Economia
Quinta-feira, 7 de novembro de 2024

PIB do 3º tri deve trazer impacto de juros altos e desaceleração, dizem economistas

De acordo com projeções, economia deve crescer menos de 1% no período; IBGE divulga resultado na quinta-feira (1º)

Depois de avançar acima de 1% tanto no primeiro quanto no segundo trimestres deste ano, o Produto Interno Bruto (PIB) deve começar a perder força e crescer abaixo disso no trimestre entre julho e setembro.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga na quinta-feira (1º) o resultado do PIB do terceiro trimestre.

Esse movimento, de acordo com economistas consultados pelo CNN Brasil Business, engloba os primeiros grandes reflexos dos juros altos no país.

A Selic, taxa que dita o piso dos juros no país, saiu de 2% ao ano, em março de 2021, para 13,75% em agosto deste ano, no ciclo de alta mais veloz e mais intenso desde o início dos anos 2000.

“Há uma desaceleração que acontece, basicamente, por conta da política monetária, que já está bastante austera”, diz o economista-chefe da Órama, Alexandre Espírito Santo, que estima um crescimento de 0,5% da economia na passagem do segundo para o terceiro trimestre.

No primeiro trimestre de 2022 o PIB cresceu 1,1% e, no segundo, 1,2%.

“Em um primeiro momento, a política monetária [de aumento de juros] afeta muito fortemente as classes de renda mais baixas, e já estamos vendo aumento da inadimplência, o que afeta o consumo, que é 70% do PIB. Vemos também nitidamente uma redução da formação bruta de capital fixo, que são os investimentos das empresas em produção”, disse Santos, que também é professor de economia do Ibmec-RJ.

Entre os mais otimistas, o banco Santander projeta uma alta de 0,9% para o período, número que é ajudado por setores que ainda estão aquecidos, como serviços e agropecuária, mas já carrega a desaceleração de outros.

É o caso da indústria e dos setores do varejo mais ligados a crédito, que também sofrem com os juros altos, caso do de bens duráveis como eletrodomésticos e eletrônicos.

“São os primeiros sinais da política monetária contracionista; são bens mais cíclicos, mais sensíveis aos juros, e onde se tem os primeiros impactos”, diz o economista do Santander Lucas Maynard.

Nas projeções do banco, o PIB da indústria deve crescer 0,3% no terceiro trimestre, depois de passar o primeiro semestre crescendo mais de 2%, e o do comércio deve crescer 0,2% – “ou seja, quase parado”, diz Maynard.

“Esperamos que apenas o PIB da agropecuária registre crescimento mais forte do que o do trimestre anterior”, diz a equipe de análise do banco Itaú em relatório. Todos os demais setores devem, de acordo com eles, perder força. A projeção do Itaú é que o PIB cresça 0,4% neste trimestre.

Mais otimista, a equipe econômica do BTG Pactual, chefiada pelo ex-secretário do Tesouro Nacional Mansueto Almeida, estima um crescimento de 0,8% no trimestre, destacando o bom desempenho do setor de serviços, que ainda tem o embalo de recuperação das perdas na pandemia, e do mercado de trabalho, que tem registrado quedas sucessivas na taxa de desemprego.

O banco também ressalva, porém, a tendência de desaceleração. “Apesar do crescimento da massa salarial e de uma forte expansão fiscal, números recentes apontam para uma desaceleração da atividade econômica, com quedas na produção industrial e no consumo de bens cíclicos”, escreveu o analista Bruno Martins em relatório a clientes.

“Devido aos efeitos tardios da política monetária e o alto nível de endividamento das família, uma desaceleração da atividade econômica era esperada no segundo semestre de 2022”, continua.

Fonte: CNN