No Mundo
Quinta-feira, 25 de julho de 2024

Argentina investiga suposta rede mafiosa após alta no turismo de gestantes russas

A chegada de centenas de mulheres da Rússia grávidas nos últimos meses levou a Justiça da Argentina a abrir uma investigação sobre o caso, anunciou o órgão responsável por migrações no país.
O movimento levantou a suspeita de que organizações mafiosas estejam lucrando com a situação ao oferecer, em troca de uma quantia expressiva de dinheiro, um pacote de “turismo de parto” que teria o passaporte argentino como principal objetivo.
“Com muito trabalho, nós, argentinos, temos um dos passaportes mais seguros do mundo, que permite ingressar sem visto em 173 países”, disse Florencia Carignano, chefe da Diretoria Nacional de Migrações, no Twitter. “Esse é um privilégio que temos de cuidar e uma responsabilidade nossa com essas nações.”
Segundo Carignano, após observar o aumento significativo de cidadãs russas nos últimos meses, o país iniciou uma investigação e entrevistou 350 mulheres, com gravidezes em estágios já avançados.
A diretora afirma que o movimento é marcado, ao contrário do que se espera, por pessoas que não desejam permanecer na Argentina. Na mesma publicação, ela compartilhou uma imagem do site RuArgentina, que seria o responsável pelos pacotes de viagem.
O site russo se define como uma “rede de portais” que conta com sites de notícias sobre a Argentina em russo, vídeos do fundador, Kiril Makoveev, pacotes de turismo e de nascimentos na Argentina.
A página sobre os pacotes relativos ao parto lista entre as vantagens de ter filhos no país sul-americano medicamentos de alta qualidade; entrada sem necessidade de visto no país; cidadania argentina para o filho; residência “permanente imediatamente” e “direito de obter a cidadania argentina de forma simplificada” para os pais, o que garantiria acesso a “170 países sem visto”.
De acordo com o site do governo argentino, familiares de nativos ou naturalizados podem entrar com pedido de residência temporária de dois anos ou permanente, e não há pré-requisitos além do parentesco comprovado e de outros documentos corriqueiros, como passaporte e comprovante de residência.
O site RuArgentina também lista pacotes de serviços pagos em Tether, uma “stablecoin” (criptomoeda lastreada em ativos tradicionais, como o dólar), que vão de 100 USDT (cerca de R$ 518) para consultas por telefone, até 15 mil USDT para “primeira classe”, com consultas ilimitadas, assistência de transporte aéreo, curso de espanhol e assistência para moradia e documentação.
O site russo também lista supostos hospitais parceiros, que dariam desconto de 50% no valor dos procedimentos. Segundo as autoridades, as gestantes russas chegam à Argentina com o pacote completo, que inclui contratos de aluguel temporários, obtêm o passaporte para os filhos, e deixam o país.
“Estamos felizes que elas venham fazer sua vida na Argentina, mas o problema é que chegam, têm os filhos, registram eles como argentinos, vão embora e não voltam mais. Estão usando nosso passaporte”, afirmou Carignano a uma rede de televisão local.
Autoridades locais estimam que mais de 10 mil russas gestantes viajaram à Argentina desde que a Guerra da Ucrânia começou, em fevereiro de 2022, e 70% delas teriam ficado apenas alguns meses no país, de acordo com o jornal El País.
Em um único voo na semana passada, foram identificadas 33 russas, afirmou Carignano a um programa de televisão na sexta-feira (10). “A quantidade é realmente grande por dia. Em um voo da Ethiopian [Airlines, companhia aérea da Etiópia], entraram 33 russas com gestações entre 32 e 33 semanas”, disse.
Apesar dos números e da investigação argentina, o fenômeno não é único do país. O conflito europeu também impulsionou a vinda de russas e ucranianas para o Brasil em busca de cidadania para seus filhos.
No caso da Rússia, sancionada e isolada pelo Ocidente após a invasão do vizinho, o parto em países como Argentina e Brasil dá ao recém-nascido a nacionalidade da nação sul-americana em que nasceu, o que garante acesso a dezenas de países que dificultam a entrada de russos.