Economia
Sexta-feira, 3 de outubro de 2025

Lula levará empresários a Ásia enquanto tenta confirmar encontro com Trump

Assim como presidente americano, Lula foi convidado a participar de cúpula do Sudeste Asiático

Depois de defender o multilateralismo e a soberania na Assembleia Geral da ONU, há uma semana, em recado aos Estados Unidos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva viajará à Ásia para buscar novos mercados a produtos brasileiros. Em meio à aplicação de uma sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros pelo governo americano, Lula embarca no fim do mês para a Malásia, onde participará de uma reunião promovida pela Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean).

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Além da participação no evento, integrantes do governo brasileiro tentam transformar Kuala Lumpur como possível palco do aguardado encontro entre Lula e o presidente americano Donald Trump. Ambos foram convidados para o evento, juntamente com outros líderes de países da União Europeia, além da China, da Índia, da Rússia e do Japão. Se confirmada, a reunião abrirá portas do governo dos EUA para uma negociação que elimine a sobretaxa de 50% aplicada a produtos brasileiros pela Casa Branca.

O convite para a cúpula da Asean foi feito em julho ao presidente pelo primeiro-ministro malásio, Anwar bin Ibrahim. Será a primeira vez que um mandatário brasileiro participará do evento.

Formada por Indonésia, Malásia, Filipinas, Singapura, Tailândia, Brunei, Vietnã, Laos, Mianmar e Camboja, a Asean tem 680 milhões de habitantes, cresce rapidamente e apresenta evolução tecnológica acelerada. Com PIB agregado de US$ 4 trilhões, de fosse um país, seria a quarta maior economia do mundo, atrás apenas dos EUA, da China e do Japão. Além disso, nas duas últimas décadas, as nações do bloco asiático mantiveram uma taxa de crescimento econômico sustentado, em torno de 5% ao ano.

De janeiro a agosto de 2025, o Brasil registrou um superávit de US$ 7,3 bilhões com a Asean. As exportações somaram US$ 5,2 bilhões, com destaque para óleos combustíveis, petróleo, farelo de soja e milho. Do total de US$ 7,9 bilhões importados da região, transistores, válvulas, equipamentos de telecomunicações e óleos vegetais lideram o ranking de produtos.

De acordo com interlocutores do governo Lula, entre os desafios do Brasil está eliminar barreiras não tarifárias aplicadas a produtos agropecuários. Outro é diversificar a pauta exportadora, vendendo mais aviões civis e militares, produtos do setor de defesa e máquinas e equipamentos voltados principalmente à produção de biocombustíveis, como o etanol.

Para Marcos Caramuru, ex-embaixador do Brasil na Malásia e na China, todas as frentes que podem ser abertas possuem, agora, valor adicionado, devido à atual conjuntura. Ele ressalta que os países da Asean têm uma tradição de baixas tarifas e reduzida regulação. Além disso, estão muito integrados à China.

“Para ser competitivo na Asean, é preciso oferecer o que os países-membros não produzem ou se beneficiar de tarifas muito reduzidas, o que ocorre no contexto de acordos de livre comércio. Os produtores de carne, que sofrem com tarifas elevadas no mercado americano, estão abrindo portas no Sudeste Asiático. É hora de dar-lhes apoio renovado na região”, afirma Caramuru.

A previsão é que, antes de ir para a Malásia, Lula desembarque, no dia 23 de outubro, em Jacarta, para retribuir a visita do presidente da Indonésia ao Brasil, Prabowo Subianto, em julho deste ano. O Mercosul, que fechou um acordo comercial com Singapura recentemente, negocia um tratado do gênero com os indonésios. A ideia é que o bloco sul-americano também se aproxime da Asean, assim como ocorreu com a União Europeia e a Associação Europeia de Livre Comércio (Efta).

Lula deve chegar a Kuala Lumpur no dia 25, onde será recebido com honras de chefe de Estado pelo primeiro-ministro malásio, Anwar bin Ibrahim. Entre os interesses do Brasil naquele país, estão uma parceria na área de semicondutores e a conquista do mercado halal — em que o produto ou o serviço foi produzido em conformidade com os preceitos islâmicos. A Malásia tem investimentos importantes no setor de petróleo e gás, com a presença da Petronas, a estatal petrolífera do país, e da Yinson, empresa global com atividades em plataformas de produção, armazenamento e descarga.

Uma das regiões mais cortejadas do planeta, a Asean terá sua cúpula de líderes no dia 26 de outubro. O presidente brasileiro deverá defender o estreitamento das relações com o bloco.

Kuala Lumpur é uma das opções de palco do encontro entre Lula e o presidente dos EUA, Donald Trump. Na última terça-feira, depois de ouvir o discurso do brasileiro na ONU, em defesa da soberania nacional, Trump anunciou, em sua fala, que iria se reunir com Lula nesta semana. Os governos dos dois países devem definir a data e o local da conversa, caso seja presencial.

O gesto de Trump surpreendeu e trouxe alívio ao governo Lula, mesmo que temporário. Até o início da semana passada, cidadãos brasileiros eram alvos de sanções devido ao julgamento e condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro a 27 anos de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Entre os alvos principais estavam o ministro da Corte, Alexandre de Moraes, e sua esposa, Viviane.

Ambos estão proibidos de fazer negócios e operações financeiras com empresas americanas e tiveram seus vistos para entrar nos EUA cancelados.

Fonte: Agência O Globo