Economia
Quarta-feira, 3 de julho de 2024

“Duolingo” de inglês especializado, startup Slang levanta US$ 14 milhões

Falar inglês no Brasil ainda é um objetivo cumprido por poucas pessoas. Uma pesquisa realizada pelo British Council mostrou que apenas 5% da população de fato se comunica no idioma — e, destes, apenas 1% é fluente. Por outro lado, o interesse pelo idioma existe: levantamento realizado pelo app de aprendizado de idiomas Duolingo, que tem mais de 500 milhões de usuários globalmente, mostrou que o país é o que mais estuda o idioma no mundo todo. Um dos “top 3” motivos para fazê-lo está relacionado ao trabalho (15% dos 30 milhões de usuários locais). De olho nisso, a startup Slang, focada em ensino de idiomas direcionado a termos técnicos de diferentes carreiras, quer fincar presença por aqui. E já recebeu 14 milhões de dólares (ou 70 milhões de reais) para cumprir essa missão. 

Não que a Slang tenha nascido ontem. A empresa foi fundada em 2013 e, hoje, conta com mais de 130 cursos que abordam o ensino de inglês para áreas altamente especializadas, como Saúde, Direito, Finanças e Tecnologia. Atualmente, são mais de 40.000 licenças ativas em mais de dez países e escritórios nos Estados Unidos, Colômbia, México e, a partir deste ano, no Brasil também. 

“Todos os cursos de inglês ensinam, em média, 1% dos termos existentes na língua. Um curso genérico vai te apresentar 3.000 palavras, das cerca de 300.000 dentro desse universo. Se alguém trabalha em um hospital, ou com marketing, por exemplo, por que precisa aprender o inglês básico tradicional da mesma forma? Nossa solução vai além de animais e cores para ensinar alunos a fazerem apresentações profissionais”, diz Diego Villegas, cofundador da Slang, à EXAME. 

O executivo explica que há duas opções de cursos: os básicos para quem deseja aprender o idioma do zero, seguido pelas especificidades técnicas, e o avançado, para quem deseja ir direto à área com a qual trabalha ou tem interesse. O diferencial da empresa está em um ponto cada vez mais ressaltado por instituições de ensino: a operação guiada por dados, que permite ao aluno aprender mais rápido na medida em que se adapta à velocidade e ao formato de aprendizado de cada um. É o long life learning, que considera pessoas estudando por períodos cada vez menores, começam a vida profissional mais cedo e seguem se aprimorando. 

Em relação à inevitável comparação com o Duolingo, de aprendizado de idiomas, Diego afirma que a proposta da Slang é ser mais dinâmica do que o app. O currículo abre mais possibilidades de personalização e a redução de repetições de lições sobre termos que já foram vistos em etapas anteriores. 

Para chegar ao público que quer atingir, a startup trabalha tanto na frente B2C quanto B2B — sendo que a de empresas é a responsável pela maior parte da receita. Considerando a operação total da empresa, são mais de 100 empresas clientes, com nomes como HP, Samsung, Citibank e Thomson Reuters.

A startup não divulga faturamento, mas afirma que vai crescer, de forma geral, 300% em 2021 na comparação com o ano passado. Considerando todos os países em que opera, a Slang vai chegar a 150.000 usuários em 2022, e afirma que o Brasil deve ser o principal responsável por esse crescimento. 

Desde que foi fundada, em 2013, a empresa cresce de duas a três vezes por ano, segundo Diego. A Slang nasceu em 2013, como um projeto de pesquisa do MIT de uso de tecnologia para acelerar o ensino de idiomas, feito por Diego Villegas e Kamran Khan, empreendedores experientes. O foco sempre foi na América Latina, mesmo com os fundadores nos Estados Unidos. A primeira operação foi na Colômbia, depois México, seguidos pelos demais países que falam Espanhol, até chegar ao Brasil — que surpreendeu, pelo nível elevado de conhecimento do idioma.

Ainda assim, não é uma tarefa a ser cumprida sem desafios. O primeiro foi o modo de pagamentos — especialmente o famoso parcelamento, tão utilizado no país — que teve de ser adaptado. O segundo diz respeito ao produto em si: a Slang teve que criar um novo dicionário de palavras em português na plataforma, sem traduzir automaticamente o que já estava em espanhol. 

Outro ponto a ser observado será o preço. Hoje, no site da empresa, é possível encontrar planos individuais por 15 dólares por mês (cerca de 84 reais), cobrados anualmente, o que daria cerca de mil reais. O desequilíbrio do câmbio e as taxas de desemprego devem ser analisados pela empresa dentro dos planos de crescimento. 

Para as empresas, há mais opções, que começam em 6 dólares por mês, por aluno, e chegam a 15 dólares por mês, por aluno. Há ainda a frente de negócios que completa o ensino de idiomas e outra, direcionada às universidades. 

É para atender a esses públicos com cada vez mais cursos que o dinheiro do aporte deve ser usado. Além disso, “criar novas soluções em volta do ecossistema” deve ser uma prioridade, segundo Diego. 

A estratégia é continuar atendendo companhias multinacionais no Brasil e ofertar cada vez mais produtos para elas, crescendo a presença da companhia em diferentes países, até estar presente em todos os países. Em longo prazo, nem mesmo um IPO é descartado. Começar esse plano pelo país que mais procura pelo ensino de inglês no mundo parece um bom plano para chegar lá. 

Fonte: Exame