TAYGUARA RIBEIRO – O ex-secretário de Comunicação da Presidência Fabio Wajngarten credita diretamente ao Ministério da Saúde, então sob comando do general Eduardo Pazuello, a atual baixa oferta de vacinas contra a Covid-19 no Brasil, mas exime o presidente Jair Bolsonaro de responsabilidade.
Em entrevista à revista Veja, o publicitário diz que a compra de vacinas oferecidas pela Pfizer, ainda no ano passado, não ocorreu por “incompetência e ineficiência” por parte da pasta comandada pelo militar.
“Quando você tem um laboratório americano com cinco escritórios de advocacia apoiando uma negociação que envolve cifras milionárias e do outro lado um time pequeno, tímido sem experiência, é isso que acontece”, disse Wajngarten.
“O presidente Bolsonaro está totalmente eximido de qualquer responsabilidade nesse sentido. Se as coisas não aconteceram, não foi por culpa do Planalto. Ele era abastecido com informações erradas, não sei se por dolo, incompetência ou as duas coisas”, afirmou o ex-chefe da Secom.
Questionado se a crítica se dirigia especificamente a Pazuello, o ex-secretário disse: “Estou me referindo à equipe que gerenciava o Ministério da Saúde nesse período”.
A declaração de Wajngarten ocorre às vésperas do início dos trabalhos na CPI da Covid que pretende avaliar a responsabilidade do governo Bolsonaro, por ação ou por omissão, na crise sanitária vivida pelo Brasil em razão do novo coronavírus.
A primeira reunião da CPI será realizada na próxima terça-feira (27) para a sua instalação, com a eleição do presidente e vice-presidente da comissão.
Os quatros ministros da Saúde do governo Bolsonaro –Luiz Henrique Mandetta (DEM), Nelson Teich, Eduardo Pazuello e o atual ministro Marcelo Queiroga– deverão ser convocados para esclarecimentos.
Pazuello, que ficou por mais tempo no cargo durante a pandemia, deve ser questionado sobre a compra de remédios para tratamento precoce (sem comprovação científica) e sobre os indícios de que soube antecipadamente e não atuou diante da iminência do colapso do sistema de saúde de Manaus no início do ano.
Membros do governo temem que a investigação sobre o ministro respingue em Bolsonaro.
Segundo Wajngarten, na CPI da Covid o governo “não pode ser acusado de inoperância”.
“Eu era o secretário de Comunicação do governo. É minha obrigação reportar o que o Planalto fez através da minha pessoa. Antevi os riscos da falta de vacina e mobilizei com o aval do presidente vários setores da sociedade. Já me acusaram até de não ter feito campanha publicitária para divulgar a importância da vacina. Como eu ia fazer campanha de vacinação se não tinha vacina. Se fizesse, seria propaganda enganosa”, afirmou à revista Veja.
Wajngarten afirma na entrevista ter sido procurado por um dono de veículo de comunicação para falar sobre as vacinas da Pfizer. Depois disso, ele teria entrado em contato com a farmacêutica.
“Liguei para a sede e me apresentei. No mesmo dia, o CEO da empresa me retornou. Foi uma conversa surpreendente. Ele relatou o que havia acontecido –ou melhor o que não havia acontecido. O Ministério da Saúde nem sequer havia respondido à carta. Sou filho de médico e sei o que representa a tradição da Pfizer, sei quanto a vacinação é importante e também como isso poderia implodir ou incensar a imagem do presidente da República”, disse.
Conforme mostrou o jornal Folha de S.Paulo, o governo brasileiro rejeitou no ano passado proposta da farmacêutica Pfizer que previa 70 milhões de doses de vacinas até dezembro deste ano. Do total, 3 milhões estavam previstos até fevereiro, o equivalente a cerca de 20% das doses já distribuídas no país até agora. Com este montante, a vacinação no país poderia ter começado mais cedo e mais pessoas já poderiam ter sido vacinadas.
“Me coloquei à disposição para negociar com a empresa”, disse o ex-secretário na entrevista à Veja. “Antevendo o que estava para acontecer: o presidente seria atacado e responsabilizado pelas mortes. A vacina da Pfizer era a mais promissora,com altos índices de eficácia, segundo os estudos. Precisávamos da maior quantidade de vacinas no menor tempo possível. E dinheiro nunca faltou. Então, eu abri as portas do Palácio do Planalto”.
Segundo Wajngarten, as negociações avançaram, “os diretores da Pfizer foram impecáveis”, mas “infelizmente, as coisas travavam no Ministério da Saúde”.
Ele afirmou ainda que a saída de Pazuello ocorreu na mesma época em que rumores sobre uma possível prisão do general circularam no governo.
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