MARIANA ARRUDAS –
Escolhida pela revista Time como uma das líderes mais influentes da nova geração, a cantora Iza, 30, lança nesta sexta-feira (4) o clipe de “Gueto”, música que representa suas origens no subúrbio do Rio de Janeiro e a sua trajetória musical.
O single, divulgado oficialmente nesta quinta-feira (3) durante uma live, é a primeira faixa do segundo álbum da artista, ainda sem nome, previsto para o próximo semestre. “‘Gueto’ é uma celebração de tudo o que está acontecendo na minha vida”, diz a cantora. “Me sinto muito abençoada mesmo.”
Para Iza, a nova música é uma forma de celebrar todas suas conquistas e contratos, sem se esquecer de onde veio. “Não é sobre ostentação, é sobre ocupação. É sobre ter uma mina preta, retinta, ocupando lugares que nunca vi outra ocupando.”
Ela diz que “Gueto” é a “pontinha do iceberg do álbum que já está quase pronto”. Em seu novo trabalho, a artista conta que pretende focar mais na sua história e em si, mais do que em seu último álbum “Dona de Mim” (2018).
O projeto promete ser mais maduro para a cantora. “Quando falamos de nós sem medo é um sinal de amadurecimento”, diz. Ela ainda lembra que o álbum visual “Black is King” (2020), de Beyoncé, 39, foi uma de suas grandes inspirações.
Iza afirma que o álbum irá transitar por diversos estilos musicais, como afrobeat, pop, rhythm and blues e até trap, assim como no single. “É um álbum muito brasileiro e tem muito a minha cara”, afirma ela, que revela que os fãs podem esperar por parcerias inéditas no novo projeto audiovisual.
A artista conta que o clipe foi pensado para trazer identificação de diversos subúrbios, não apenas de Olaria, que fina na zona norte do Rio de Janeiro, onde cresceu. Ela afirma que o gueto de que se lembra sempre foi colorido e bem cuidado, e que aos domingos era lei fechar a rua.
Além disso, Iza diz que os figurinos foram escolhidos para que todos se sentissem bem-vestidos, como ela enxergava as pessoas a sua volta em seu bairro. “Aprendi a me vestir assim em Olaria, na feirinha”, relembra a cantora.
Para ela, foi muito importante também representar a bandeira do Brasil sendo pintada no asfalto, para lembrar como as ruas ficavam em época de Copa do Mundo. “Nossa bandeira é linda e ela é nossa”, afirma Iza, que aparece com o cabelo loiro no clipe “Gueto”.
“O Brasil é feito por brasileiros, o Brasil é foda. Tá foda? Tá. Mas o Brasil é foda”, afirma Iza, que quis trazer esse sentimento de orgulho para a música. “Não tem como falar para onde estou indo se eu não souber de onde eu vim.”
A cantora diz que continuará trazendo suas opiniões e falando de assuntos como representatividade, política e racismo. Ela diz que, apesar de ser uma bandeira de ocupação por si só, “estou longe de representar todas as mulheres negras.” “Falo de temas como racismo, porque é o que eu vivi, seria muita hipocrisia fugir dessa parte.”
Ela ainda conta que não gostaria de ser uma exceção, mas que outras pessoas, assim como ela, também possam ocupar posições de destaque. “Uma vez que alguém é exceção, tem a obrigação de trazer pessoas junto.”
Iza ressalta que existem muitos outros talentos que estão em lugares desprivilegiados, e que podem não investir em seus dons por não enxergarem ser possível alguma relevância. “Quero que as pessoas lembrem de onde são e enxerguem que brota ouro de onde elas são.”
Para ela, “Gueto” serve para “não esquecer das minhas origens”. A cantora também revela o desejo de fazer uma parceria com a cantora Ludmilla, 26, que ela considera como a maior cantora negra do Brasil.
DESAFIOS DA PANDEMIA
Iza afirma que o clipe foi gravado em maio de 2021, em São Paulo e no Rio de Janeiro. As cenas que representam ruas foram feitas em uma fábrica na capital paulista, para evitar aglomerações nesse momento de pandemia de Covid-19 no país.
Ela comenta que a música estava pronta desde outubro de 2020, porém, a estreia foi adiada para buscar locais mais seguros e apropriados para a construção de cenários do clipe. “Precisamos de bastante tempo de pré-produção. É praticamente um filme esse clipe por causa da montagem.”
Além disso, a cantora revela que durante a pandemia “eu sempre fui minha maior inimiga.” Iza afirma que em todo o período de isolamento social precisou lidar com as próprias inseguranças, que estavam escondidas. “Até eu conseguir me entender comigo mesma, eu não compunha nem fazia nada.”
Para o futuro, ela diz que está totalmente focada em procurar formas audiovisuais criativas para conseguir entregar novas músicas ao público. “Shows só em 2022”, afirma a artista.
Segundo dados do Spotify, Iza tem 3,5 milhões de ouvintes mensais e 1,9 milhão de seguidores na plataforma. Sua música mais ouvida é “Dona de Mim”, com cerca de 113 milhões de streams, seguida de “Pesadão” (97 milhões).
Na plataforma, a artista possui mais ouvintes nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre e Curitiba. Em 2018, Iza foi indicada ao Grammy Latino na categoria de melhor álbum de pop contemporâneo por “Dona de Mim”. Ela também foi eleita mulher do ano pela GQ Magazine.
Fonte: FolhaPress