
Imagine o cardápio de um restaurante descolado baseado no caderno de receitas da vovó. Agora multiplique as avós. Assim é o menu da Shoshana, no Bom Retiro, que reúne receitas judaicas de países da Europa Central e do Leste.
Mas esse aconchego é para iniciados. Os nomes dos pratos são difíceis, os preparos são pouco conhecidos, então melhor ir sabendo o que esperar -e o que pedir.
À noite, o clima é de botecagem. Música judaica ao vivo, drinques colorindo as mesas, clientela acostumada à cozinha da iídiche mama -a mãe judia.
A atendente sugere o keará (R$ 180). Diz que é uma espécie de menu-degustação que serve duas pessoas. Parece perfeito para quem vai escrever uma crítica gastronômica. Mas não é.
O que chega à mesa são entradinhas. Picles, homus, purê de abóbora, borscht (sopa de beterraba), caldo de galinha, gefilte fish (bolinho de peixe) e mish-mash (patê de fígado de galinha e ovo cremoso). De prato mesmo, só o shpondre, costela bovina com massa puxada no “shmaltz” (gordura de frango). Vale se a ideia for beliscar, não jantar. Para acompanhar, escolha cerveja ou um drinque como negroni sbagliato (R$ 40), com espumante no lugar do gim.
Mais ousado, o blady miriam (R$ 38) é versão de bloody mary com picles de beterraba e vodka infusionada em shmaltz. Mas “shmaltz” não é gordura de frango? Pois é. Tem gosto de canja fria e não cai bem com um menu já trabalhado em notas de galinha.
Se a ideia for conhecer pratos emblemáticos, aposte nas porções para dividir. Destaque pros latkes (panquecas fritas de batata; R$ 39) e varenikes (massa recheada de batata e cebola; R$ 42). Ambos em porção para seis.
Mas é a mamaliga (polenta romena com costela; R$ 59) que transforma em comida um abraço de vó. Cremosíssima, desmancha na boca. Pena que a mizeria (salada de pepino e iogurte) destoa e esfria o abraço.
Quem vai no almoço, tem também a possibilidade de pedir o PF, que muda de tempos em tempos. Na ocasião da visita, foi o plov arroz com carne e legumes (R$ 32 só o prato ou R$ 45 com saladinha e bebida). Não emocionou.
Melhor(e também agradável aos paladares avessos a novidades) é o shnitzel (filé empanado de frango, R$ 53; ou de berinjela, R$ 50), que chega sequinho, com a apetitosa salada de batatas.
As sobremesas dão um show. O pudim (R$ 22) segue a receita secreta da antiga dona, Shoshana Baruch. Que agora não é mais tão secreta. A atendente revelou, mas pediu sigilo. “A gente só conta pra quem come o pudim”.
A babka (R$ 30), bolo trançado de chocolate numa cama de caramelo salgado, é pura poesia. A laranja do kibutz (R$ 28) é delicada e contrasta texturas e sabores com a farofa doce de bolacha de azeite e alecrim
SHOSHANA DELISHOP
Avaliação Bom
Onde R. Correia de Melo, 206, Bom Retiro, região central
Instagram @shoshana_delishop
Fonte: FolhaPress