posicionado’ para liderar o processo de tokenização, classificando a regulação atual como ‘avançada’

O ex-presidente do Banco Central (BC) e atual Vice-Chairman e Chefe Global de Políticas Públicas do Nubank, Roberto Campos Neto, considera positivo o avanço a passos largos da tokenização dos ativos e da digitalização dos bancos – tema o qual o BC está na vanguarda com o Agenda BC#. Entretanto, não descarta riscos atrelados ao sistema bancário em si por conta desse panorama.

“Agora, o próximo passo é estimular os bancos a tokenizar seus ativos, transformando-os em representações digitais (tokens), para integrar o sistema tradicional ao digital. Esse movimento será decisivo: quem conseguir unir os dois mundos primeiro, o bancário e o cripto, vai sair na frente”, disse Campos Neto em evento do Milken Institute que ocorre nesta segunda-feira, 10, em São Paulo.

“Um desafio, porém, é o risco de desintermediação bancária. Com o avanço das carteiras digitais e stablecoins, parte dos depósitos está migrando dos bancos para esses novos sistemas. Isso reduz a base de captação e pode afetar a oferta de crédito e a política monetária no futuro”, completou o ex-presidente do BC.

Campos Neto considera que o Brasil está relativamente ‘bem posicionado’ para liderar o processo de tokenização, classificando a regulação atual como ‘avançada’.

A sua visão é de que o sistema financeiro deve adotar uma solução que é proposta desde meados de 2018, o conhecido “token de depósito” – um mecanismo que manteria os ativos digitais dentro do balanço das instituições financeiras, permitindo a integração com o sistema bancário tradicional.

Esse token funciona dentro de uma infraestrutura blockchain ou rede distribuída, mas ainda assim é um ativo lastreado em depósitos reais mantidos pelo banco – ou seja, para cada token emitido existe o mesmo valor guardado em reais (ou outra moeda) dentro do banco.

Com essa modernização, transações transfronteiriças devem ser mais simples, abrindo portas para envio e recebimento de remessas de dinheiro de um país para outro com custos reduzidos e uma agilidade substancialmente maior.

Tripé do futuro é IA, organização de dados e Open Finance

Campos Neto ainda categorizou que o futuro será moldado pela interação de três pilares: Open Finance, organização dos dados e inteligência artificial.

“Essa combinação permitirá automatizar pagamentos, segregar garantias, personalizar crédito com base em perfis de risco e reduzir assimetrias de informação. Quanto mais dados disponíveis, mais eficiente será o crédito – e por ventura menor o spread bancário.”

O Vice-Chairman do Nubank frisou que as fintechs têm reduzido spreads de crédito no Brasil e isso deve se intensificar ainda mais.

“Em breve, o cliente terá um marketplace financeiro integrado, com dados de todos os seus bancos, podendo escolher e migrar produtos com poucos cliques”, disse Campos Neto.

Fonte: IstoéDinheiro