Negócios
Quinta-feira, 25 de julho de 2024

Eles fizeram dívidas de R$ 10 mi em 2020. Agora, devem faturar R$ 350 milhões com cafés e hot-dog

A rede mineira Cheirin Bão cresceu 80% em número de unidades 2022 e ocupa a 45ª posição entre as maiores franquias do país

A busca por novos sabores e estilos tem impulsionado um crescente interesse pelo café, cativando um público ávido por experiências únicas. Para aqueles envolvidos nesse setor, a trajetória tem paralelos com o percurso das cervejas artesanais na década anterior, caracterizada pela introdução de novas vivências, cafés especiais e a promoção da degustação. E nesse momento auspicioso do segmento, a Cheirin Bão está vivenciando um momento próspero.

A rede de estabelecimentos especializados em cafés refinados e iguarias típicas de Minas Gerais expandiu significativamente, com um aumento de 80% no número de unidades abertas entre os anos de 2021 e 2022. Conforme dados da ABF, essa rápida expansão elevou a posição da empresa da 98ª para a 45ª colocação entre as maiores franquias do país.

A iniciativa teve origem em São Lourenço, cidade mineira situada na região da Serra da Mantiqueira, durante o final de 2015 e o início de 2016. Inicialmente focada em doce de leite, café e pão de queijo, a empresa teve que redesenhar completamente sua abordagem de negócios, inclusive alterando o nome de “cafeteria” para “empório mineiro Cheirin Bão”, devido à relutância do mercado em aceitar o modelo original.

Eduardo Schroeder, um dos sócios-fundadores da rede, compartilha: “Tivemos que interromper e repensar todo o negócio. O cardápio foi enriquecido e agora oferecemos mais de 90 itens”. A Cheirin Bão, portanto, passou por um processo de transformação e crescimento.

A história da Cheirin Bão

Schroeder ingressou no mundo empresarial desde cedo, gerenciando uma papelaria familiar em Teófilo Otoni. Embora seu plano original fosse uma carreira no direito e um possível concurso público, um estágio em um escritório de advocacia especializado em franquias alterou seus rumos.

Nesse percurso, ele conheceu Wilton Bezerra, um profissional que oferecia consultoria de gestão de negócios para a empresa. Bezerra, com origens paulistas, adentrou o empreendedorismo por necessidade. Desde os 9 anos, vendia cocadas para contribuir com a renda familiar, passando por trabalhos em lanchonetes, atuando como representante comercial e, posteriormente, como consultor estratégico.

A parceria entre Schroeder e Bezerra floresceu a partir de suas conversas e colaborações durante o atendimento a um cliente em Minas Gerais. O desejo de empreender juntos surgiu e, como brincam, foi o começo de um “casamento” que já perdura há quase uma década. Com Schroeder já possuindo um restaurante especializado em carnes e cervejas artesanais, a transição para os cafés especiais e a criação da Cheirin Bão foi um passo natural.

À semelhança de outras redes de franquias, a Cheirin Bão investiu em grãos de café 100% arábica, conhecidos por seus sabores intensos, variações de corpo e acidez distintos. Esses grãos são provenientes tanto de fazendas próprias quanto de produtores parceiros, todos localizados na região da Serra da Mantiqueira.

Os Produtos de Destaque na Rede

Além dos cafés e cappuccinos, o destaque nas lojas da rede são produtos como o sanduíche de waffle feito com massa de pão de queijo e o “hot dog mineiro”, uma criação que substitui a salsicha por uma linguiça, incorpora um biscoito de pão de queijo e é acompanhada por um molho de barbecue com goiabada.

Bezerra, também CEO da empresa, observa: “A Cheirin Bão valoriza as tradições do interior do país, porém, nós procuramos transformar esses elementos em produtos urbanos, mantendo uma fusão entre tradição, originalidade e inovação”. Ao longo do tempo, perceberam que seus produtos atraíam principalmente o público feminino, o que influenciou sua estratégia de diversificação. O cardápio passou a incluir bebidas instagramáveis, sobremesas e doses extras de doçura. Essa abordagem impulsionou o valor médio das compras, elevando-o de R$ 19,90 para R$ 37,50, com cerca de 70% da clientela atual sendo composta por mulheres e casais.

A Aceleração do Crescimento do Negócio

O negócio progrediu consistentemente até o início de 2020, quando já contava com aproximadamente 200 franquias entre unidades contratadas e operacionais. No entanto, a pandemia trouxe uma mudança de rumo. Enfrentando a incerteza gerada pela crise sanitária, os sócios optaram por planejar o futuro pós-pandemia.

Ao invés de cortar custos, a Cheirin Bão acelerou sua evolução, desenvolvendo novos cardápios e lançando 70 novos produtos, incluindo itens da chamada “cozinha afetiva”, além de fortalecer suas parcerias com fornecedores. Até agosto de 2020, a empresa acumulou R$ 10 milhões em dívidas.

Bezerra comenta: “Financiamos nossos franqueados, parcelamos estoques em 10 vezes e oferecemos extensões de isenção de royalties por seis meses. Fizemos o que era necessário para a retomada”. A estratégia parece ter dado frutos, visto que a rede encerrou o ano subsequente com um faturamento de R$ 200 milhões, montante que aumentou para R$ 300 milhões em 2022.

Perspectivas para o Futuro

Para o presente ano, a meta é manter a trajetória de crescimento, atingindo a marca dos R$ 400 milhões em faturamento. Em um cenário mais conservador, considerando o início do ano com um certo equilíbrio, a cifra estimada é de R$ 350 milhões. No tocante às franquias, a previsão é ultrapassar a marca das 1.000 unidades, somando os estabelecimentos contratados e operantes.

Atualmente, a rede possui um total de 800 lojas, sendo 511 delas abertas ao público. Cada franquia exige um investimento de R$ 289 mil e a taxa de retorno é estimada em 15 meses.

A Visão de Longo Prazo dos Sócios

As projeções visam uma ambição maior: alcançar 2.000 lojas até o ano de 2026. A estratégia implica em expandir a presença em mercados como São Paulo e cidades do interior. Atualmente, a presença da empresa é mais concentrada no Rio de Janeiro e no norte do país.

Considerando o universo das franquias, essa meta é ousada para um negócio com menos de uma década de existência. A maior rede de franquias do Brasil, a Cacau Show, conta com 3.700 lojas e levou mais de 20 anos para alcançar tal expansão.

Adicionalmente, as redes de café estão enfrentando uma concorrência cada vez maior. Por exemplo, a Mais.1 Café, do Paraná, está abrindo uma nova franquia a cada 30 horas e planeja alcançar 3.000 lojas ao longo de 10 anos.

De acordo com um levantamento da ABF, no primeiro trimestre deste ano, o país abrigava 54 redes, totalizando 5.152 unidades, representando um crescimento de 72% em relação ao primeiro semestre de 2022.

Fonte: Exame