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Na Espanha, crescem as críticas à gestão dos fundos do grande plano europeu de recuperação do coronavírus, altamente antecipado pelos meios econômicos e fonte de tensão entre o governo e a oposição.
A Espanha, juntamente com a Itália, é o principal beneficiário deste enorme plano de ajuda, validado por Bruxelas em julho de 2020, e receberá 140 bilhões de euros até 2026, dos quais 70 bilhões não são reembolsáveis.
Esta é uma ajuda crucial para a economia do país, que foi duramente atingida pela crise da saúde.
A Espanha já recebeu duas parcelas de 9 e 10 bilhões no segundo semestre de 2021.
Os fundos são “uma grande oportunidade (…) para dar aquele salto de modernidade que nosso país precisa”, disse na segunda-feira o presidente do governo socialista, Pedro Sánchez.
“Não vamos fazer dos fundos europeus uma questão partidária, vamos fazer dos fundos europeus uma oportunidade para o país, é o que peço à oposição”, acrescentou.
O plano, denominado “Next Generation”, destina-se a apoiar a transição ecológica e a transformação digital dos Estados-membros.
Dessa forma, Sánchez pareceu encarar as críticas, principalmente de empresários, à falta de capacidade de resposta da administração e à falta de coordenação entre as regiões e o governo central na aplicação desses fundos.
A Espanha foi o primeiro país a receber fundos, mas esses valores não atingiram “a economia real” na mesma proporção em 2021, lamentou a CEOE (Confederação Espanhola de Organizações Empresariais), a principal organização patronal espanhola, em relatório publicado na início de janeiro.
De acordo com os dados disponíveis até 31 de dezembro, apenas 38% dos fundos atribuídos a Madri para 2021 tinham sido utilizados, o que “está muito longe dos objetivos”, sublinhou o think tank econômico Funcas, que alertou para o impacto deste atraso no crescimento.
Em nota interna revelada no início de dezembro pelo jornal El País, a própria fabricante de aeronaves Airbus havia criticado esses atrasos, citando uma “falta de coordenação e liderança” e uma “falta de interesse” por parte dos ministérios envolvidos.
Além desses atrasos, o que causa irritação é o uso dos recursos.
“O atual sistema de atribuição de fundos” leva à “dispersão” e favorece “pequenos projetos”, por vezes “um pouco curiosos, como um campo de golfe nas Astúrias”, lamentou o vice-presidente da Exceltur, a patronal do setor do turismo, José Luis Zoreda.
Para Zoreda, os recursos devem ser concentrados “em poucos e grandes projetos”, com os “maiores efeitos transformadores” da economia.
Nos últimos dias, a batalha tomou um rumo político. A principal formação da oposição, o Partido Popular (PP), acusou o governo de favorecer as regiões e municípios. “Nós propusemos uma agência independente para administrar os fundos europeus”, assim como “Grécia”, “Itália” e “França”, “mas Sánchez preferiu distribuir a ajuda”, atacou o líder do PP, Pablo Casado.
Invocando a ameaça de casos de “clientelismo” e “corrupção”, o líder do PP anunciou uma possível ação judicial, assim como vários líderes regionais da direita, incluindo a presidente da Comunidade de Madri, Isabel Díaz Ayuso, uma estrela em ascensão da formação Casado.
Fonte: AFP