Economia
Sábado, 11 de maio de 2024

‘Tipo exportação’: Natural One cresce e mira receita de R$ 1 bi em 2023

Fundada em 2015, por Ricardo Ermínio de Moraes, herdeiro e conselheiro do grupo Votorantim, a fabricante de sucos Natural One quer conquistar o paladar dos ‘gringos’. Para isso, a marca não tem poupado esforços e recursos. Desde que teve uma fatia significativa (49,9%) de seu negócio abocanhada pelo fundo de private equity Gávea Investimentos, ao fim de 2016, a companhia tem investido pesado para ganhar presença nas gôndolas dos supermercados brasileiros. Desde 2019, a Natural One mais que dobrou a capacidade de sua unidade fabril, localizada em Jarinu, interior de São Paulo, passando de 100 mil para 220 mil toneladas de sucos por ano. Foram investidos mais de 500 milhões de reais para a expansão. A estratégia tem se mostrado um acerto. Com novos sabores e mercados para desbravar, o faturamento da empresa deve saltar 35% este ano, para 0,5 bilhão de reais. A ideia é elevar esse patamar para 1 bilhão de reais em 2023.

Presente em cerca de 45 mil pontos de venda no Brasil, a empresa mira dois focos de expansão. No mercado doméstico, a intenção é desbravar as cidades do interior, já que a rota desenhada até então foi a venda nas grandes regiões metropolitanas. Para suportar esse crescimento, a empresa aposta em parcerias de distribuição. “A gente tem feito parcerias com outras empresas que têm distribuição refrigerada, como, por exemplo, a Danone e a Nestlé. É uma forma de otimizar os custos da cadeia logística, que é muito cara”, diz Rafael Ivanisk, CEO da Natural One. O executivo admite a possibilidade de, no futuro, inaugurar um novo centro de distribuição. Hoje, o CD da companhia fica ao lado de sua unidade fabril, em Jarinu. “O Nordeste é um lugar onde, com certeza, a gente deve ter um centro de distribuição no futuro, talvez compartilhado com outras indústrias.”

O outro foco de expansão do negócio, revela o CEO, está no mercado internacional. Hoje, a Natural One já exporta seus sucos para 16 países. Os principais mercados da companhia estão na América do Sul e na Ásia. Ivanisk comemora a entrada da marca na China, em 2020. “Por sua dimensão, foi a nossa grande conquista no ano passado”, diz. “Mas estamos em outros países do Sudeste Asiático, como Hong Kong, Filipinas, Malásia, Cingapura e Indonésia”. Na América do Sul, fora o Brasil, o grande mercado é o Chile, onde a Natural One aparece como a terceira principal marca do mercado. Depois de levar seus produtos para Portugal, Ivanisk admite que o objetivo é entrar em países como Canadá, EUA e Rússia. “Nos próximos dois anos, o nosso foco vai ser entrar nos grandes mercados globais de suco.”

Ele conta que a vocação do produto, desde sua fundação, foi voltada ao mercado internacional. O criador da marca, Ricardo Emílio de Moraes, foi por oito anos o CEO da Citrosuco, a maior exportadora de laranja do país, e notou, nesse período, que haveria a oportunidade para ganhar escala com a exportação do produto envasado, não apenas da matéria-prima. “Ele viu que o Brasil exportava uma quantidade gigantesca de suco de laranja a granel para o resto do mundo via navios cargueiros, mas que nunca houve uma marca forte do país no mercado global. Por isso, decidiu fundar a Natural One”, explica Ivanisk. “Como há uma grande variedade de frutas tropicais no Brasil, temos tudo para ser competitivos e brigar no mercado global”. Em 2021, a exportação representará 20% da receita da empresa. A tendência é que, em três anos, metade do faturamento já venha do exterior.

Segundo o executivo, a necessidade de investir em melhorias na fábrica em 2019 se deu graças ao volume comercializado um ano antes. “Em 2018, que foi quando a gente iniciou nossa operação internacional, tivemos de cortar cerca de 18% do que tínhamos vendido, porque não tínhamos capacidade de produção para suprir a demanda”, revela. Além de ampliar a capacidade da planta, a empresa investiu para realizar a extração de algumas frutas cítricas e legumes que compõem os sabores dos sucos em sua fábrica. “Antes, comprava-se o suco de grandes produtores, como a Citrosuco, e envasava na fábrica. Agora, a gente compra a laranja direto da fazenda, espreme na fábrica e já envasa. Dessa forma, eu consigo ter um suco ainda mais fresco do que eu tinha antes”, afirma Ivanisk. “Fizemos um investimento na casa de 20 milhões de reais para esse processo, o que nos permitiu diminuir muito o número de fornecedores, já que hoje nós temos contato direto com os fazendeiros.”

O executivo ainda cita a inflação sobre o plástico, material usado para embalar os produtos, e o dólar alto, que pressiona o preço de commodities como a laranja, como desafios momentâneos. Ainda que 20% do faturamento deste ano seja projetado em dólar, esse aumento de custo acaba impactando a produção e o valor dos itens nas gôndolas. “Este ano, nós tivemos um incremento de mais ou menos 50% na produção, principalmente devido à resina, que subiu a níveis históricos, fazendo com que tivéssemos um aumento muito grande no custo de embalagens”, afirma ele. “Isso acaba atrapalhando a nossa rentabilidade. Uma parte desse aumento nós tivemos de repassar para o consumidor”.

Líder de mercado no Brasil em faturamento de sucos naturais – e segunda colocada no ranking geral, atrás somente da marca Del Valle, da Coca-Cola –, a Natural One também quer investir em outras frentes. Ivanisk revela que a empresa estuda lançar, no futuro, produtos no mercado de chás naturais, leites vegetais e bebidas prebióticas e probióticas.  “São categorias de bebidas que têm a ver com a nossa marca, pelo apelo sustentável, e que podemos explorar”, diz. Para 2022, o executivo almeja “atacar o problema do plástico”, lançando um modelo de garrafa 100% reciclada. “A gente tem de encarar essas coisas. A melhor tecnologia para o processamento de sucos ainda é o plástico, mas vamos tentar ser um acelerador do plástico sustentável”.

Fonte: Veja