Internacional
Segunda-feira, 29 de abril de 2024

Vizinha da Ucrânia entra em alerta com ataques em área separatista russa

O governo de Moldova convocou uma reunião de emergência para discutir o acirramento da tensão na Transdnístria, após dois dias seguidos de ataques a instalações militares na região separatista russa aumentarem o temor de que Moscou possa envolvê-la na Guerra da Ucrânia.
Na segunda (25), houve uma série de explosões próximas do prédio do Ministério da Segurança de Tiraspol, capital da Transdnístria, uma área autônoma conhecida como “a última república soviética”, por manter a simbologia comunista e parte da estrutura de poder do tempo em que fazia parte da antiga república socialista da Moldávia até 1991.
Nesta terça (26), foi a vez de uma instalação militar próxima da cidade ser atacada, com a destruição de duas antenas de rádio de longo alcance. O Kremlin afirmou que acompanha a situação com preocupação, já que mantém 1.500 militares garantindo o status da Transdnístria desde uma guerra civil em 1992, mas que não crê em instabilidade. O temor é de outra natureza.
Na semana passada, um general do Comando Sul da Rússia afirmou candidamente que o objetivo da fase atual da guerra no país vizinho era o de estabelecer controle sobre toda a costa do mar Negro e do Donbass, a região pró-Rússia a leste da Ucrânia.
Mas ele acrescentou que tal controle “daria acesso” do território controlado pela Rússia à Transdnístria, que tem cerca de 2/3 de sua população de quase 500 mil habitantes russófona. Sinais amarelos acenderam em Chisinau, capital moldova, e também entre observadores europeus.
Com isso, uma crise renovada na até aqui pacata Transdnístria poderia levar a uma intervenção mais ativa de Moscou. Aí, das duas, uma: ou estamos diante de uma operação de “bandeira falsa”, na qual são simulados ataques para dar o pretexto a uma ação, ou a percepção de que os russos estão muito ocupados na Ucrânia animaram opositores do regime separatista e talvez de ucranianos.
Concorre em favor da última versão o incentivo que o Ocidente tem dado à militarização da Ucrânia. Nesta terça, o secretário de Defesa britânico, Ben Wallace, disse que alvos russos no exterior seriam absolutamente legítimos para Kiev atacar.
Há também a possibilidade de, no caso de ser uma “bandeira falsa”, a crise apenas servir como elemento de tergiversação, atraindo eventual preocupação ucraniana e ocidental.
De todo modo, a posição da presidente Maia Sandu é difícil. Ela foi eleita com um discurso contrário a Vladimir Putin em 2020, e comanda a pequena nação de 2,6 milhões de habitantes (além do meio milhão na área separatista) sob pressão de políticos pró-Kremlin.
O governo em Tiraspol decretou “alerta vermelho” contra atividades terroristas em seu território. Diferentemente do que ocorreu com as duas autoproclamadas repúblicas populares do Donbass antes da guerra, Putin nunca reconheceu a administração da Transdnístria como um país, embora na prática a proteja.
Sua posição, assim, é anterior à do Donbass e à das duas áreas rebeldes russas na Geórgia, a Abkházia e a Ossétia do Sul, objeto da guerra vencida pelo Kremlin na Geórgia em 2008. A Moldova é um dos países mais pobres da Europa, e o governo de Sandu namora a ideia de unir-se à União Europeia sem sucesso até aqui.

Fonte: FolhaPress/Igor Gielow