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Quinta-feira, 25 de julho de 2024

A Vivara quer criar uma “casa de marcas”. E já escolheu sua joia da coroa

Partindo dessa lógica, ele não crava um número exato, mas diz que, em 2023, a expansão das lojas será um pouco mais agressiva do que no ano passado. E que a Life responderá por boa parte dessas inaugurações.

Em 2022, do recorde anual de 53 lojas abertas, 39 foram da marca Life. A empresa fechou o ano com 336 unidades, sendo 243 da Vivara e 72 da Life, além de 21 quiosques.

Nesse ano, a expansão seguirá dois critérios, sempre com unidades em shopping centers. A Life focará as capitais e as cidades médias. Sob essa última orientação, municípios como Piracicaba (SP) e Canoas (RS) receberam unidades recentemente.

A Vivara estará mais centrada em cidades do interior, com população acima de 150 mil habitantes. Municípios como Sinop (MT) e Parauapebas (PA) foram adições recentes nesse mapa.

Em sortimento, o maior foco também estará na Life que, desde o fim de 2020, cresceu seu mix em 38,6%, chegando a 1,8 mil itens. Além de coleções, um dos passos será escalar categorias que foram testadas em 2022, como perfumes, relógios e carteiras.

“A Vivara é mais restrita a eventos de celebração. A Life pode estar presente em mais momentos, com maior frequência de compra”, diz Kruglensky. “O importante aqui é a velocidade. A ideia é permear o calendário com cápsulas de lançamentos durante o ano todo.”

Outros dois movimentos estão conectados com esse plano. O primeiro é um centro de P&D que entrará em operação nesse mês, em São Paulo. Com um time de 15 pessoas, entre joalheiros e designers, a ideia dar mais agilidade à criação de produtos.

Para antecipar o crescimento esperado na operação, o segundo é o aporte – não revelado – em uma segunda fábrica em Manaus (AM), que deve entrar em operação no segundo semestre de 2023.

Concorrência fragilizada

O modelo que integra indústria, produto e varejo é um dos pontos ressaltados da Vivara em relatório do Bank of America. “Acreditamos que a força da marca, a integração vertical, a escala e a mudança para um portfólio mais acessível criam uma combinação excepcional de confiança, competitividade, vantagem e crescimento”, destacou o banco, com um preço-alvo de R$ 32 para a ação.

Esse tripé ganha mais fôlego em um momento no qual boa parte da concorrência está fragilizada, como os players de menor porte, afetados pela pandemia. Entre os maiores, a Pandora vem reduzindo sua operação no Brasil.

Já a HStern perdeu espaço desde o fim de 2016, quando seu nome foi ligado a um esquema de sonegação fiscal e lavagem de dinheiro do ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral. No mercado, já apontaram para um interesse da Vivara na compra da operação. Kruglensky não comenta o tema.

“A Vivara é uma espécie de Arezzo das joalherias”, diz Alberto Serrentino, sócio da consultoria Varese. “Hoje, no Brasil, não tem outra empresa que faça sombra para eles em escala, presença e capacidade de investimento.” Ele alerta, porém, para alguns riscos na ambição de criar uma “casa de marcas”.

“O desafio nessa agenda é a perda de foco”, afirma. “No mercado premium do Brasil, não faltam exemplos de players que tentaram extrapolar seus limites e tiveram que fazer ajustes brutais, vide os casos da Restoque e da Inbrands.”

Em pouco mais de dois anos, a Life saltou de uma base de 13 para 72 lojas

À parte desse contexto, em outubro de 2022, a Vivara chamou atenção ao anunciar um aditivo ao seu acordo de acionistas. A grande mudança foi a redução das ações vinculadas ao acordo de 57,9% para 39,7%, liberando 13,2% para serem vendidos no mercado.

Nessa conta, o principal fator foi a redução da fatia detida pelo ex-CEO Márcio Kaufman, de 20% para 2%, o que suscitou rumores sobre uma relação conturbada com seu pai, Nelson. No processo, parte de suas ações ordinárias será transferida para sua irmã, Marina, e para o patriarca do clã.

Questionado, Kruglensky se limita a dizer que, sob a ótica da gestão, não há nenhum impacto. “Eu me reporto para o board, o João Cox é o presidente do conselho e temos outros quatro conselheiros, três deles independentes”, afirma. “No dia a dia, nada muda.”

O aditivo traz ainda cláusulas de lock-up de dois anos para a venda de ações não vinculadas de Nelson e Márcio. Além de um lock-up geral para as ações vinculadas de Nelson, Marina e Kruglensky durante a vigência do novo acordo, válido por 15 anos.

A eventual venda de ações não vinculadas ficou condicionada a um follow on, caso a oferta exceda R$ 500 milhões; a um block trade ou oferta secundária, caso esteja entre R$ 100 e R$ 500 milhões; ou a não ultrapassar 15% do valor diário negociado, caso seja inferior a R$ 100 milhões.

Em relatório no qual manteve recomendação de compra para a ação, a XP destacou que, apesar do risco negativo no curto prazo para a dinâmica do papel, o acordo “traz diversas condições para uma potencial venda ocorrer” e vai ao encontro do principal “desconforto” dos investidores: a baixa liquidez da ação.

Os papéis da Vivara fecharam o pregão da quinta-feira, 2 de fevereiro, com alta de 1,56%, cotadas a R$ 24,74. Em 2023, as ações acumulam uma valorização de 10,2% e, nos últimos doze meses, uma baixa de 4,65%.

Fonte: Neofeed