
A tarifa de 50% imposta pelo governo americano sobre produtos brasileiros começou a valer na quarta-feira,6, e atinge diretamente produtos como café, frutas, carne bovina e pescados, que terão suas exportações aos Estados Unidos afetadas. Com isso, muitos consumidores estão se preparando para uma eventual queda nos preços desses alimentos no mercado doméstico, uma vez que pode ter uma maior oferta interna se deixarem de ser exportados.
A sobretaxa não afeta o consumidor brasileiro diretamente, já que será paga por empresas americanas que comprarem produtos feitos no Brasil. Apesar disso, os impactos podem chegar indiretamente, segundo Rogério Marin, CEO da Tek Trade, especialista em comércio exterior e presidente do Sinditrade (Sindicato das Empresas de Comércio Exterior do Estado de Santa Catarina).
Em 2024, o comércio total entre Brasil e EUA atingiu cerca de US$ 91,5 bilhões, dos quais o Brasil exportou US$ 42,3 bilhões e importou US$ 49,1 bilhões, resultando em superávit de US$ 6,8 bilhões para os EUA. Sem esse mercado, os exportadores precisarão encontrar novos destinos para os produtos o que deve gerar pressão sobre a oferta doméstica.
Impactos nos preços internos por setor
Pescados
Cerca de 70% de tudo o que o Brasil exportou em pescados em 2024 teve como destino os EUA, somando US$ 240 milhões. A tilápia, sozinha, responde por 90% dessas exportações. Com a tarifa de 50%, o excedente deve ser rapidamente redirecionado ao mercado interno, que já consome cerca de 75% da produção total de tilápia do país.
Outros produtos exportados para os EUA são a lagosta e o camarão. Como o peixe é altamente perecível e difícil de estocar, a tendência é de queda nos preços no curto prazo, com aumento da oferta no Brasil.
Frutas
Estima-se que 77 mil toneladas de fritas estejam ameaçadas pelo tarifaço, incluindo manga, uva e frutas processadas como o açaí — produto típico que não deve ser totalmente substituído no mercado internacional.
A Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas (Abrafrutas) projeta uma redução de até 90% nas exportações para os EUA. O mercado interno e a União Europeia são alternativas, mas com capacidade limitada de absorção. A consequência já começa a aparecer: os preços da manga no atacado caíram 5% em julho, tendência que deve se intensificar nos próximos meses.
Carne bovina
A carne bovina também sente os impactos. Em 2024, o Brasil enviou 532 mil toneladas do produto aos Estados Unidos, o que representou 16,7% do total exportado pelo setor e gerou US$ 1,6 bilhão. Com o aumento das tarifas, as exportações podem cair quase pela metade, gerando prejuízos estimados em US$ 1 bilhão, segundo a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec).
No curto prazo, a carne tende a baratear no mercado doméstico. A arroba do boi gordo já acumula queda de 8% em julho, movimento que deve refletir no varejo entre agosto e setembro. No entanto, a tendência pode se reverter a médio prazo: com abates menores diante da redução das exportações, os preços internos podem voltar a subir.
Café
O café brasileiro tem 34% de participação no mercado norte-americano e também sofre os efeitos da tarifa. A produção voltada à exportação pode ser reduzida em até 30%, de acordo com a Confederação Nacional da Agroindústria e o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).
Inicialmente, a tendência é de estabilidade dos preços. Mas, caso o volume não encontre novos compradores externos e acabe direcionado ao mercado interno, a oferta maior pode derrubar os preços a médio prazo. Vale lembrar que o café já acumula queda superior a 30% no mercado internacional em 2024.
Fonte: IstoéDinheiro