
Natália Resende, secretária de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística de São Paulo, afirmou À reportagem que o estado “está preparado” para as possíveis consequências da crise hídrica que o atinge.
No último dia 4, o Sistema de Mananciais da Região Metropolitana, que abastece a cidade de São Paulo, operava com 36,2% de sua capacidade menor marca desde 2015, quando os reservatórios chegaram a contar com só 8,5% de seu volume total.
Em entrevista na quinta-feira, Natália afirmou que o volume de esgoto despejado no rio Tietê deve cair pela metade até 2029 e antecipou outras iniciativas.
A secretária defendeu que a questão ambiental seja vista como “prioridade” e não seja encarada de forma isolada, mas sim em sintonia com infraestrutura, logística e outras áreas. “O meio ambiente tem que estar em tudo”, resumiu.
Natália ainda negou a intenção de ser candidata em 2026 e disse que o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) deve disputar a reeleição. De acordo com as últimas pesquisas, ele lidera a disputa para reeleição e empata com Lula (PT) no 2º turno na corrida pela presidência.
PREVENÇÃO CONTRA SECA
Com as chuvas abaixo do esperado em 2025, a secretária disse que trabalha de forma preventiva para evitar escassez no abastecimento de água. Além disso, destacou os investimentos em drenagem para resolver a questão dos alagamentos em locais do estado com histórico do problema como o bairro Jardim Pantanal, que sofreu com enchentes em fevereiro.
A Sabesp está acelerando muitas obras. Isso é importante para dar resiliência não só agora, mas pensando até 2060, que é quando se encerra o contrato. Está atuando também na melhoria operacional, para reduzir perdas d’água. Porque a gente sabe que o cenário de chuvas foi abaixo do esperado e porque a gente quer sempre atuar na prevenção. Estamos olhando cada bacia do estado para nos prevenirmos e não deixarmos acontecer eventos de escassez.
Por isso, ficamos tranquilos em dizer que o estado está preparado, está organizado, tem governança, plano, investimento e os atores muito bem coordenados. Estamos olhando também chuva, drenagem, que é uma coisa sobre a qual estamos tentando ajudar os municípios, para considerar os dois extremos. Porque tem muitas cidades que passam por problema de seca e, meses depois, têm problema de inundação.
SABESP PRIVATIZADA NÃO “ENXUGA MAIS GELO”
Principal articuladora da privatização da Sabesp, finalizada em julho de 2024, Natália defendeu a transação que teve sua execução criticada pela oposição em 2023. Segundo ela, a transferência do controle acionário da empresa para a iniciativa privada acelerou investimentos que devem viabilizar a universalização dos serviços de água e esgoto no estado até 2029.
Quando eu olho para trás, eu penso: ‘Ainda bem que a gente fez esse processo’. Caso contrário, ia ser um desafio alcançar a universalização até 2033, que era o prazo antigo. Várias áreas estavam fora [da cobertura da Sabesp]. E cada vez mais vemos isso, principalmente em áreas rurais. O pessoal que mais precisa estava fora do contrato [que foi repactuado com os municípios por causa da privatização].
Essa parte do saneamento básico é muito importante para a gente, porque ela precisava mesmo de um olhar diferente. O olhar que o governador deu, de quem a gente está seguindo a diretriz, é muito de ter essa inovação com segurança jurídica, com contratos bem robustos, para não ficar mais só enxugando gelo. Se você pegar as publicações sobre o setor, tem lugares em que a universalização só vai ser alcançada em 2070, se nada de diferente for feito.
TIETÊ MAIS LIMPO
A secretária afirmou que, com as obras em curso, o despejo de esgoto no rio Tietê cairá pela metade até 2029. Segundo ela, já será possível ver melhora nos afluentes antes dessa data. Em 2023, a estimativa era de que 22 mil piscinas olímpicas de esgoto não tratado eram despejadas no rio todos os meses.
Por outro lado, Natália disse que conter a poluição difusa (formada pelo lixo jogado no rio) é a parte “mais difícil” da despoluição.
Vamos reduzir em 54% a carga orgânica do Tietê quando concluirmos a universalização, até 2029. E, antes, já veremos melhoria dos afluentes. Porque quando você tira [o esgoto lançado] por essas coletas, por esses 2 milhões de conexões, e começa a levá-las para as estações de tratamento de esgoto, elas param de cair nos afluentes. Então, os afluentes vão começar a ficar melhores, e o corpo do Tietê também. Para o paulista, para o paulistano, isso é muito simbólico.
Qual o nosso outro desafio no Tietê? Tem o esgoto e tem a poluição difusa. Essa, para mim, é a parte mais difícil, porque envolve uma coisa que estamos todos os dias intensificando, tentando muito, que é educação ambiental, conscientização. Porque é aquela poluição que chega de vários locais, chega de quem joga uma latinha no rio, e isso aumenta a carga orgânica do rio também.
SERVIÇOS AMBIENTAIS
A secretária informou que o governo de São Paulo deve lançar em breve um programa para que empresas privadas façam o replantio de 38 mil hectares de área verde localizados em unidades de conservação, em troca de créditos de carbono.
Devemos lançar programas de serviço ambiental vinculados a crédito de carbono, crédito de biodiversidade, um contrato de longo prazo, para dar segurança jurídica para o investidor fazer a restauração. Dentro das nossas unidades de conservação, já fizemos o mapeamento das áreas. Tem 38 mil hectares que são passíveis de restauração. Pegamos as nossas unidades de conservação e vimos o que precisaria restaurar dentro delas, o que ajuda muito na parte de estratégia climática também, como um todo. São locais que perderam vegetação por diversos fatores.
Só de estradas vicinais, tem 220 mil quilômetros no estado. Estamos investindo muito em drenagem nessas obras. Porque, quando eu faço uma rodovia com uma drenagem boa, isso ajuda, inclusive, a não assorear os rios o material não carreia para os rios. Então ajuda na questão de desassoreamento também.
FUTURO DE TARCÍSIO: “ESTOU QUIETINHA”
Apontada como um dos principais nomes do secretariado de Tarcísio de Freitas (Republicanos), Natália afirmou que não tem interesse em se candidatar nas eleições de 2026. Além disso, disse que o governador “está trabalhando para a reeleição”, porque se interessa em ver o resultado de obras em curso nesta segunda-feira (08).
Nos bastidores, ele é tido como um dos mais viáveis candidatos da direita à Presidência, em função da inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Na última semana, o governador esteve em Brasília e foi um dos principais articuladores da movimentação por um novo projeto de anistia que segue avançando no Congresso durante o julgamento de Bolsonaro no STF.
Estou quietinha. Acho que dessa forma [sendo secretária] eu consigo ajudar mais.
Ele [Tarcísio] está trabalhando para a reeleição. O Tarcísio tem uma preocupação com o resultado e, muitos deles, ele quer ver também. Por exemplo, a questão da universalização [da oferta de água e coleta de esgoto] até 2029. Tem alguns [trabalhos] que estamos fazendo cujo resultado a gente não veria nem no segundo mandato. Tem coisas não só de infraestrutura, mas de forma geral que eu sinto mesmo que ele quer ver, ele quer estar presente. Também por isso, ele deve trabalhar com a reeleição.
Fonte: FolhaPress