O Partido Socialista, no poder desde 2015, venceu as eleições legislativas de Portugal neste domingo (30) e garantiu um resultado considerado surpreendente.
Com mais de 95% dos votos apurados, a legenda do premiê António Costa conquistou quase 42% dos votos, o que o deixa perto de garantir a maioria absoluta entre os 230 deputados na Assembleia da República.
Pesquisas de intenção de voto divulgadas na última semana da campanha projetavam um empate técnico entre o PS e o maior partido da oposição, o PSD (Partido Social-Democrata).
Os social-democratas aparecem com 28,7% dos votos e garantiram, por enquanto, uma bancada de 44 deputados.
Uma grande mudança na composição do Parlamento ficará por conta do aumento expressivo da bancada do partido da extrema direita Chega, que assumiu o posto de terceira maior força política do país.
A legenda, que foi criada e entrou na Assembleia da República em 2019, teve 7,12% dos votos. Com isso, o Chega, que tem atualmente apenas um deputado, pode passar a contar com até oito representantes no Parlamento ao final da apuração.
O partido se apresenta como antissistema e acumula propostas polêmicas, como a volta da pena de morte e a castração química de pedófilos. Também conviveu com integrantes ligados a organizações neonazistas e é frequentemente acusado de discurso discriminatório contra comunidades ciganas.
Líder da sigla e seu único representante no Parlamento até as eleições deste domingo, o deputado André Ventura já foi condenado por “ofensas ao direito à honra” depois de ter chamado de bandidos, durante um debate na TV, os integrantes de uma família negra e moradora de um conjunto habitacional. A decisão foi confirmada em dezembro pelo Supremo Tribunal de Justiça de Portugal. O populista foi o terceiro colocado na eleição presidencial de um ano atrás, com 11,9% dos votos.
“Cada racista eleito no Parlamento português é um deputado a mais. E lá estaremos para combatê-los todos os dias”, disse, em um duro discurso, Catarina Martins, líder do Bloco de Esquerda (BE), em referência aos parlamentares eleitos pelo Chega.
Os resultados do pleito foram particularmente ruins para os partidos mais à esquerda, antigos parceiros dos socialistas na sustentação do governo. Na avaliação de analistas, as legendas desse campo político parecem ter sido responsabilizadas nas urnas pelas eleições antecipadas.
O Bloco de Esquerda e o Partido Comunista Português (PCP) votaram contra o Orçamento de Estado para 2022 apresentado pelo Executivo, o que acabou levando à rejeição da proposta e a uma crise que abalou as estruturas da geringonça, apelido dado à aliança entre os tradicionalmente divididos partidos da esquerda portuguesa.
Com o resultado na votação do Orçamento, o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, decretou a dissolução do Parlamento e a convocação de novas eleições.
Durante a campanha, o premiê António Costa insistiu no discurso de responsabilização política dos antigos parceiros à esquerda. A estratégia parece ter funcionado, uma vez que as pesquisas indicam uma grande transferência de votos, sobretudo do Bloco de Esquerda para os socialistas.
Ao assumir a derrota, Pedro Filipe Soares, número dois do BE em Lisboa, acusou o PS de chantagem e de provocar uma bipolarização forçada do país.
Os comunistas, por sua vez, perderam representantes em alguns de seus redutos tradicionais, como o Alentejo, no sul do país. Líder parlamentar da legenda e um dos rostos da campanha, João Oliveira não conseguiu se reeleger em Évora. Foi a primeira vez, desde a redemocratização de Portugal, que o PCP não elegeu ninguém na cidade alentejana.
Fonte: FolhaPress/Giuliana Miranda