Economia
Terça-feira, 5 de novembro de 2024

Na Unipar, a virada levou cinco anos

Companhia superou reestruturação, saltou de um valor de mercado de R$ 400 milhões para R$ 7 bilhões e consolida mudança de patamar de resultados

Num mercado financeiro que gosta de viradas, mas que costuma se concentrar na foto e não no filme, a Unipar foi uma aposta longa, que está rendendo bem para quem colocou as fichas em um então azarão. Maior produtora de soda cáustica da América do Sul e uma das líderes também em venda de PVC, a companhia tem comemorado uma sequência de bons resultados e, no ano, a ação acumula alta de 38% e, em 12 meses, 137% (o Ibovespa acumula queda de 12%).

Parte dos bons resultados tem a ver com a pandemia, que elevou preços e favoreceu a indústria, mas as mudanças estruturais e aquisições concluídas nos últimos anos, bem como um choque de gestão, foram fundamentais para virar o jogo na companhia. No primeiro semestre deste ano, a Unipar acumulou um Ebitda de quase R$ 1 bilhão, equivalente à geração de caixa de todo o ano de 2020. Somente no segundo trimestre, a companhia multiplicou por 13 seu lucro em relação ao ano anterior, alcançando R$ 247 milhões, anunciando uma distribuição de dividendos de R$ 300 milhões a seus acionistas.

Trata-se do maior dividend yield da bolsa no período de um ano até outubro, de 28,6%, segundo a Economatica — superando o índice da Vale, com 23,6%. Na quinta-feira que vem, dia 11, a Unipar divulga os resultados do terceiro trimestre, num ano em que consolida a melhora de resultados vista em 2020.

Diante da alta demanda na indústria química como um todo, a companhia trabalha com margens melhores e alcançou uma situação confortável de caixa. “Nos últimos anos, nos concentramos na recompra de ações e pagamento de dívidas. Hoje, nossa dívida líquida é negativa, então decidimos distribuir os resultados aos acionistas”, conta Maurício Russomanno, CEO da Unipar desde de ano passado.

Unipar vai distribuir R$ 300 milhões em dividendos a seus acionistas

O executivo chegou à companhia em setembro de 2018, como COO, um ano após a Unipar decidir encerrar o contrato com a Estáter. A consultoria havia sido contratada em 2016 para organizar a casa após um envolvimento do então CEO, hoje presidente do conselho, Frank Geyer na Lava-Jato. Geyer havia assumido a cadeira de chairman em 2008 com a missão de missão de modernizá-la após outras gestões da família e, depois também como CEO, engendrou uma jogada ousada com a Petrobras para a formação da petroquímica Quattor – que sete anos depois foi vendida à Braskem envolvendo pagamento de propina e caixa dois, segundo delação premiada do empresário.

A gestão terceirizada transformou a Unipar em um dos principais cases de gestão da Estáter, assumida à época pelo sócio-fundador Pércio de Souza, que passou temporariamente a ser o dono dos direitos das ações do controlador. Anos antes, a assessoria financeira tinha ajudado a Unipar na negociação da Carbocloro e na composição da Quattor.

A Unipar já era geradora de caixa, mas a governança esfriava o interesse dos investidores e potenciais sócios. Naquele momento, seu valor de mercado girava em torno de R$ 400 milhões. A entrada da Estáter foi fator decisivo para a aquisição da Solvay Indupa em 2016, negócio que colocou a Unipar em evidência no ramo de PVC. A empresa belga tinha colocado como condição de negociação a troca de comando na potencial compradora — uma pressão que também vinha dos bancos credores. Depois de coordenar uma auditoria na própria Unipar, Souza amarrou o negócio com a Solvay para quitação em 10 anos, com cinco de carência. Reestruturada, a operação da Solvay quadruplicou o Ebitda em dólares em dois anos.

A Estáter poderia ficar no comando da empresa até o ano que vem, pelo contrato inicial, mas a temporada foi bem mais curta. Com o acordo com a Justiça e o apoio de acionistas como Luiz Barsi, Geyer decidiu pelo não fechamento de capital da Unipar, que era previsto nos planos firmados com a Estáter. A assessoria encerrou a gestão ainda em 2017, mas a transformação feita no negócio ajudou a firma de Souza engatar a atuação como consultoria de gestão a diferentes empresas com diferentes desafios. Geyer retomou a cadeira de chairman.

Fonte: Valor Pipeline