Cultura
Terça-feira, 23 de julho de 2024

‘Assassino sem Rastro’ é tão esquecível quanto seu retrato do Alzheimer

 O título brasileiro do filme “Assassino sem Rastro”, que estreia nesta quinta (9), não diz absolutamente nada. É mais um exemplo da longa lista de nomes inventados por aqui que ignoram informações importantes e preferem expressões que não dizem nada, como… um assassino sem rastro.
Já o título original, “Memory”, ou memória, diz tudo. Soubéssemos disso ao entrar no cinema, as coisas mudariam um tanto. Estamos em um filme chamado “Memória” e o protagonista é um assassino.
Nosso matador é Liam Neeson, claro. Dos últimos cinco filmes estrelados pelo irlandês indicado ao Oscar por “A Lista de Schindler”, de 1993, em quatro deles ele aparece de arma em punho, ameaçador. Um herói de filmes de ação tardio, já que na vida real Neeson fez 70 anos justamente nesta terça (7).
Logo descobrimos que os problemas de memória são dele mesmo, de Alex Lewis, o assassino sem rastro. Ele tem um irmão com Alzheimer e teme seguir pelo mesmo caminho. De nada adianta temer, porém, pois Lewis já tem a doença em estágio avançado.
Eis uma ideia interessante. Que consequências tudo isso poderá trazer à trama? Inúmeras possibilidades se apresentam.
O diretor Martin Campbell, infelizmente, não aproveita nenhuma delas. O diretor de “007: Casino Royale”, de 2006, enxerga e executa essa trama como se fosse um filme de ação ordinário.
“Assassino sem Rastro” é uma refilmagem do belga “Alzheimer Case”, de 2003. O original ganhou alguns prêmios em festivais europeus na época e provavelmente brinca com o esquecimento de forma mais efetiva.
Mas, para o hollywoodiano Campbell, a memória é um apêndice que estava no roteiro. As cenas em que o assassino escreve no braço as coisas que deve lembrar, por exemplo, parecem enxertadas. Elas pouco ou nada influenciam na história ou nas cenas a seguir.
Alex Lewis apenas vai atirando para lá e para cá e tudo se resume à sua vingança após ver uma criança objeto de exploração sexual.
É uma pena, pois dois excelentes filmes sobre memória -e assassinatos- vêm à memória: “Amnésia”, de 2000, e “Memórias Secretas”, de 2015. Nesses, os diretores Christopher Nolan e Atom Egoyan, respectivamente, encontram formas muito criativas para demonstrar os problemas da perda de memória.
Escrever no braço, aliás, era a situação central de “Amnésia”, no qual o protagonista precisava ir além da simples escrita e tatuava mensagens no corpo para ter certeza de que iria lê-las. Não por acaso, o ator que faz o perseguidor do assassino aqui é justamente aquele protagonista de “Amnésia”, Guy Pearce.
Independente da participação da musa Monica Bellucci e do final até surpreendente, não há dúvidas sobre o que vai acontecer com “Assassino sem Rastro”. Seu destino será mesmo o esquecimento total, como se nós todos tivéssemos Alzheimer após essa sessão de cinema.

ASSASSINO SEM RASTRO
Classificação: 16 anos
Produção: Estados Unidos, 2022
Direção: Martin Campbell
Avaliação: Ruim

Fonte: FolhaPress/Ivan Finotti