Política
Quinta-feira, 3 de outubro de 2024

Deputada na coordenação política é aceno de Bolsonaro a Lira e a 2022

JULIA CHAIB, DANIELLE BRANT E DANIEL CARVALHO
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A decisão de Jair Bolsonaro (sem partido) de nomear a deputada federal Flávia Arruda (PL-DF) para a Secretaria de Governo, que responde pela articulação política, embute gestos voltados tanto às eleições presidenciais de 2022 como à performance do Planalto no Congresso.
De um lado, na leitura de dirigentes de partidos do centrão ouvidos pela reportagem, a escolha representa um aceno do presidente ao PL, comandando por Valdemar da Costa Neto, e uma tentativa de mantê-lo próximo de olho numa aliança no ano que vem.
Recentemente, o ex-presidente Lula (PT) indicou a integrantes do centrão que gostaria do empresário Josué Gomes, do PL, como seu parceiro de chapa em 2022. Gomes é filho de José de Alencar, que foi vice-presidente de Lula.
Além disso, as críticas que Bolsonaro tem recebido por sua gestão da pandemia também têm contribuído para deixar o PL mais distante.
Na leitura de presidentes de legendas de centro, embora não signifique a garantia do apoio do PL em 2022, o gesto a Costa Neto se constituiu na principal motivação de Bolsonaro para escolher Arruda.
Em outra frente, a nomeação da deputada é um aceno ao centrão no Parlamento e, especificamente, ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). A parlamentar é próxima de Lira e teve a bênção dele para ocupar o ministério.
Apesar de a parlamentar ser ligada ao alagoano, integrantes do Planalto, aliados de Lira e pessoas próximas de Flávia Arruda dizem que o primeiro a sugerir o nome dela foi Luiz Eduardo Ramos, o antecessor da deputada na pasta.
Segundo essas fontes, o agora ministro da Casa Civil pensou numa opção que agregasse vitórias a Bolsonaro no Congresso e nas eleições e que fosse mulher, para aplacar críticas de que elas têm baixa representatividade no governo.
Com Flávia, o ministério passa a ter cinco deputados licenciados, o que, na visão de integrantes do centrão, torna o governo mais político e mais próximo a siglas de centro.
Enquanto o PSD comanda as Comunicações, o Republicanos a Cidadania e o PP ocupa a presidência da Câmara com apoio do Planalto, o PL, que ainda não tinha espaço no primeiro escalão, agora assume a articulação política.
“A Flávia Arruda é uma grande deputada e seguramente será uma excelente ministra. Tenho as melhores expectativas sobre ela”, disse à reportagem o deputado Marcos Pereira (SP), presidente do Republicanos.
Deputada de primeiro mandato, Arruda, 41, foi o nome escolhido pelo líder do centrão para presidir a Comissão Mista de Orçamento, responsável por analisar e fazer modificações ao Orçamento de 2021.
Para emplacar a deputada no colegiado, Lira desfez acordo com partidos como MDB e DEM e, a partir de setembro, passou a bloquear a pauta de votação para pressionar pela instalação da comissão. A tentativa foi frustrada pelo então presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
A CMO só foi instalada em fevereiro deste ano, após a vitória de Lira ao comando da Câmara. A presidência de Flávia durou um mês e duas semanas, tempo em que concluiu a votação do Orçamento de 2021, criticado pelas manobras fiscais para turbinar emendas parlamentares.
Segundo colegas da comissão, Flávia tem caráter conciliatório e maturidade para assumir a Secretaria de Governo.
“É uma política por excelência. A gente brinca que ela parece ter 100 anos em termos de experiência e maturidade”, elogia Margarete Coelho (PP-PI). “Tem aquela mesma característica do Arthur [Lira] de dar a palavra e cumprir.”
Líder do DEM na Câmara, o deputado Efraim Filho (PB) também elogia a escolha. “A Flávia teve um bom desempenho na CMO, teve de articular com diversos líderes, com sensibilidade e conciliação.”
Na Câmara, Flávia Arruda é coautora de uma lei que assegura medidas de combate e prevenção à violência doméstica durante a pandemia.
É também autora de uma lei que autoriza estados e municípios a resgatarem R$ 1,5 bilhão do Fundo Nacional da Assistência Social para aplicação em ações de assistência. Na sanção, Bolsonaro recebeu Arruda para que ela acompanhasse a transformação do projeto em norma jurídica.
Ela também relatou projetos relacionados à violência doméstica e à valorização da participação feminina em entidades de representação civil.
Nascida em Brasília, Flávia Arruda é casada com o ex-governador do Distrito Federal José Roberto Arruda (então no DEM), que chegou a ser preso e teve o mandato cassado.
Em 2014, José Roberto desistiu de disputar o governo do DF em razão da Lei da Ficha Limpa –foi condenado por envolvimento no mensalão do DEM no Distrito Federal. Ele foi substituído por Jofran Frejat, do PR (hoje PL), e indicou a esposa para vice.
José Roberto Arruda foi investigado na Operação Caixa de Pandora, que apurou o envolvimento de deputados distritais, integrantes do governo do DF, Arruda e de seu vice, Paulo Octavio, em suposto esquema de propina.
Ainda no comando do DF, ele foi preso e deixou o DEM para não ser expulso da legenda e cassado.