IGOR GIELOW –
A Uefa, órgão que controla o futebol europeu, determinou nesta quinta (10) que a seleção da Ucrânia remova slogans políticos de seu uniforme, desenhado para a disputa da Euro-2020.
A camiseta do time, contudo, vai permanecer com um desenho do mapa do país que inclui a península da Crimeia, anexada pela Rússia em 2014 e que ainda é considerada território ucraniano pela ONU (Organização das Nações Unidas).
A mudança veio após uma queixa formal da Rússia na terça (8). Além do mapa, a camiseta trazia duas inscrições na gola, interna e externamente: “Glória aos Heróis” e “Glória à Ucrânia”, respectivamente.
Ambos os slogans foram utilizados durante a revolta que derrubou o governo pró-Rússia de Viktor Ianukovitch em Kiev, no começo de 2014.
Eles também remetem, como lembrou a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores russo, Maria Zakharova, aos batalhões ucranianos que combateram ao lado dos nazistas na Segunda Guerra Mundial.
O tema é muito controverso na Rússia, que considera inviolável, por lei, sua leitura dos eventos do conflito que matou 27 milhões de seus cidadãos de 1941 a 1945.
Para os ucranianos, os alemães invasores da União Soviética prometiam libertação contra o jugo comunista, e isso ressoa até hoje na guerra civil congelada no leste do país.
O conflito começou depois que, em retaliação pela derrubada do aliado, Vladimir Putin promoveu a anexação da Crimeia, de resto uma região histórica russa dada de presente a Kiev em 1954, quando todos faziam parte de um mesmo país.
Já morreram 14 mil pessoas, e a guerra quase recomeçou neste ano. Um importante batalhão ucraniano, o Azov, tem claros contornos neonazistas. Já os rebeldes pró-Moscou são vistos como descendentes dos comunistas que anexaram a Ucrânia depois do fim do Império Russo, derrubado em 1917.
O objetivo de Putin é evitar que as estruturas ocidentais, principalmente militares, se aproximem de sua fronteira. A Ucrânia, na sua visão, é um anteparo estratégico contra o Ocidente.
Manifestações políticas são vetadas em campo, e a Ucrânia fez bom uso da tradicional camiseta amarela do time. O presidente do país, Volodimir Zelenski, a vestiu. “A nova camiseta de fato não é igual a nenhuma outra”, disse.
A Fifa tenta coibir a política em campo, mas ela impregna a história do futebol, como toda manifestação sociocultural.
Na Copa da Rússia, amplamente usada como arma política por Putin em 2018, dois atletas suíços de origem kosovar foram punidos por trazer o símbolo do país extirpado da ex-Iugoslávia na chuteira e na sua comemoração de gol.
A chegada da Croácia à final, perdida contra a França, disparou uma série de sentimentos nacionalistas no país, também egresso do antigo país e em oposição ao domínio da Sérvia na antiga federação dissolvida nos anos 1990.
Com um agravante: assim como no caso da Ucrânia, os croatas carregam a proximidade com os nazistas na Segunda Guerra aos olhos russos, o que gerou tensões extracampo razoáveis durante a Copa.
A Ucrânia começa sua campanha na Euro-2020, adiada devido à pandemia e espalhada por sedes em vários países, inclusive a Rússia, no domingo.
Ela vai jogar em Amsterdã no domingo. A Rússia, por sua vez, tenta refazer sua surpreendente campanha da Copa-2018, na qual chegou às quartas de final. Ela estreia sábado em São Petersburgo, contra a Bélgica.
Fonte: FolhaPress