Agronegócio
Quinta-feira, 25 de julho de 2024

COP27: 14 empresas de alimentos apresentam plano para acabar com o desmatamento

O compromisso, que envolve companhias brasileiras, tem o desafio de atingir também a cadeia de fornecedores dessas grandes organizações

Um compromisso firmado na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2021, a COP26, que aconteceu na Escócia, ganha novos contornos neste ano de 2022. Durante a COP27, em andamento no Egito entre 6 e 18 de novembro, 14 grandes empresas de alimentos do mundo apresentaram um “roadmap” compartilhado sobre como trabalharão para reduzir as emissões a partir da mudança do uso da terra em suas operações. 

O documento é fruto do encontro dos CEOs dessas empresas globais realizado no ano passado. Batizado de “Roteiro do Setor Agrícola 1,5°C”, o roadmap traz três pilares para redução das emissões a partir da mudança do uso da terra:

  1. Acelerar a ação da cadeia de fornecedores para reduzir as emissões a partir da mudança do uso da terra: é de responsabilidade das empresas signatárias estruturar planos transparentes de ações para acabar com a perda florestal e converter fornecedores, reportando anualmente seu progresso nesse sentido de forma pública;
  2. Impulsionar a transformação de commodities: as empresas vão investir em iniciativas para transformar as práticas de uso da terra, incentivando seu uso de forma sustentável;
  3. Apoiar uma transformação positiva do setor de florestas: por meio de diálogos e colaboração com governos e outros atores da cadeia de valor e setor financeiro as empresas integrarão melhores práticas e alinharão responsabilidades para entregar impactos positivos em relação às florestas.

De forma ainda mais prática, o roadmap estabelece metas fracionadas. Em novembro de 2022, na COP 27, foi firmado o compromisso de estabelecer metas baseadas na ciência de redução das emissões, incluindo mudanças no uso da terra. Para a COP28, em 2023, as companhias se comprometeram em reportar seus progressos nesse sentido e o objetivo é que, em dezembro de 2025, os objetivos para o desmatamento tenham sido atingidos em relação à criação de gado e culturas de palma e soja. 

Pecuária sustentável

A transição para a pecuária sustentável e a redução do desmatamento exigem uma transformação nos mercados interno e de exportação, diz o roadmap, algo que pode ser alcançado por meio de ações corporativas fortalecidas alinhadas com políticas governamentais de apoio.

As empresas do setor pecuário que participam do “Roteiro do Setor Agrícola 1,5°C” dizem apoiar a necessidade de avançar o mais rápido possível para acabar com desmatamento em todos os biomas brasileiros. 

Nesse sentido, e para acelerar o fim de todo o desmatamento de suas cadeias produtivas, em 2023, as empresas do setor de pecuária envolvidas no “Roteiro do Setor Agrícola 1,5°C” vão priorizar esforços em parceria com os setores público e privado para desenvolver incentivos e apoio técnico para produtores de gado e melhorar os sistemas de monitoramento.

Um dos pilares prevê como o setor irá envolver os governos federal e estaduais para fortalecer um ambiente propício para um planejamento sustentável do ambiente, incluindo os pequenos produtores. O trabalho com os governos estaduais incluirá a integração de sistemas de rastreabilidade e, junto ao governo federal, o comando e mecanismos de controle.

Com isso, as metas estabelecidas são as seguintes:

  • Para Amazônia: prazo de 2023 para o fim do desmatamento legal e ilegal para fornecedores diretos e 2025 para fornecedores indiretos;
  • Cerrado: prazo de 2025 para acabar com o desmatamento ilegal por fornecedores diretos e indiretos;
  • Outros biomas do Brasil: as datas-alvo ainda serão definidas, dependendo do desenvolvimento dos sistemas de monitoramento necessários.

Cultivo de óleo de palma

Entre as empresas signatárias do “Roteiro do Setor Agrícola 1,5°C” que atuam com a produção de óleo de palma a perda florestal dentro de suas concessões é praticamente zero, garante o documento. No entanto, a transformação da cadeia ainda precisa acontecer, e os líderes no setor têm um papel crítico em atuar com pequenos produtores, usinas autônomas e empresas menores. 

Na Malásia, por exemplo, desde 2020 mais de 96% das maiores plantações de óleo de palma já foram certificadas, enquanto nas propriedades independentes de pequenos proprietários o índice cai para pouco menos de 40%. 

Nesse sentido, as grandes empresas envolvidas se comprometem a estabelecer metas importantes para suas cadeias de fornecedores. A meta é concretizar os avanços até 2025. 

Cultivo de soja

O “Roteiro do Setor Agrícola 1,5°C” estabelece uma estrutura para lidar com o desmatamento causado pelo setor e define como meta o fim dessa prática até 2025  para as produções de soja na Amazônia, Cerrado e Chaco, protegendo também os ecossistemas não florestais em conformidade com a legislação local pertinente. 
Para se ter ideia do tamanho do desafio, entre 2013 e 2021, com base nos dados da Agrosatélite, um total de 114 milhões de toneladas de CO2 foram emitidas pelo desmatamento da vegetação nativa no bioma Cerrado em função do cultivo da soja. A implementação do roadmap proposto tem potencial para evitar 75% dessas emissões.

Ao longo do último ano, a Tropical Forest Alliance (FTA), com apoio do World Business Council for Sustainable Development, contribuiu para que as grandes empresas de comércio e processamento agrícola do mundo pudessem desenvolver o “Roteiro do Setor Agrícola 1,5°C”. Estão comprometidas com o roadmap as seguintes empresas: ADM, Amaggi, Bunge, Cargill, COFCO International, Golden Agri-Resources, JBS, Louis Dreyfus Company, Marfrig, Musim Mas, Olam International, Olam Food Ingredients (OFI), Viterra e Wilmar International.

Fonte: Exame