Economia
Segunda-feira, 6 de maio de 2024

Para ex-BCs, sugestões de mudanças na política monetária são piores que as críticas

Em evento do Bradesco BBI, economistas alegam que ameaças de complacência com a inflação tendem a elevar expectativas

O atual ruído político em torno da atuação do Banco Central na condução da política monetária é natural do processo de amadurecimento do País na convivência com um BC independente e não deveria ser um problema se ficasse apenas no campo da retórica. Mas se torna algo relevante quando a crítica vem agregada a ações e propostas de mudanças em regras que tendem a dificuldade o trabalho da autoridade monetária em seu desafio de gerencial um processo de desinflação e de desancoragem de expectativas. A opinião é do Rodrigo Azevedo, ex-diretor do BC e sócio da Ibiúna Investimentos.

Entre os fatores mais recentes que têm atrapalhado o trabalho do Banco Central está a proposta de elevar a meta de inflação. “Se o presidente da República começa a criticar não o BC, mas a meta de inflação, a reação dos agentes é achar que a inflação no médio prazo será mais alta. Fica mais custoso, porque o BC tem que manter os juros mais altos e por mais tempo, “ afirmou durante painel em evento do Bradesco BBI em São Paulo.

Ele também alertou para a atual discussão sobre a composição da diretoria do BC, uma vez que ela aponta para um perfil mais acomodatício do próximo presidente e do board da autoridade monetária, a partir de 2024. Para ele, essas discussões explicam boa parte da alta de 100 pontos-base na expectativa de inflação nos últimos 60 dias.

“O BC tenta ancorar as expectativas de inflação na meta, mas o outro ente faz com que elas subam. Uma coisa é a criticar, a outra é atrapalhar”, opinou Azevedo, explicando que quem acaba pagando a conta é sociedade, a economia e até o próprio governo.

No mesmo painel sobre mudanças na política monetária, o economista Alexandre Schwartsman, outro ex-BC, também disse ver com temor a expectativa que seja colocada no Banco Central uma diretoria mais complacente com a inflação, como ocorreu num passado recente. “A inconsistência no comportamento do BC vai produzir expectativas de inflação acima da meta”, alertou, destacando que isso gera como custo a extensão do período de convergência à meta.Masterclass GratuitaLucros Além da BolsaComo ter o potencial de ganhar mais do que a Renda Fixa sem depender dos ânimos do mercado e das oscilações da BolsaEmailConcordo que os dados pessoais fornecidos acima serão utilizados para envio de conteúdo informativo, analí­tico e publicitário sobre produtos, serviços e assuntos gerais, nos termos da Lei Geral de Proteção de Dados.

O painel teve como convidado ainda Fabio Kanczuk, ex-BC que é hoje head de macroeconomia da ASA Investments, disse durante o painel que não acredita que o Banco Central possa de alguma forma ceder a essa pressões do mundo política. “A pressão faz parte do jogo”, comentou.

Outro ponto em comum entre os ex-BCs, é que não há sinais de que exista um risco de crise de crédito (“credit crunch”) no Brasil. “Não tem evidência disso”, disse Kanczuk, que também citou a afirmação do BC sobre a separação de instrumentos e de que usará, se necessário, medidas macroprudenciais para conter problemas, sem recorrer aos juros.

Schwartsman admite que há uma desaceleração do crédito em curso e que ela vem acontecendo desde agosto ou setembro do ano passado e um pouco mais forte para as pessoas jurídicas do que para as pessoas físicas. “A curva da oferta de crédito está se deslocando para cima. Ele está mais caros e em menor volume”, afirmou.

Mas ele não viu, até agora, sinais de possa acontecer uma contração de crédito mais vigorosa, como na época da quebra do Banco Santos.

Para Azevedo, os problemas do crédito hoje não são suficientes para acarretar mudanças na política monetária.  “Se estivéssemos num ‘credit crunch’, a atividade estaria caindo. Mas o PMI está em 50,7. Na covid-19 estava entre 43 e 44. Em 2008, foi para algo entre em 40 e 41.”

Fonte: InfoMoney