Negócios
Segunda-feira, 20 de maio de 2024

Consolidação do mercado de games preocupa, mas não é bicho-papão

Mesmo em meio a onda de fusões e aquisições, especialistas veem espaço para novos estúdios

Se há um setor da economia que não pode reclamar da pandemia de Covid-19 é a indústria de games. Com as pessoas trancadas em casa e consumindo mais jogos, houve um crescimento considerável no faturamento.

Ainda assim, Rodrigo Terra, presidente da Abragames (Associação Brasileira das Desenvolvedoras de Jogos Eletrônicos), estava inquieto. “A gente ficou com muita preocupação com a verticalização do mercado”, afirma.

A ideia de que a indústria de games estaria passando por um processo de “verticalização” (ou “consolidação”, como costuma ser chamado) ganhou força em janeiro, após uma sequência nunca vista de negócios bilionários:

Esses negócios levantaram questionamentos sobre a concentração de muito poder (e dinheiro) na mão de alguns poucos atores na indústria de games e dúvidas sobre como isso mudaria o mercado.

A preocupação de Terra era com uma repetição, em menor escala, desse fenômeno no Brasil, com estúdios médios e grandes comprando ou se fundindo com estúdios menores. “O que acabaria diminuindo a base da pirâmide e não teríamos um ciclo de novas empresas surgindo”, afirma.

Esse movimento realmente aconteceu, mas com resultados distintos do esperado por ele. “Como explodiu o mercado de jogos, teve um interesse muito grande de estudantes e até mesmo profissionais de outras áreas da economia, que começaram a ver os games como um mercado em potencial”, relata.

O efeito disso foi que muitos estúdios nasceram durante a pandemia, em 2020 e 2021. “Gente nova com muito talento”, afirma Terra.

Segundo pesquisa divulgada pela Abragames, nos últimos quatro anos, o Brasil passou de 375 estúdios de desenvolvimento de games para 1.009, um aumento de 169%, sendo que cerca de 40% dessas empresas têm até cinco anos de existência.

Chris Charla, Gerente Geral de Projetos e Curadoria de Conteúdo da Xbox, também nota uma franca expansão da indústria brasileira. “A qualidade dos jogos está crescendo muito rápido. Desenvolvedores lançando um, dois, três títulos em sequência, e cada vez melhores”, afirma.

Como responsável pelo programa ID@Xbox, que ajuda a levar títulos indies para as plataformas da Microsoft, e funcionário de uma das empresas responsáveis pelo atual processo de consolidação, Charla está em um local privilegiado para observar as consequências desse fenômeno no mercado.

Ele reconhece que existe um processo de consolidação, mas não o vê como algo negativo. “Para um estúdio, se juntar a uma empresa maior pode ser a coisa certa. Para outros, começar de novo, com um projeto pequeno e surpreender é o caminho.”

Charla vê que as duas opções podem alcançar o sucesso ao mesmo tempo. “Isso mostra que estamos em uma indústria saudável”, afirma.

“Como na indústria de entretenimento, você nunca sabe de onde vai vir o próximo grande sucesso. Não vejo nada nos números de vendas e em projeções de longo prazo que possa preocupar os desenvolvedores independentes”, completa o executivo, que cita “Cuphead”, título de estreia do estúdio canadense MDHR, como exemplo de jogo indie que se tornou um sucesso global –ganhando inclusive uma série na Netflix.

Chris Charla, Gerente Geral de Projetos e Curadoria de Conteúdo da Xbox e responsável pelo progarama ID@Xbox – Ina Fassbender/Divulgação Microsoft

Também é verdade que muita coisa ainda pode mudar. Os principais negócios envolvendo empresas de games ainda não foram concluídos ou dependem de aprovação de órgãos reguladores –o FTC (Comissão Federal de Comércio dos EUA) ainda analisa a compra da Activision Blizzard pela Microsoft.

Além disso, analistas ouvidos pelo site GamesIndustry.biz não veem a onda de aquisições e fusões acabando tão cedo. A única certeza é que o mercado de games nunca mais será o mesmo.

Fonte: BizNews