Um terraço amplo, com vista para o centro de São Paulo, é uma das principais novidades do Museu da Língua Portuguesa, prestes a voltar para a agenda cultural da cidade. Depois de um evento para convidados em 31 de julho, o espaço será reaberto para o público em 1º de agosto, um domingo.
Patrimônio histórico da capital paulista, o complexo da estação da Luz que engloba a estação homônima de transporte e o museu foi parcialmente consumido por um incêndio no dia 21 de dezembro de 2015.
Na ocasião, um bombeiro morreu após parada cardiorrespiratória devido à fumaça. Não foi a primeira vez. Quase 70 anos antes, em 1946, a estação já havia sido destruída pelas chamas.
Ao custo de R$ 85,8 milhões, a reconstrução do museu, concluída em dezembro de 2019, ficou a cargo do governo do estado de São Paulo em parceria com a Fundação Roberto Marinho. Cerca de R$ 34 milhões vieram do seguro, e o restante foi bancado por empresas, como Grupo Globo, Itaú e EDP.
A reabertura estava prevista para o ano passado, mas teve que ser adiada devido à pandemia.
Com 262 metros quadrados, o equivalente a uma quadra e meia de vôlei, o terraço do museu é candidato a se tornar um dos mirantes mais disputados do centro de São Paulo não pela altura, pois fica no terceiro piso da estação, mas pela riqueza arquitetônica e paisagística do entorno.
A face norte está voltada para o Jardim da Luz, parque público que completa 200 anos em 2025. Ao sul, estão edifícios emblemáticos da região central, como o Copan e o Itália. É possível avisar a estação Júlio Prestes, onde está a Sala São Paulo, na direção oeste. E ao leste, colada ao terraço, a torre do famoso relógio da Estação da Luz.
“Podemos dar uma aula de arquitetura daqui de cima”, diz, num tom bem-humorado, Larissa Graça, gerente de patrimônio e cultura da fundação.
Esse terraço era usado antigamente pela administração da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos). Quando o museu foi inaugurado, em março de 2006, havia a intenção de torná-lo público, mas o espaço era de difícil acesso àquela altura. Nessa reforma recente, nos anos que se seguiram ao incêndio, foi construído um elevador dentro da torre do relógio, intervenção que resolveu o problema, como explica Graça.
“Essa vista nunca foi aberta ao público”, conta a gerente. “É um mirante onde as pessoas vão poder relaxar depois de visitar as exposições.”
Nos próximos meses, um café deve passar a funcionar nesse espaço. “O museu não tem fins lucrativos, mas deve gerar recursos para a sua manutenção”, afirma Graça. “Será ainda um espaço a ser alugado para eventos, como lançamento de livros, palestras e até gravação de clipes.”
De acordo com a museóloga e historiadora Marília Bonas, diretora do museu, poderá ser usado também para saraus e atividades voltadas ao público infantil, como contação de histórias.
O terraço será batizado com o nome de Paulo Mendes da Rocha, arquiteto responsável, ao lado do filho Pedro, pela readequação dos espaços internos da Estação da Luz para a inauguração do museu em 2006. É de Mendes da Rocha, morto em maio deste ano, a concepção do famoso corredor de 106 metros no segundo andar, que abriga a instalação Rua da Língua.
Os visitantes irão notar outra alteração do ponto de vista estrutural. Existe agora maior integração entre os salões do térreo do museu e a gare da estação, o que implica “mais permeabilidade física e visual”, segundo Larissa Graça.
Menos evidente aos olhos do público é o sistema de chuveiros automáticos para reforçar o aparato de segurança contra incêndio. Instalados no teto dos pavimentos, esses equipamentos possuem sensores que detectam o aumento da temperatura ambiente. Quando acionados, emitem jatos de água em todas as direções.
De acordo com o secretário estadual de Cultura de São Paulo, Sérgio Sá Leitão, há uma conexão direta desses sensores com os bombeiros e com toda a equipe do museu. Na hipótese de ocorrer um foco de incêndio, o fogo seria debelado sem danos ao edifício e às exposições, diz ele.
Exposições
Sob os telhados restaurados do espaço cultural, há outras tantas novidades. Uma delas é “Falares”, no terceiro piso, uma instalação com nove grandes telas verticais, que mostram anônimos e famosos em tamanho natural. Cada painel é dedicado a um determinado perfil, de crianças a pessoas tidas como sábias de uma determinada comunidade, além de atores, imigrantes, cantadores, entre outros.
Com consultoria do escritor Marcelino Freire e da slammer e atriz Roberta Estrela D’Alva, o espaço reúne 190 depoimentos de gente de todas as regiões do Brasil. Surge de tudo um pouco: rezas, brincadeiras, manifestações de cunho sócio-político, interpretações de textos teatrais e cantos, que revelam, cada qual a seu modo, a potência da língua portuguesa.
“Um bosque de falares”, nas palavras de Isa Grinspum Ferraz, que, ao lado de Hugo Barreto, é responsável pela curadoria das mostras de longa duração.
No auditório, também no terceiro andar, estará em exibição o filme “O que Pode esta Língua”, em que o diretor Carlos Nader apresenta, com engenhosidade e bom humor, o desenvolvimento da linguagem.
Espaços consagrados na primeira década de funcionamento do museu, como Praça da Língua e Beco das Palavras, foram mantidos nessa nova configuração.
Os ingressos para a visitação poderão ser reservados em sympla.com.br a partir da semana que vem.
Fonte: FolhaPress/Naief Haddad