Economia
Sexta-feira, 26 de julho de 2024

Por que o mercado erra tanto as projeções do PIB do Brasil? Teses surgem entre economistas

Estimativas têm subestimado o potencial de crescimento do país; consenso de expansão para 2023 quase triplicou desde o início do ano

Com frequência, o mercado tem errado nas previsões de crescimento do Brasil, o que tem deixado os economistas intrigados. A última vez em que as estimativas para o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil no início do ano estiveram acima do que realmente foi registrado ocorreu em 2020, quando a pandemia abalou a economia global. Desde então, as projeções de bancos, corretoras e fundos de investimento têm consistentemente subestimado o potencial de expansão do país.

Em 2022, os economistas previam um crescimento de apenas 0,35%, o que representava menos de um quinto do crescimento real que o país alcançou. Agora, em 2023, parece que a história se repete. No início do ano, as previsões indicavam um aumento de 0,8% no PIB brasileiro, mas diante de números recentes surpreendentemente positivos, o consenso do boletim Focus já está em 2,31%. Esse ajuste significativo nas expectativas ocorreu após o anúncio do crescimento de 1,9% no PIB do primeiro trimestre, superando as expectativas e registrando um aumento de 4% em relação ao mesmo período do ano anterior. Essa surpresa foi impulsionada pelo setor agropecuário, que cresceu impressionantes 21,6%, devido a colheitas recordes de grãos.

Luciano Sobral, economista-chefe da Neo Investimentos, explicou que a dificuldade em prever o crescimento do agronegócio está relacionada à sua forte dependência do clima. O mercado confia nos dados da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), mas algumas áreas do PIB agropecuário têm previsões imprecisas e carecem de fundamentos sólidos.

O crescimento robusto do primeiro trimestre, em parte devido ao efeito de base de comparação, levou os economistas a preverem uma queda no PIB brasileiro no segundo trimestre, cujos resultados serão divulgados em breve. No entanto, os dados de alta frequência estão conduzindo a revisões otimistas nas expectativas. O consenso da Refinitiv agora aponta para um aumento de 0,3% no PIB do segundo trimestre em comparação com o trimestre anterior, principalmente devido aos números melhores do que o esperado do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) de junho.

Algumas teorias surgiram para explicar por que o mercado frequentemente subestima o potencial de crescimento da economia brasileira. Uma delas sugere que as reformas aprovadas nos últimos anos estão começando a dar frutos, mas os modelos econômicos não conseguem capturar completamente seus efeitos devido à sua relativa novidade. Essas reformas incluem o novo marco do saneamento, a lei das estatais, a autonomia do Banco Central e as reformas trabalhista e da previdência. Acredita-se que essas mudanças tenham impactos positivos na economia, mas os modelos econômicos ainda não conseguiram quantificar totalmente esses efeitos.

Outra explicação, especialmente para o otimismo deste ano, envolve as inclinações políticas dos economistas do mercado. A eleição de um governo de esquerda teria aumentado o pessimismo entre os economistas, que geralmente têm uma tendência mais de direita. No entanto, em 2018, quando um candidato de direita venceu a eleição presidencial, as expectativas de crescimento eram consideravelmente mais altas.

Apesar das surpresas positivas recentes, o mercado espera uma desaceleração a partir do segundo semestre, especialmente se o crescimento do segundo trimestre superar novamente as estimativas. Fatores como a redução do desemprego e das taxas de juros indicam um crescimento mais forte, mas a base de comparação mais elevada tornará desafiante manter um ritmo de crescimento robusto.

Fonte: Exame