Cultura
Terça-feira, 23 de julho de 2024

Arte de rua inspira novas marcas e vira negócio para artistas nas periferias de São Paulo

Artistas e empreendedores de bairros nos extremos de São Paulo têm usado a arte periférica para criar marcas independentes e diversificar a moda.
Morador do Grajaú, Felipe Carvalho, 34, começou a V.O.S (Viva o Skate), de vestuário, com uma página no Facebook.
“A galera começou a curtir e a perguntar como fazia para adquirir uma [camiseta]. Decidimos fazer uma remessa maior para vender”, diz. A marca virou uma loja virtual, com peças que vão de R$ 70 a R$ 190.
Ele pediu demissão da agência de publicidade onde trabalhava e, hoje, o negócio é sua principal renda. Carvalho estima conseguir até R$ 5.000 por mês.
A arte urbana é a inspiração do artista Dino, 46, de Osasco (Grande São Paulo). “Só faço colab [parceria] com artistas que são da rua, minhas roupas são vendidas para a periferia, com valor acessível. Através disso consigo conectar as marcas e me inspirar para fazer o meu corre”, afirma.
Em 2018, ele realizou uma parceria entre sua marca, a Éh Humano, com a King, uma das principais lojas de streetwear no Brasil.
O evento teve artistas do Grajaú, Capão Redondo, ambos na zona sul da capital paulista, e do ABC. “Fiz para poder interligar as periferias e criar uma coleção de roupas que representasse a pixação e a arte urbana. E dessa maneira consigo ter lucro com a minha marca hoje”, diz.
Dino critica a apropriação dos elementos de arte urbana pelo mainstream da moda. “Pessoas que não vinham das ruas utilizavam a pixação para ganhar visibilidade, fazer trabalhos comerciais. Entendi que deveria estar nesse lugar primeiro”, afirma.
É também do pixo que vem o trabalho da marca Criptografia Urbana, criada pelo artista e ativista Djan Ivson, 38, conhecido como Cripta Djan. Morador de Osasco há 20 anos, ele entrou aos 13 anos para o grupo “Cripta”, do qual faz parte até os dias de hoje.
Conhecido como um dos primeiros a discutir publicamente na mídia o pixo, ele lançou o projeto durante a pandemia de Covid-19. A ideia é conseguir levar para as periferias um valor acessível da arte, como pinturas, murais e roupas.
“A marca era um projeto antigo para trabalhar com variedades grandes da arte, colocando o pixo no lugar de simples e sofisticado, que na verdade ele já tem”, defende.
As marcas, que contam com o serviço de costureiros locais, costumam vender de 10 a 50 peças por mês. O público-alvo, em sua maioria, são homens de 18 a 40 anos.
Também do Grajaú, Geovane Lucena, 28, criou a marca Safita, em referência à gíria “essa fita”. Ele conta que começou a estampar camisetas em 2012, que levava para vender em eventos de break dance.
“Ainda não sobrevivo só da minha marca, ela me dá retorno para se auto-sustentar, mas trabalho em uma empresa e todos os dias busco ir trabalhar de Safita, a roupa diz muito sobre você, e eu visto minha marca”, afirma. “Sem formação nenhuma, só a vontade de fazer arte e vender roupa”, diz.

Fonte: FolhaPress