No Mundo
Domingo, 16 de junho de 2024

Por que os seguros de automóveis estão tão caros nos EUA?

Relatório indica que o preço aumentou mais de 22% no ano até abril nos EUA

Se o seu carro quebrou dois anos atrás, é provável que isso tenha se tornado um problema maior do que você esperava.

A causa disso foi uma confluência de fatores: a pandemia interrompeu as cadeias de abastecimento, elevando os preços dos automóveis usados a níveis históricos e dificultando a obtenção de peças de reposição; motoristas sem prática que saíram do confinamento causaram acidentes mais graves; e avanços tecnológicos, como sensores de movimento, elevaram os preços até mesmo das peças mais simples, como um para-lama ou um aro.

De lá para cá, as coisas melhoraram para os proprietários de automóveis – exceto no que diz respeito às apólices de seguro. As seguradoras de automóveis ainda estão aumentando muito os preços: um relatório divulgado pelo Bureau of Labor Statistics indica que o preço do seguro automotivo aumentou mais de 22% no ano até abril, a maior elevação desde a década de 1970. Segundo cálculos do Insurance Information Institute, um grupo comercial, o prêmio médio de 12 meses para seguro automotivo foi US$ 1.280 em 2023, os números mais recentes do setor.

Como funciona a regulamentação dos seguros?



As seguradoras são regulamentadas pelos estados, não pelo governo federal. Em todos os 50 estados, as seguradoras devem seguir regras específicas que regem como e quando podem aumentar o preço das suas apólices.

As leis dos estados são bastante semelhantes e exigem que as seguradoras peçam autorização aos reguladores para fazer os aumentos. As seguradoras precisam justificar, com dados de suporte, que o aumento é necessário e que não terão lucros excessivos com a reavaliação das apólices. Conhecido no ramo como “declaração de taxas”, este requerimento envolve uma burocracia complicada que pode levar semanas ou meses para ser concluída.

Os dados devem incluir uma análise das tendências de perdas dos últimos dois anos, juntamente com projeções de custos de reposição e lucros. Se for determinado que as seguradoras estão obtendo lucros excessivos, os reguladores podem exigir que elas reembolsem os clientes.

A ameaça de reembolso não é vazia. De acordo com a agência de classificação de seguros AM Best, em 2020, durante o auge dos lockdowns da pandemia, quando muitos carros permaneceram parados, as seguradoras devolveram quase US$ 13 bilhões aos clientes por meio de dividendos, cheques de reembolso e reduções de prêmios para renovações de apólices.

A Califórnia foi um dos estados mais ativos: as seguradoras devolveram US$ 3,2 bilhões aos clientes em 2020.

Ricardo Lara, comissário de seguros do estado, “orientou o departamento a fazer uma análise muito minuciosa para garantir que os motoristas não fossem cobrados a mais”, disse Michael Soller, porta-voz do Departamento de Seguros da Califórnia. Entretanto, a partir do final de 2021, o estado se tornou o exemplo de um novo problema: um acúmulo épico de pedidos, por parte das seguradoras, para aumentos de preços.

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Como um enorme gargalo burocrático explica o aumento dos preços



A pandemia interrompeu a maior parte da atividade econômica, o que prejudicou a capacidade das seguradoras de usar o passado como guia para prever o futuro. Os preços ficaram congelados durante meses. As empresas não submeteram novos registros de taxas aos reguladores por um longo período, até que o fizeram de uma só vez, no segundo semestre de 2021.

Os preços dos carros e das peças dispararam e os motoristas voltaram às estradas e bateram a torto e a direito após passarem um tempo sem dirigir.

“Passamos de um período de rentabilidade incrível para um de enormes prejuízos num piscar de olhos”, disse Tim Zawacki, analista especializado em seguros da S&P Global Market Intelligence. Nenhuma empresa estava disposta a correr o risco de oferecer prêmios mais baixos na esperança de conquistar novos negócios, ponderou.

“Todos estavam juntos para pressionar por aumentos nas taxas.”
Na Califórnia, o estado mais populoso dos EUA, as seguradoras estavam sendo prejudicadas por sinistros caros.

Mas o regulador do estado só começou a aprovar os pedidos de aumento das seguradoras perto do final de 2022. O gargalo aumentou tanto que o tempo médio de espera pelas aprovações superou, em vários meses, o das apólices semestrais que as seguradoras queriam comercializar.

“Quando os reguladores estaduais atrasam ou impedem que as empresas precifiquem os seguros com precisão, as seguradoras podem não conseguir absorver os custos”, explicou Neil Alldredge, presidente da Associação Nacional de Empresas de Seguros Mútuos, um grupo comercial que representa muitas seguradoras residenciais e de automóveis. A pressão pode levar as seguradoras a deixarem alguns estados ou a interromperem algumas linhas de negócios, acrescentou. “Ambientes regulatórios ineficazes em estados como a Califórnia, Nova Jersey e Nova York, juntamente com a inflação e o aumento das perdas catastróficas, resultaram em menos opções de seguradoras e custos mais elevados para os consumidores”, analisou.

A Califórnia ainda é o estado mais lento do território continental dos Estados Unidos em termos de registros de taxas de seguro de automóvel, levando em média 219 dias para aprovar uma proposta de preço para uma apólice automotiva pessoal, de acordo com dados da S&P fornecidos por Zawacki.

“Lutamos pelos consumidores ao analisar todos os dados, não apenas o que as seguradoras nos fornecem”, disse Soller, porta-voz do Departamento de Seguros da Califórnia.

Quanto aumentarão os prêmios?



Em 2021, os negócios de automóveis pessoais das seguradoras começaram a registar prejuízos. Segundo David Blades, analista da AM Best, o setor perdeu US$ 4 bilhões em 2021, US$ 33 bilhões em 2022 e cerca de US$ 17 bilhões no ano passado.

Muitas empresas ainda precisam aumentar os preços para compensar aqueles anos ruins, segundo Dale Porfilio, diretor de seguros do Insurance Information Institute, o grupo comercial.

No ano passado, as seguradoras aumentaram os prêmios para automóveis em 14%, o maior aumento em mais de 15 anos. A melhor estimativa de Porfilio é que os prêmios aumentarão outros 13% este ano.

“Vai demorar para todas as empresas elevarem suas taxas até onde desejam”, analisou.

Fonte: InfoMoney