Economia
Domingo, 28 de abril de 2024

Inflação sobe 0,53% em janeiro com pressão de alimentos

A inflação oficial do Brasil, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), teve alta de 0,53% em janeiro, o primeiro mês do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A maior pressão veio do grupo alimentação e bebidas, que avançou 0,59%, segundo dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) nesta quinta-feira (9).
O resultado mostra uma desaceleração frente a dezembro, quando a alta do IPCA havia sido de 0,62%. Também ficou abaixo da mediana das projeções do mercado. Analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam inflação de 0,56% no mês passado.
Em 12 meses, o IPCA acumulou avanço de 5,77% até janeiro, conforme o IBGE. Assim, ficou abaixo dos 5,79% registrados até a divulgação anterior.
O índice acumulado, porém, está acima da meta de inflação perseguida pelo BC (Banco Central) para 2023.
O centro da medida de referência é de 3,25% neste ano. O intervalo de tolerância é de 1,5 ponto percentual para mais (4,75%) ou para menos (1,75%).
LULA SOBE TOM CONTRA BC
O BC virou alvo de críticas de Lula. Para tentar conter a inflação no país, a autoridade monetária vem deixando a taxa básica de juros (Selic) em 13,75% ao ano.
Na segunda-feira (6), o presidente chamou de “vergonha” o nível atual da Selic. Lula ainda conclamou o empresariado a fazer cobranças sobre os juros altos.
A elevação da Selic é o instrumento do BC para tentar esfriar a demanda por bens e serviços e, assim, conter os preços e ancorar as expectativas de inflação. O possível efeito colateral é a perda de fôlego da atividade econômica, porque o custo do crédito fica mais alto para empresas e consumidores.
A economia já vinha mostrando sinais de desaceleração antes de Lula assumir a Presidência. As críticas do petista à atuação do BC, porém, têm ampliado expectativas de inflação e pressionado os juros.
O movimento gera um reflexo contrário ao pretendido pelo governo. O discurso traz risco de pressão sobre o dólar, que impacta preços de alimentos. A inflação da comida afeta principalmente a população pobre, camada da sociedade na qual Lula encontra apoio.
ALIMENTOS PRESSIONAM IPCA
Dos 9 grupos de produtos e serviços pesquisados no IPCA, 8 subiram em janeiro. O segmento de alimentação e bebidas até desacelerou de 0,66% em dezembro para 0,59% em janeiro, mas exerceu a maior influência sobre o índice. O impacto foi de 0,13 ponto percentual.
O IBGE associou o resultado dos alimentos à carestia de produtos como batata-inglesa (14,14%) e cenoura (17,55%).
“As altas nesses dois casos se explicam pela grande quantidade de chuvas nas regiões produtoras”, afirmou o gerente da pesquisa do IBGE, Pedro Kislanov.
Por outro lado, houve queda de 22,68% nos preços da cebola em razão da maior oferta vinda das regiões Nordeste e Sul, disse Kislanov. O produto subiu mais de 130% em 2022.
O grupo de transportes teve o segundo principal impacto no IPCA de janeiro (0,11 ponto percentual). O segmento acelerou a alta para 0,55%, após 0,21% em dezembro.
Em transportes, houve pressão dos combustíveis, que subiram 0,68%, puxados pelo aumento da gasolina (0,83%) e do etanol (0,72%). No sentido contrário, o óleo diesel (-1,40%) e o gás veicular (-0,85%) tiveram queda em janeiro.
A maior variação entre os grupos veio de comunicação: 2,09%. O ramo acelerou em relação ao resultado de dezembro (0,50%).
Nesse segmento, o combo de telefonia, internet e TV por assinatura subiu 3,24% em janeiro. O serviço foi responsável pelo maior impacto individual no IPCA do mês (0,05 ponto percentual).
VESTUÁRIO DÁ TRÉGUA
Apenas o grupo de vestuário (-0,27%) teve baixa nos preços em janeiro. “Cabe registrar que foi a primeira queda no grupo após 23 meses seguidos de altas, com a última retração tendo sido registrada em janeiro de 2021”, disse Kislanov.
“O recuo em janeiro de 2023 se deve ao fato de várias lojas terem aplicado descontos sobre os preços que foram praticados em dezembro, para o Natal. O fator que mais influenciou no resultado foi uma queda de 1,37% no item de roupas femininas”, completou.
O mercado financeiro elevou a perspectiva para o IPCA acumulado em 2023 a 5,78%, conforme a edição mais recente do boletim Focus, divulgada pelo BC na segunda-feira. Foi a oitava alta consecutiva na projeção.
Se a estimativa for confirmada, este será o terceiro ano consecutivo de estouro da meta de inflação no país.

Fonte: FolhaPress