Cultura
Terça-feira, 23 de julho de 2024

Feira do Livro no Pacaembu quer abrir São Paulo à literatura de grandes autores

 “Parece que a feira já existia e nós só colocamos as tendas”, diz o arquiteto Álvaro Razuk, impressionado com a imediata aceitação da Feira do Livro, que terá sua primeira edição nesta semana no Pacaembu.
O evento, de nome genérico e amplo de propósito, montará mesas com grandes autores e estandes de dezenas de editoras de quarta-feira a domingo na praça Charles Miller, com direção artística de Razuk e curadoria de Paulo Werneck, presidente da Associação Quatro Cinco Um, que publica a revista de mesmo nome.
“Eu sempre me perguntei por que não tinha algo assim em São Paulo”, afirma o jornalista, ressaltando a confluência de fatores que colaboraram para a feira. “O espaço parece feito para isso, e muitas pessoas no mercado editorial queriam montar algo assim diante de um desgaste das feiras universitárias, que são fortes comercialmente, mas menos em termos de experiência do público.”
Assim como os balcões que se organizam todo ano para vender livros com desconto na Universidade de São Paulo, por exemplo, e ao contrário de eventos como a Flip e a Bienal do Livro, a feira no Pacaembu será aberta e gratuita.
“Queremos que as pessoas comprem livros, acima de tudo, então a ideia é desonerar ao máximo o resto”, afirma Werneck, que conseguiu pôr o evento de pé com a locação paga de 63 estandes para editoras e livrarias, além de parcerias com entidades. A Embaixada da França, por exemplo, topou bancar a vinda do cientista Bill François, de “Eloquência da Sardinha”, para uma das mesas.
Os esforços da feira são voltados a servir como uma “caixa de ressonância” para os livros, nas palavras do idealizador do evento, já que por trás de cada um deles há o trabalho de diversos profissionais e, não raro, investimento público. Quanto mais repercussão o produto final tiver, melhor, seguindo uma lógica tanto cultural quanto econômica.
A estratégia para atrair leitores e leitoras ao espaço é proporcionar encontros ao vivo com nomes de peso como Ailton Krenak, Mia Couto, Carla Madeira, Djamila Ribeiro e Drauzio Varella –os dois últimos são colunistas deste jornal e o médico integra uma mesa realizada em parceria com a Folha, que terá um estande na feira.
“Mais que elaborar uma curadoria conceitual, buscamos uma certa simplicidade para esta primeira edição, percebendo que havia ainda uma forte demanda por encontros de carne e osso com grandes escritores em público”, aponta Werneck.
Curador da Festa Literária Internacional de Paraty de 2014 a 2016, ele lembra a sensação de que havia até excesso de público no festival litorâneo -que volta a acontecer presencialmente em novembro-, o que fica ainda mais pronunciado numa cidade como São Paulo.
Daí a decisão de transformar a ausência de catracas numa espécie de identidade. “É uma atitude importante devolver o espaço público para o pedestre”, afirma Razuk, que se especializa em arquitetura de exposições e já projetou bienais de arte e o pavilhão do Brasil na Bienal de Veneza.
A praça em frente ao estádio do Pacaembu, segundo ele, é o recinto arquitetônico ideal para “construir uma cidadela”, já que fica longe da circulação de carros e, ao mesmo tempo, é acessível a pé.
Num momento em que os paulistanos têm fresca na memória uma Virada Cultural particularmente violenta no centro da cidade, Razuk sublinha que haverá segurança e que os eventos têm naturezas e horários diferentes. Mas considera um “risco que vale a pena correr”. “Se vierem pessoas que são estranhas a esse meio literário, vou achar muito bacana.”
A ideia é mesmo atrair, por exemplo, público que transite ali por acaso no caminho para o show de Zezé Di Camargo e Luciano que acontece no domingo no estádio. Ou moradores dos entornos no trajeto para comprar legumes na feira livre. Quem sabe todos não voltam para casa com um livro na mão.

Fonte: FolhaPress/Walter Porto