Economia
Sexta-feira, 26 de abril de 2024

‘Fizemos um estágio de 3 dias do que pode ser 2022’, diz CEO da Domino’s

Instabilidade política, inflação e juros em alta se somam à pandemia no rol de problemas com os quais o setor de restaurantes tem tido que lidar, afirma Fernando Dias Soares, diretor executivo da Domino’s Pizza no Brasil. O grupo — que está em processo de fusão com o Burger King no país — vai terminar o ano com 40 novas lojas. Embora afirme ter passado pouco da inflação aos preços, as promoções mais agressivas aparecem com menos frequência no cardápio.

Como foi a semana para quem gere um negócio?

Ela mostrou o potencial de estrago. Tivemos a oportunidade de fazer um estágio de três dias no que pode vir a ser o próximo ano. A questão é se vamos querer viver na quarta-feira ou na sexta. A sexta não foi tranquila, mas foi melhor que a quarta. Quando houve um recuo, as coisas rapidamente se aprumaram. Será que dá para fazer um próximo ano mais estável?

Qual é a sua expectativa?

O ano tem potencial para isso. Os empresários querem voltar, se readequaram na pandemia. É preciso que deem a eles a oportunidade de a coisa engatar. Mas isso é menos o que espero e mais pelo que torço. É quase uma torcida para que não haja insensatez. Mas trabalho sempre com cenários de instabilidade.

O senhor foi executivo em outros países da América Latina (na ABInbev). Qual a diferença?

É impressionante como a gente consegue estar em crise sempre. Você sai para o feriado e volta com risco de paralisação de caminhoneiros. O que incomoda é a instabilidade. Ainda convivemos com a pandemia e agora temos que lidar com uma economia sem perspectiva e com o quadro político. Era para eu estar pensando no ano que vem, mas tenho que parar para pensar na semana seguinte. Afinal, todo dia acordo com zero pizzas vendidas.

Como foi a quarta com risco de protesto de caminhoneiros?

Não foi tão grave, mas porque o empresário brasileiro já tem cinco ou seis cenários para tudo. Uma coisa dessas acontece e ninguém se surpreende e já tem quase que um modus operandi. Liguei para nosso diretor de Suprimentos e ele já tinha ligado para a transportadora, já trabalhava com alternativas… A prateleira de cenários e procedimentos do empresário é muito grande. O difícil é explicar isso para estrangeiro.

Como a alta da inflação afeta a Domino’s?

De um lado, nosso custo fica imprevisível. De outro, se repassamos tudo para o consumidor, não conseguimos aumentar nossa penetração nas classes de consumo. E, para crescer, a companhia precisa aumentá-la. Ao mesmo tempo, não posso segurar por completo, porque tenho franqueados. Preciso dar condições para quem investiu ganhar dinheiro. É quase uma tecnologia da Nasa de precificação.

A Domino’s aumentou preços?

Não repassamos muita coisa, mas deixamos de fazer promoções tão agressivas por períodos mais longos do mês. Se um ingrediente específico sobe muito, deixamos de fazer promoção da pizza na qual ele esteja.

Vocês planejam captar recursos a curto prazo para evitar a turbulência em 2022?

Por causa da fusão com o BK, não estamos com essa agenda. Mas, se fosse outra a situação, pensaria em captar nos próximos meses para garantir caixa e me preparar para um ano que, pensando na melhora da pandemia, pode oferecer oportunidades. Isso evita também exposição a juros turbulentos em ano eleitoral.

A crise hídrica preocupa?

Será que não poderiam ter agido antes, quando já se via que ia faltar? Trabalhamos com energia renovável, o que ajuda um pouco. Mas não temos muita margem de manobra, não posso apagar a luz dos restaurantes. É mais um item que pesa no custo.

A conjuntura atrapalha seus investimento?

Vamos terminar o ano tendo aberto mais 40 lojas, chegando a 350. É o que estava previsto. Mas não tenho dúvida de que cresceríamos mais rápido não fosse a instabilidade. Estaria destravando o Brasil, não apenas as classes A e B. Precisamos da classe C, que nos faz crescer exponencialmente. Normalizaram o desemprego no Brasil, é assustador. Ninguém fala mais disso. Mas ele atrapalha muito meu potencial de crescimento.

Fonte: O Globo