No Mundo
Quinta-feira, 28 de agosto de 2025

Rússia mata 15 e atinge missão da UE em Kiev

As forças da Rússia lançaram nesta madrugada de quinta (28) o mais mortífero ataque contra Kiev desde que Donald Trump tentou pessoalmente colocar Vladimir Putin e Volodimir Zelenski frente a frente. Ao menos 15 pessoas morreram e 38 ficaram feridas, e a missão da União Europeia na capital ucraniana foi atingida.
A ação foi maciça, envolvendo 598 drones de ataque e iscas para defesa aérea e 31 mísseis, incluindo modelos hipersônicos Kinjal, balísticos Iskander-M e de cruzeiro Kh-101 e Kalibr. A grande maioria deles foi usada em Kiev, mas houve ataques a outras 12 regiões, que ficaram novamente sem luz.
“A Rússia escolhe mísseis balísticos em vez da mesa de negociação”, escreveu Zelenski no X, pedindo mais sanções contra os adversários, que invadiram seu país em 2022. “Ela prefere continuar a matar em vez de acabar com a guerra.”
O Ministério da Defesa da Rússia afirmou, como de praxe, que seus alvos eram militares e ligados à infraestrutura energética da Ucrânia. Já o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov: “Os alvos estão sendo destruídos, a operação militar especial continua. Ao mesmo tempo, a Rússia segue interessada em continuar o processo de negociação para alcançar nossos objetivos por meios diplomáticos”.
Vídeos de moradores mostraram que uma fábrica de drones foi atingida, além de áreas residenciais. Kiev disse ter derrubado 589 dos alvos, mas não disse quantos deles eram os mais letais mísseis. Houve incêndios generalizados e grande destruição. Em Vinnitsia, no oeste do país, 60 mil pessoas ficaram sem energia elétrica, segundo a estatal do setor. Um entroncamento ferroviário também foi atingido.
Na via contrária, também houve violência. Pela primeira vez em meses, um navio russo foi atingido no conflito. Segundo imagens divulgadas pela inteligência militar de Kiev, uma corveta da classe Buian-M que estava no mar de Azov foi alvejada por um drone voador.
Ela é um pequeno navio empregado para lançar mísseis de cruzeiro Kalibr e supersônicos antinavio Oniks. Segundo Kiev, houve alguns danos e ela foi impedida de participar do ataque, algo que Moscou não comentou, mas que foi confirmado à reportagem por um analista militar russo.
O Ministério da Defesa da Rússia disse ter derrubado 102 drones em sete regiões, sem revelar o total lançado. Relatos em redes sociais e as Forças Armadas da Ucrânia dizem que o foco da ação foi novamente refinarias russas, com duas delas sendo atingidas no sul do país.
Nas última semanas, esse tipo de ação tem levado à falta de gasolina em algumas regiões russas, como no Extremo Oriente. Um ataque a oleoduto também interrompeu o fluxo de exportação para a Hungria e a Eslováquia, países da Otan [aliança militar ocidental] com relações cordiais com Moscou.
O governo renovou nesta semana o banimento à venda de gasolina ao exterior, devido ao risco de a crise se ampliar.
No campo simbólico, o ataque à capital atingiu a missão da União Europeia na cidade e a sede do British Council, órgão de promoção de interesses britânicos no exterior. Ali, não houve feridos, segundo a Comissão Europeia,
Sua presidente, Ursula von der Leyen, pediu à Rússia para “parar ataques indiscriminados e se unir a negociações por uma paz justa e duradoura”. O chefe do Conselho Europeu, António Costa, se disse “horrorizado com mais um ataque mortal” do Kremlin.
Já o presidente francês, Emmanuel Macron, condenou Moscou, enquanto o premiê britânico, Keir Starmer, disse que “o derramamento de sangue tem de parar”. Outros líderes europeus também se manifestaram, elevando a pressão para Von der Leyen aplique novas sanções, talvez secundárias contra aliados do Kremlin.
Foi um dos maiores ataques de toda a guerra, e o pior desde que Trump abandonou o ultimato que havia feito a Putin para aderir a um cessar-fogo e lançou uma ofensiva diplomática. Primeiro, convidou o russo para uma cúpula no Alasca, aderindo a vários de seus pontos de vista.
O principal foi o fim da exigência de uma trégua imediata para daí negociar. O russo sinalizou aceitar debater algum tipo de proteção dos EUA a Kiev no caso de paz, só para depois voltar atrás e exigir poder de veto sobre as tais garantias de segurança, que viraram ponto de negociação tão crucial quanto a perda territorial inevitável para os ucranianos.
Como Zelenski já disse, não há como a Ucrânia derrotar a Rússia militarmente, ainda que Putin tenha fracassado no seu intento estratégico inicial, que era dobrar o vizinho.
Em campo, o tempo favorece o russo, que tem avançado para a conquista da região de Donetsk, no leste, e disse a Trump que poderia congelar o restante das linhas de batalha se Kiev a cedesse sem luta. Nesta quinta, mais uma cidadezinha caiu para Moscou.
Três dias depois da cúpula Trump-Putin, foi a vez de o americano receber na Casa Branca o ucraniano e seis líderes europeus. Acabou o encontro anunciando uma reunião entre o líder do Kremlin e Zelenski, que vem sendo negado a cada dia pelos russos, alegando inclusive a ilegitimidade do rival para assinar acordos, dado que seu mandato expirou no ano passado.
Trump disse que, se fracassar na sua tentativa, deverá impor sanções à Rússia em até duas semanas, provavelmente na danosa forma de tarifas de importação punitivas a países que compram petróleo e derivados russos. A União Europeia já disse estudar algo parecido.
Na quarta (27), a Índia começou a pagar 50% de sobretaxa em suas exportações aos EUA por ser a segunda maior compradora de óleo cru de Moscou. Se implantada, a medida atingirá principalmente a China, mas também países como o Brasil onde 60% do diesel consumido é russo.
Mas ele também afirmou que poderá deixar o conflito, sugerindo o fim de apoio a Kiev ainda que ele tenha costurado um mecanismo no qual países europeus pagam por armas novas americanas a serem enviadas aos ucranianos.

Fonte: FolhaPress