Internacional
Sexta-feira, 8 de novembro de 2024

Jornal pró-democracia de Hong Kong fecha após operação policial e detenções

O jornal digital Stand News, de Hong Kong, anunciou nesta quarta-feira (29) o fim de suas atividades, após a detenção de seis funcionários e ex-funcionários de uma operação policial na redação, o que ilustra a queda da liberdade de imprensa neste centro internacional de negócios.

“Devido à situação atual, o Stand News vai parar de operar imediatamente e deixará de atualizar seu site e redes sociais”, afirmou o jornal digital emn um comunicado publicado no Facebook poucas horas depois da operação das forças de segurança.

O site e contas das redes sociais do Stand News serãão retiradas do ar em breve.

Mais de 200 policiais com uniformes e à paisana participaram na operação de busca a apreensão na redação do jornal e em várias residências. Seis funcionários e ex-funcionários foram detidos sob acusações de “conspiração para divulgar uma publicação sediciosa”.

O Stand News é o segundo jornal pró-democracia fechado em Hong Kong após uma operação policial. Em junho, o emblemático Apple Daily, grande crítico de Pequim, encerrou as atividades após o congelamento de seus bens e a detenção de vários diretores.

A operação desta quarta-feira aumenta a preocupação com a cada vez menor liberdade de imprensa nesta cidade teoricamente semiautônoma e sede regional de vários meios de comunicação internacionais, onde Pequim amplia seu controle desde os protestos de 2019.

O Comitê para a Proteção dos Jornalistas descreveu a operação como “um ataque aberto à já abalada liberdade de imprensa de Hong Kong” e pediu a retirada das acusações.

O editor-chefe do Stand News, Patrick Lam, foi retirado algemado do prédio em que fica a redação do jornal.

A polícia também prendeu o ex-editor-chefe Chung Pui-kuen, assim como quatro membros do conselho que renunciaram em junho, incluindo a estrela pop local Denise Ho e a advogada Margaret Ng.

– “Editorialmente independente” –

Pouco antes do amanhecer, o Stand News informou no Facebook que a polícia de segurança nacional estava na porta da casa do subeditor Ronson Chan.

No curto vídeo divulgado, os policiais afirmam a Chan que tinham uma ordem judicial para investigar as acusações de “conspiração para divulgar uma publicação sediciosa”. A casa foi alvo de busca, mas ele não foi detido.

“O Stand News sempre informou as notícias de maneira profissional”, disse Chan. “As acusações não mudarão isto”, completou.

Poucas horas depois, no entanto, o jornal anunciou em sua página do Facebook o fechamento, a saída do editor-chefe Patrick Lam e a demissão dos demais funcionários.

Fundado como uma publicação digital sem fins lucrativos em 2014, o Stand News foi indicado ao prêmio Liberdade de Imprensa da organização Repórteres Sem Fronteiras em novembro.

“O Stand News era editorialmente independente e se dedicava a proteger os valores centrais de Hong Kong, como a democracia, os direitos humanos, a liberdade, o Estado de direito e a justiça”, afirma o comunicado de despedida.

Durante os grandes protestos pró-democracia de 2019 – em alguns momentos violentos -, a polícia entrou em confronto com vários repórteres do Stand News.

Após essas manifestações, Pequim aumentou o controle sobre a ex-colônia britânica, especialmente com a imposição, em junho de 2020, de uma lei de segurança nacional que foi usada para a detenção de vários opositores.

A Associação de Jornalistas de Hong Kong e o Clube de Correspondentes Estrangeiros expressaram “profunda preocupação” com as detenções e pediram respeito à liberdade de imprensa.

O ativista exilado Nathan Law tuitou que as detenções refletem a perseguição das autoridades contra jornalistas e meios de comunicação “que se atrevem a desafiá-los e dizer a verdade”.

Sunny Cheung, ativista que busca asilo nos Estados Unidos, afirmou que Pequim está eliminando todo o espaço para a oposição.

As autoridades da cidade criticavam de maneira reiterada o Stand News. O secretário de Segurança, Chris Tang, o acusou no início do mês de publicar informações “tendenciosas, difamatórias e demonizantes” sobre as condições dos presídios em Hong Kong.

Fonte: AFP