Economia
Quarta-feira, 19 de novembro de 2025

Menos EUA e mais China? Como diversificar a carteira com ativos chineses

Diversificação geográfica permite ao investidor aproveitar dinâmicas econômicas diferentes; China é competitiva em setores tecnológicos estratégicos

Diversificar investimentos vai além da estratégia de escolher múltiplas classes e ativos. É preciso expandir a fronteira e abrir a carteira para outros países. Em geral, ações e títulos dos EUA são os primeiros a serem escolhidos. Mas a tese de diversificação que inclui investimentos na China vem chamando a atenção, e pode interessar para alguns grupos específicos de investidores de perfis moderados e arrojados.

    Para investir neste mercado, é importante considerar a volatilidade característica dos países emergentes, além de uma dinâmica econômica específica do país, como o papel expressivo do governo e de empresas estatais na economia, o que direciona recursos e estímulos conforme as prioridades estratégicas, além do controle dos fluxos de capitais estrangeiros e domésticos.

    Além disso, Shahini destaca que a China tem ciclos bastante particulares e, por vezes, descorrelacionados das economias desenvolvidas. “Enquanto grande parte do mundo enfrentava um processo inflacionário no pós-pandemia, a China registrava deflação no mesmo período”, explica.

    “Mesmo com todas essas particularidades, a China é altamente competitiva e até líder global em setores tecnológicos estratégicos, como veículos elétricos, painéis solares e energia renovável, telecomunicações 5G e comércio digital, com grandes empresas e cadeias de produção sofisticadas”, avalia Bruno Shahini, especialista em investimentos da Nomad.

    “É uma das teses mais legais quando você pensa em compor a carteira dos investidores e pensa em outros lugares além dos EUA”, diz Fontes. “Quando a gente olha para a Bolsa americana, a gente vê uma bolsa muito cara, com alguns patamares elevados em relação ao preço e lucro. Quando olhamos para a China, vemos um valuation em uma média histórica mais palatável”, analisa Marília Fontes, sócia-fundadora da Nord Investimentos.

    Motor de crescimento mundial

    Há muitos anos, a China vem sendo o motor de crescimento mundial e dos emergentes, expandindo a economia com base na construção civil e investimentos de infraestrutura. Nos últimos tempos, essa dinâmica vem se sofisticando. Com um crescimento de 5% ao ano, patamar elevado comparado a outros países, a China também se destaca no setor de tecnologia.

    “Quando a gente fala de data center, de tudo que a gente vai precisar em termos de energia para a nova economia, como energia solar, baterias, a China está, com certeza, saindo na frente”, afirma Fontes.

    A China é o país que tem o maior parque de energia elétrica do mundo, batendo de longe os EUA, o que faz o custo da energia ser muito barato no país asiático. Outro ponto da economia chinesa são as commodities. Segundo Fontes, os preços ao redor do mundo também são impactados pela capacidade chinesa de produção agrícola.

    Na análise de Fontes, a cultura voltada ao trabalho na China ajuda a impulsionar a economia, em detrimento dos EUA, que está valorizando mais o intervencionismo (“first state”) na política atual de Donald Trump.

      Índices globais com países emergentes

      Considerando este contexto, o investidor pode começar a olhar para os investimentos na China por meio de portfólios globais, que costumam utilizar como referência índices amplos de mercado acionário. Um exemplo, segundo Shahini, é o MSCI All Country World Index (ACWI), que combina economias desenvolvidas e emergentes para representar quase todo o mercado acionário global.

      A composição deste índice reflete o peso relativo de cada mercado no mundo: os Estados Unidos respondem por cerca de 60%, seguidos por Japão (5%), Reino Unido (3%), China (2,5%), Índia (quase 2%) e o Brasil (próximo de 0,5%). O restante está distribuído entre dezenas de outros países de diferentes regiões.

      Esses pesos funcionam como uma referência “neutra” para o investidor, que pode se posicionar acima ou abaixo em determinada geografia conforme sua estratégia. “Os benchmarks globais servem como um tipo de bússola para o investidor estruturar e calibrar seu portfólio visando a diversificação de geográfica”, explica.

      Já índices amplos de mercados emergentes, como o MSCI Emerging Markets (EM), colocam a participação atual da economia chinesa em torno de 25% — o que pode ser excessivo para alguns investidores, segundo Shahini.

        Como investir na China

        Além dos índices globais que incluem a China, outra opção são os ETFs que, por serem negociados em Bolsa, são ativos mais acessíveis, oferecem diversificação por meio de uma estrutura de fundo, contam com regulação que garante segurança e possuem boa liquidez assegurada pela atuação de market makers, aponta Shahini.

        Ele cita que os BDRs também são uma alternativa, mas com opções mais limitadas, custos mais altos e liquidez reduzida. No caso dos ADRs, há a limitação da diversificação, pois o investidor precisa comprar ações individuais ou montar um portfólio que exige maior acompanhamento. Além disso, muitas ADRs são negociadas apenas no mercado de balcão, tornando mais difícil e custoso para o investidor construir sua posição devido à ausência de liquidez.

        Marília Fontes cita algumas alternativas para esses investimentos, como BDR da Alibaba (BABA34) e do Baidu (BIDU34), além de BDRs de ETFs (Fundos de Índice) que replicam o mercado chinês, como o XINA11 e o BCHI39.

        A Kinea também tem uma visão positiva do mercado chinês. No relatório “Mistérios da Chinatec”, a Kinea destaca nomes como a Xiaomi, com lançamentos que rivalizam o iPhone e avanços também em veículos elétricos, e nomes de semicondutores, como Huawei e mais nomes emergentes. A gestora cita, nessa frente, empresas como Cambricon, Biren, Moore threads, MetaX, ASICs da Alibaba e Baidu.

        Fonte: InfoMoney