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Domingo, 5 de maio de 2024

Como a blz Recicla encontrou R$ 160 milhões no lixo

Companhia de coleta tratamento de garrafas retornáveis faz parte da holding JVCM, dona de distribuidora de bebidas e investidora de marcas como Better Drinks, Carnívoros Steak Burger e Grão Malte

A blz Recicla, um dos negócios da holding do empresário Rodrigo Clemente, vai cruzar o oceano com uma mensagem na garrafa: reciclagem dá negócio. Com um investimento inicial de US$ 10 milhões, a empresa de processamento de cascos de vidro e materiais descartados vai abrir operação nos Estados Unidos, começando por Miami. Na Europa, vai chegar com cargas de embalagens de vinho para Portugal, mirando uma fábrica local num futuro próximo.

“Essa empresa nasceu de uma demanda muito específica da indústria de bebidas. Um diretor comercial de uma grande cervejaria me procurou porque faltava casco para o envase. Ele me desafiou a entender esse mercado de coleta e reciclagem, que é muito informal ainda”, conta Rodrigo Clemente, CEO da JVMC, a holding que controla a blz Recicla. “A gente precisou entender como organizar essa cadeia como um todo”.

Parte do grupo JVMC, a blz Recicla começou como um negócio complementar à distribuidora de bebidas da holding em 2019. Hoje, já é a business unit mais lucrativa do grupo, que conta ainda com uma agência de marketing e uma fintech, também complementares ao ecossistema.

No portfólio do grupo de Clemente, também estão participações em marcas como Better Drinks, Carnívoros Steak Burger e Grão Malte. Em 2022, a JVMC projeta faturar R$ 500 milhões em todas as suas unidades de negócio somadas e, para o próximo ano, a estimativa é atingir R$ 900 milhões.

Com a internacionalização da operação, a blz Recicla quer dobrar o faturamento já no primeiro ano de operação. Em 2021, a companhia de coleta e tratamento de retornáveis registrou receita de R$ 60 milhões. Para este ano, a projeção é de R$ 140 milhões. Só com a operação nos EUA, a empresa espera fazer R$ 160 milhões nos primeiros 12 meses.

Ao mesmo tempo, a holding vai fortalecer a operação brasileira da blz Recicla para seguir atendendo a clientes como Coca-Cola Femsa, Heineken, Ambev e cachaçarias locais. Aqui, o investimento será de R$ 110 milhões para abrir duas novas plantas de tratamento de cascos de vidro reutilizáveis, uma na Bahia, outra no Rio Grande do Sul, e ampliar o escopo de atuação da unidade Araçariguama, no interior de São Paulo.

O plano é passar a triturar as garrafas de vidro que não estão em condições de ser utilizadas. As embalagens com rosca, por exemplo, não podem ser reutilizadas por conta das microfissuras que se criam quando o consumidor desrosqueia a tampa. A partir de novembro, a companhia passa a entregar 45 mil toneladas de vidro moído por mês a outras companhias de reciclagem que dão continuidade ao processo. Uma garrafa triturada pode compor até 80% de uma nova embalagem.

Atualmente, a blz Recicla coleta e seleciona mais de 700 mil recipientes por dia para reuso e recicla 98,7% de todas as latinhas de alumínio que chegam ao mercado, de acordo com dados da Recicla Latas. Desde o início da operação, a companhia já retornou mais de 40 milhões de garrafas ao comércio. Em estoque, a companhia tem 80 milhões de embalagens de vidro.

Os insumos chegam via catadores, que levam as embalagens para os pontos de coleta. Os trabalhadores são remunerados entre R$ 0,15 e R$ 0,70 por unidade, a depender da qualidade de cada casco. O pagamento é feito por meio de um cartão do blz Bank, a fintech do grupo. Também por meio do neobanco, a companhia remunera proprietários de bares e pequenos varejistas que retornam os frascos.

A blz Recicla está posicionada em um momento de crise de matérias-primas, entre elas o vidro. Desde o início do ano, a indústria nacional de bebidas sofre com a escassez do material. Na Europa, até o setor automotivo tem sofrido com as interrupções no fornecimento.

Outra vantagem estratégica é o espírito ESG do negócio. “Sabemos que o mercado enxerga nosso diferencial. Todo mundo está concentrado em trazer o ESG para dentro do negócio ou se tornar investidor do segmento”, diz Clemente.

Fonte: Pipeline Valor