Tecnologia
Sexta-feira, 17 de maio de 2024

Por que o Google aposta no Brasil como um dos principais mercados para sua carteira digital?

Na carteira, as pessoas trazem seus cartões de crédito, documentos, bilhetes de transporte e, muitas vezes, algum item pessoal, como a foto dos filhos ou do animal de estimação. Mas esse item físico vem perdendo cada vez mais o espaço no dia a dia das pessoas conforme a rotina foi ficando mais digital. Hoje, desde o boleto do condomínio até o cafezinho da tarde pode ser pago pelo celular. Lançada ainda em 2011, a carteira digital do Google, a Google Wallet, acabou incorporada pelo Google Pay, mas em 2022 voltou à cena muito mais incorpada para atender a essas demandas. E, em 2023, tem o Brasil como uma das apostas do crescimento do serviço, hoje disponível em 60 países.

“Estamos pensando muito em ajudar as pessoas a pensar sobre como administrar seu dinheiro. Estou aprendendo muito sobre como os brasileiros administram seus cartões de crédito, suas parcelas e como pensam em dinheiro”, diz Jenny Cheng, vice-presidente global do Google Wallet, em entrevista à EXAME Invest, em uma visita a São Paulo em março. “Estive pela última vez no Brasil em 2018 e vejo uma grande diferença em termos de onde estamos indo no futuro do Banco Central brasileiro”, diz ela, que também foi vice-presidente do PayPal, onde ficou de 2017 até março de 2021.

Nos últimos anos, uma das principais frentes de atuação do Banco Central brasileiro tem sido na digitalização das operações. Foi nessa efervescência que nasceu, por exemplo, o PIX no fim de 2020. Hoje, já são em média 66 milhões de transações diárias desses pagamentos digitais instantâneos, com mais de 100 milhões de chaves de pagamento cadastradas. O BC também desenvolveu e tem ampliado as funcionalidades do Open Finance, lançado em 2022 em substituição ao Open Banking, e trabalha no projeto piloto do real digital.

“Isso nos dá a capacidade de permitir melhores casos de uso do cliente em todos os aspectos, do ponto de vista dos pagamentos”, conta Cheng. O serviço chegou ao Brasil em julho de 2022 e foi desenvolvendo parcerias, não só com os bancos e as empresas de cartões de crédito, mas também com companhias aéreas, empresas de entretenimento e mesmo o Ministério da Saúde, para armazenar, por exemplo, carteiras de vacinação, como a da campanha de combate à Covid.

O Google, porém, não revela quantos usuários tem globalmente e no Brasil, tampouco quanto o Google Wallet representa agora da receita ou quanto era esse percentual com o Google Pay. O Google Wallet está dentro da divisão de serviços do Google, que, entre outras coisas, reúne serviços e produtos do Android, YouTube, Maps, etc. No quarto trimestre, o último divulgado pela Alphabet, holding do Google, esse divisão registrou queda na receita, passando de US$ 69,4 bilhões para US$ 67,83 bilhões.

Dados da consultoria Statisa apontam que em 2018, os três maiores serviços de carteiras digitais, Apple Pay, Samsung Pay e, o até então, Google Pay, reuniam cerca de 230 milhões de usuários. Em 2020, a consultoria calcula que esse número saltou para 427 milhões. Mas, se considerados todos os aplicativos e apps de pagamento digitais (mobile payment), esse número global chega a mais de 2 bilhões de usuários, especialmente com uso bastante disseminado em países asiáticos como a China.

Por lá, gigantes locais dominam esse mercado, como o Alibaba e o WeChat. Aqui, carteiras digitais também se multiplicam. Além de empresas próprias do setor, como o PicPay, por exemplo, varejistas apostam nesse tipo de serviço. Um exemplo é o Mercado Pago, braço financeiro do Mercado Livre que já tem mais de 30 milhões de usuários ativos.

Como funciona o Google Wallet?

O Google Wallet quer ser o mais próximo possível de uma carteira física, onde se guarda dinheiro, documentos, como a carteira de motorista ou a identidade, ingressos para shows ou para o cinema e bilhetes para um voo ou mesmo para o ônibus municipal ou o metrô.

Desde março, por exemplo, passageiros podem usar a carteira do Google para comprar e armazenar bilhetes do Metrô e da CPTM. O recurso oferece um novo canal de compra dos bilhetes QR Code, emitidos pela Plataforma TOP. Para isso, o usuário acessa sua carteira Google e toca na opção ‘Adicionar à Carteira’. Depois, é preciso selecionar o item ‘Cartão de transporte público’ e, em seguida, o passageiro encontrará a opção de compra de bilhetes por cidade – basta selecionar São Paulo e seguir as instruções para efetuar a compra.

O passageiro pode comprar até 10 bilhetes unitários por meio do aplicativo de uma única vez. O pagamento pode ser feito por cartões de crédito ou débito, via Google Wallet. “Queremos mostrar para o usuário brasileiro como o digital pode ser mais conveniente. Além do pagamento, a carteira conterá tudo o que você precisa fazer para torná-lo realmente conveniente e centralizado, trazendo todos esses serviços diferentes que você pode precisar na sua carteira”, explica Cheng.

Mas a adoção do serviço passa também pela confiança do usuário em sua segurança. A executiva destaca que esse é um dos pontos prioritários do Google Wallet. O serviço exige um bloqueio de tela por digital ou reconhecimento facial para ser acessado e todos os dados armazenados no app são criptografados no aparelho e inacessíveis por terceiros.

Fonte: Exame