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Quarta-feira, 3 de julho de 2024

A chinesa Temu, pesadelo da Shein, virá ao Brasil

Nos últimos anos, a empresa chinesa Shein se tornou um grande desafio para os varejistas brasileiros devido à venda de roupas baratas e suas práticas comerciais pouco convencionais.

Agora, o maior concorrente global da Shein está prestes a entrar no mercado brasileiro, de acordo com informações de duas fontes com as quais o NeoFeed conversou.

Trata-se da Temu, um aplicativo de e-commerce lançado em setembro do ano passado pelo grupo chinês Pinduoduo (PDD Holdings). A Temu oferece uma ampla variedade de produtos, desde roupas até utensílios domésticos, a preços extremamente baixos. A empresa é listada na Nasdaq, possui um valor de mercado superior a US$ 100 bilhões e conta com cerca de 900 milhões de usuários na China.

Em pouco tempo, a Temu se tornou o aplicativo de e-commerce mais baixado nos Estados Unidos, superando a Shein. Em maio, de acordo com a Bloomberg Second Measure, que analisa transações com cartões de crédito e débito, a Temu vendeu 20% a mais do que a Shein no mercado americano.

No Brasil, a Temu está seguindo a estratégia tradicional das empresas chinesas que desejam entrar no país. No início do ano, uma delegação chinesa visitou o Brasil, seguida por um grupo que se estabeleceu aqui para iniciar a estruturação da operação. A previsão é que a Temu comece a vender no Brasil até o final do ano, usando uma operação de importação direta da China, como muitas empresas chinesas costumam fazer.

Uma das estratégias utilizadas para ganhar visibilidade rapidamente é a parceria com influenciadores digitais, que promovem a marca e vendem produtos diretamente, recebendo comissões sobre as vendas geradas.

Essa estratégia já tem sido adotada nos Estados Unidos, Canadá e México, onde a Temu ganhou destaque nos últimos meses. De acordo com informações apuradas pelo NeoFeed, essa estratégia será replicada no mercado brasileiro.

A parceria com influenciadores é uma maneira de chamar a atenção para o aplicativo, que é o principal canal de vendas da Temu. Portanto, é importante que ele se posicione à frente da Shein nas lojas de aplicativos.

A Temu tem causado preocupação não apenas nos Estados Unidos, mas em todo o mundo. A consultoria americana Marketplace Pulse realizou um estudo global sobre os downloads de aplicativos de e-commerce em várias economias do mundo.

Os dados são impressionantes. Tanto a Shein quanto a Temu são os aplicativos mais baixados em 25 das 50 maiores economias do mundo. A Temu já superou a Shein em 12 desses mercados. Além dos Estados Unidos, o aplicativo da Temu lidera em países como Alemanha, Reino Unido, França, Itália, Canadá, Austrália, Espanha, Holanda, Suíça, Áustria e Nova Zelândia.

“Os downloads não representam receita, mas indicam ambição”, escreveu Juozas Kaziukėnas, fundador do Marketplace Pulse, ao comentar esses dados.

Ao contrário da Shein, que possui sua própria marca e utiliza uma rede de fornecedores para produzir suas roupas, a Temu é um marketplace no estilo da Amazon. Seu modelo inclui a venda direta da fábrica a preços muito baixos. Essa estratégia também será adotada no Brasil, com a importação direta de mercadorias da China.

Outra diferença em relação à Shein é que a Temu não se concentra exclusivamente em roupas. A lista de categorias em que atua é bastante extensa, o que a torna semelhante, em termos de modelo de negócio, à Amazon e à Shopee. A Temu vende roupas, produtos de beleza, calçados, joias, eletrônicos, produtos para jardinagem, artigos para o lar, celulares e uma infinidade de outros produtos.

No Brasil, a Shein anunciou um plano de investimento de R$ 750 milhões para criar uma rede de milhares de fabricantes no setor têxtil. A empresa também prometeu expandir seu marketplace, incluindo fornecedores locais.

Uma parceria com a Coteminas, empresa comandada por Josué Gomes da Silva, que também é presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), ajudará a Shein a atrair fabricantes do setor têxtil.

No entanto, assim como a Shein, a Temu já enfrentou controvérsias. Especialmente nos Estados Unidos, onde as tensões entre Washington e Pequim afetam os negócios chineses.

Curiosamente, é a própria Shein que tem reclamado das práticas comerciais da Temu e a levou à justiça, acusando-a de contratar influenciadores para fazer “declarações falsas e enganosas” contra a Shein em suas promoções. A Temu solicitou ao tribunal o arquivamento do processo, aberto em dezembro do ano passado.

A Pinduoduo, controladora da Temu, também teve problemas com o Google, que removeu o aplicativo da loja de aplicativos sob a acusação de que ele baixava um “malware” – a empresa nega o incidente.

A Temu foi fundada em 2015 por Colin Huang, um empresário cuja fortuna é avaliada em quase US$ 30 bilhões pela Bloomberg. A empresa tem sede em Xangai. Em 2018, a Pinduoduo abriu seu capital na Nasdaq, captando US$ 1,6 bilhão. A estratégia da empresa foi apostar em um modelo de compras coletivas, algo que já foi testado no Brasil, mas nunca teve sucesso.

No primeiro trimestre deste ano, a receita da Pinduoduo atingiu US$ 5,48 bilhões, um aumento de 58% impulsionado pela recuperação do comércio eletrônico na China. O lucro saltou de US$ 410 milhões para US$ 1,17 bilhão.

Com menos de um ano de existência, a Temu está se tornando o maior pesadelo da Shein em todo o mundo. E pode se tornar mais um desafio para os varejistas brasileiros.

Fonte: Neofeed