Cultura
Quinta-feira, 28 de março de 2024

Dinosaur Jr. repete suas guitarras barulhentas em disco de clima tranquilo

JOÃO PERASSOLO –

J Mascis está bastante ansioso. Ele se expressa com pouquíssimas palavras enquanto olha para baixo, e não para a câmera, numa entrevista por videoconferência. O vocalista do Dinosaur Jr., uma das bandas de rock mais barulhentas dos anos 1990, conta que o ano de pandemia não fez bem a ele.
“Eu tento andar de bicicleta todos os dias e ir para o estúdio todos os dias e fazer alguma coisa. É, essas duas coisas têm ajudado um pouco”, ele diz, em tom monocórdico, respondendo à uma pergunta sobre como tem lidado com o momento.
Seu aparente estado depressivo, contudo, não se traduz no clima das 12 faixas do 12º disco de sua banda, um dos grandes nomes do rock alternativo a surgir nos Estados Unidos pouco antes do movimento grunge e que segue ativo e com uma base de fãs numerosa até hoje -inclusive no Brasil, onde Mascis já se apresentou com o Dinosaur Jr. e em versão solo.
“Sweep It Into Space” é um disco tranquilo, sem a melancolia dos trabalhos do início dos anos 1990, quando a banda de Massachusetts estava no auge do sucesso, impulsionada, justamente, pelo som de Seattle, do outro lado do país, que pôs o rock alternativo nas ondas de todas as rádios.
Mas que o ouvinte não se engane -o disco novo tem as tradicionais guitarras muito barulhentas do grupo e os vocais de quem acabou de acordar, uma assinatura de J Mascis.
“Sweep It Into Space” é inegavelmente um álbum de uma banda que fez quase sempre as mesmas músicas, mantendo a qualidade média ao longo dos anos, mais ou menos como fizeram os Ramones. Ambos se valem de uma fórmula que se repete mas não cansa.
Qual é o segredo para que uma banda faça o que sabe fazer por quase 40 anos? “Acho que, de alguma forma, ainda estamos motivados. Acho que não penso muito nisso. Eu meio que aceito que estou na banda e apenas fazemos coisas. Não tento analisar tudo e me preocupar com isso”, justifica Mascis.
Neste ano de pandemia, um dos bons momentos do cantor foi o show que o Dinosaur Jr. fez num drive-in na cidade de Swanzey, no estado de New Hampshire, em outubro, ele conta. Havia um quadrado desenhado ao redor dos carros e o público podia sair e ficar em pé nesta área. Ao final das músicas, as pessoas buzinavam ao invés de bater palmas.
“Sweep It Into Space” foi composto e gravado quase todo antes da pandemia, Mascis conta, de modo que ficou pronto cerca de um ano antes de ser lançado oficialmente. Os músicos são os mesmos desde 2005 -além de Mascis na guitarra e nos vocais, Lou Barlow toca baixo e também canta, e Murphy toca bateria.
A novidade aqui é a produção de Kurt Vile, cantor e guitarrista americano querido da cena alternativa e autor de uma obra, em grande medida, influenciada pelo próprio Dinosaur Jr. Além de produzir, Vile canta e toca guitarra em diversas faixas, mas isso é praticamente imperceptível para o ouvinte.
Talvez a influência maior de Vile esteja no clima relaxado do disco, o que é uma referência à sua própria obra, repleta de músicas que soam como se tivessem sido feitas num estado de torpor, assim como as canções do Dinosaur Jr.

Fonte: FolhaPress