Negócios
Quarta-feira, 24 de julho de 2024

Após faturar R$ 1 bilhão em cinco anos, empresa americana de óleos essenciais inaugura fábrica em SC

A DoTerra investiu R$ 50 milhões na construção da sua primeira fábrica no Brasil, terceiro maior mercado da companhia

A empresa americana doTerra tem como objetivo elevar a importância do Brasil no contexto global de negócios. Em um espaço de apenas cinco anos, o país se estabeleceu como o terceiro maior mercado para a empresa, alcançando um faturamento de 1 bilhão de reais em 2022 através da venda de frascos contendo óleos essenciais. No dia 21 deste mês, a empresa inaugurou sua primeira fábrica no Brasil, localizada na cidade de Joinville, em Santa Catarina.

A construção dessa unidade demandou um investimento de 50 milhões de reais, e sua criação visa aprimorar a logística do empreendimento. Os óleos são extraídos de plantas em diferentes regiões do mundo, incluindo Ásia, Europa e África. Atualmente, eles passam por testes de pureza e validação nos Estados Unidos antes de serem envasados e comercializados no Brasil. A nova fábrica elimina essa necessidade, proporcionando agilidade tanto na logística quanto na produção, potencialmente transformando a operação local em um centro de exportação para a América Latina e outras partes do globo.

A administração local também está destinada a melhorar as margens de lucro do negócio. Desde seu início no Brasil em 2018, a empresa teve que operar com margens mais apertadas para se manter competitiva e oferecer preços compatíveis com outros mercados.

“Nossa intenção é recuperar parte da margem que cedemos, melhorar gradualmente os custos e repassar esses benefícios aos nossos clientes finais”, afirmou Helton Vecchi, diretor-executivo da doTerra.

Fundada em Utah, Estados Unidos, em 2008, a doTerra foi criada por sete sócios, quatro dos quais eram ex-executivos da Young Living, a maior empresa de óleos essenciais do mundo. Isso resultou em um processo movido pela Young Living contra a doTerra por suposto roubo de segredos industriais, o qual foi arquivado pelo sistema judiciário americano em 2017.

De acordo com dados da GrandView Research, esse mercado movimentará cerca de US$ 23,7 bilhões neste ano e a expectativa é que alcance US$ 40 bilhões até 2030, com uma taxa de crescimento anual estimada em 7,9%. Esse crescimento será impulsionado pela aplicação dos óleos essenciais em áreas como cuidados pessoais, cosméticos, aromaterapia, bem como na indústria de alimentos e bebidas.

Funcionário número 14 da doTerra, Vechhi ingressou na unidade brasileira após acumular 20 anos de experiência como gestor financeiro em empresas ligadas a produtos médicos, ortopédicos e imobiliários no Brasil, Estados Unidos e Peru.

Inicialmente cético em relação aos óleos essenciais, que são extratos de plantas e ervas como cardamomo, lavanda, coentro, copaíba, hortelã e manjericão, Vechhi se tornou um grande adepto, sempre carregando consigo uma coleção de frascos e outros itens relacionados.

Os óleos essenciais têm diversas aplicações e efeitos, prometendo desde relaxamento e melhora do sono até a abertura das vias respiratórias, melhoria do humor e contribuição para a hidratação da pele.

A doTerra atualmente vende mais de 1 milhão de frascos por mês, com o óleo de lavanda, o mais solicitado, disponível a partir de 94 reais pela versão de 10 ml. Com uma base de 400 mil clientes registrados em seu site, a empresa ostenta uma taxa de recorrência de compra de 60%.

Por vezes, consultores da marca extrapolam ao alegar benefícios desconhecidos. Durante a pandemia de Covid-19, a FDA americana repreendeu a empresa nos Estados Unidos, uma vez que alguns representantes afirmaram que os óleos essenciais possuíam propriedades imunológicas e poderiam atuar como barreira contra o vírus.

Vechhi destaca que “os óleos essenciais não são remédios; não podemos fazer alegações ou insinuar que eles possam substituir medicamentos. São produtos para bem-estar, não para cura”. A empresa monitora as mídias sociais para supervisionar os anúncios sobre seus produtos e investe na formação de “consultores de bem-estar”, que auxiliam na divulgação da marca e recebem comissões por cada compra feita por meio de suas indicações.

A doTerra se apresenta no dia a dia como um comércio eletrônico tradicional, onde os clientes podem adquirir produtos apenas pelo site da empresa. Além das indicações dos consultores, o modelo de negócios compreende duas modalidades: a compra no varejo, onde o consumidor realiza a aquisição diretamente, e os clientes preferenciais, que pagam uma taxa de inscrição e recebem descontos em compras subsequentes.

A doTerra planeja que os frascos de óleos essenciais puros continuem a ser a base de seus rendimentos, através da diversificação de tamanhos e introdução de novos extratos de plantas. Há também espaço para expandir o portfólio, investindo em linhas como suplementos, vitaminas, cuidados corporais e acessórios, todos elaborados a partir dos óleos essenciais.

Combinando essa estratégia com a crescente conscientização das pessoas acerca dos benefícios dos óleos, a empresa almeja uma expansão significativa a curto e longo prazo. Após um crescimento de 50% no ano passado, a meta é duplicar o faturamento e atingir a marca de dois bilhões de reais. Caso as condições permaneçam favoráveis, a operação brasileira projeta alcançar a marca de um bilhão de dólares em 2026, dois anos antes do planejado inicialmente. Isso aproximaria essa unidade dos dois maiores mercados da companhia, os Estados Unidos e a China. Embora ocupando o terceiro lugar, o Brasil ainda está consideravelmente atrás dos líderes, como observado por Vecchi.

Atualmente presente em mais de 100 países, a doTerra movimenta cerca de 2,5 bilhões de dólares, e seus planos de crescimento preveem chegar a 7,5 bilhões de dólares até 2030.

Fonte: Exame