Economia
Sexta-feira, 25 de julho de 2025

Setor privado do Brasil quer citar China nas negociações com os EUA

Abordagem parte do princípio de que as tarifas têm, sim, um contexto mais político e geopolítico do que econômico

Empresários que participam das conversas com o governo federal e vão aos Estados Unidos negociar com autoridades americanas querem destacar o risco de a China ampliar sua influência no Brasil, caso a tarifa de 50% sobre produtos brasileiros entre em vigor.

A abordagem parte do princípio de que as tarifas têm um contexto mais político e geopolítico do que econômico. Na carta em que anunciou a tarifa, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deu um tom político ao citar o ex-presidente Jair Bolsonaro.

Além disso, em outras ocasiões, Trump já ameaçou sobretaxar países do Brics ou que adotem medidas “antiamericanas”.

A estratégia, no entanto, pode enfrentar obstáculos, já que nem o setor privado, nem os senadores envolvidos têm acesso direto à Casa Branca.

A ideia dos produtores é justamente mostrar a empresas e autoridades americanas que, se o objetivo das tarifas é afastar o Brasil de discursos ligados à desdolarização, o efeito pode ser o oposto.

Hoje, o Brasil está mais próximo do que nunca da China nas relações comerciais, e o Brics cresceu nos últimos anos em número de países-membros.

Há pontos que podem ser levados aos americanos, segundo empresários ouvidos pela CNN.

Autoridades brasileiras do setor mineral e representantes do governo dos Estados Unidos se reuniram, nesta quarta-feira (23), para debater um possível acordo entre os países na área dos minerais críticos e a tarifa de 50%. A agenda foi solicitada pelos americanos.

Hoje, esse mercado é dominado quase exclusivamente pela China. Reduzir a dependência em relação a Pequim tem sido uma das prioridades da nova gestão Trump.

A China detém mais de 80% da capacidade global de produção de células de bateria, além de concentrar mais da metade do processamento mundial de lítio e cobalto, segundo dados da Agência Internacional de Energia.

Um dos principais argumentos do Brasil na mesa de negociação com os EUA será justamente a dominância chinesa nesse mercado.

No caso do agro, que responde por três dos dez produtos mais exportados do Brasil aos EUA, a estratégia segue a mesma linha. O agronegócio brasileiro tem estreitado como nunca os laços com a China, principal destino das exportações do setor.

Durante a visita oficial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a Pequim, em maio, os países firmaram 20 acordos bilaterais, seis deles ligados diretamente ao setor agropecuário.

Além dos acordos governamentais, o setor privado também deu um passo adiante na estratégia de aproximação.

A Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes) e a ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal) inauguraram um escritório conjunto em Pequim.

Fonte: CNN