A cerveja é uma das bebidas preferidas do brasileiro. Mas com o consumidor cada vez mais preocupado com bem-estar, produtos considerados “mais saudáveis” e com baixo ou zero teor alcoólico entram na lista de alternativas à bebida derivada do malte em bares e pequenos encontros em casa: entre eles as hard seltzers, a kombucha e o kefir.
Na moda entre os norte-americanos, as hard seltzers são uma bebida cuja composição principal é água gaseificada com sabor e álcool. Por conta dos ingredientes, elas têm baixa concentração de calorias e possuem entre 3% e 5% de álcool.
Em 2018, a consultoria de dados apontou que havia apenas dez marcas da bebida disponíveis nas prateleiras de supermercados norte-americanos. No ano passado, esse número subiu para 65.
Por ser nova no país, ainda não há dados sobre o mercado de hard seltzers brasileiro. Por aqui, o fenômeno desses ‘refrigerantes alcoólicos’ chegou a São Paulo e ao Rio de Janeiro pela Coca-Cola no final do ano passado, com a marca mexicana Topo Chico.
Consumo previsto de bebidas alcoólicas no Brasil em 2020 — Foto: G1
Disponíveis nos sabores Morango-Goiaba, Lima-Limão e Abacaxi, o produto tem foco principalmente nos chamados millenials — público entre 21 e 35 anos — e nos consumidores que priorizam bebidas leves feitas com ingredientes naturais.
Esse perfil, inclusive, parece ser o da própria Coca-Cola. A gigante de bebidas raramente se aventura no mercado de bebidas alcoólicas no mundo e, tampouco, produz cervejas no Brasil.
Segundo Renato Shiratsu, diretor de integrated brand experience e premium drinks da Coca-Cola Brasil, a empresa não deve produzir cerveja por aqui “porque não faz sentido dentro da demanda dos consumidores”.
Em seu relatório global de 2019, a consultoria internacional WGSN apontou que, naquele ano, 52% dos consumidores norte-americanos estavam reduzindo o consumo de bebidas alcoólicas. Por este motivo, grandes marcas estavam criando produtos com baixo ou zero teor alcoólico.
“COM O MAIOR FOCO DO CONSUMIDOR NA SAÚDE E INTERESSE EM SABOR E TEXTURA, AS BEBIDAS DEVEM INOVAR AINDA MAIS PARA MANTER A DEMANDA DO MERCADO EM 2021”, DISSE ARTHUR BOVINO, ESTRATEGISTA SÊNIOR DA CONSULTORIA, EM RELATÓRIO PUBLICADO NO ÚLTIMO SEMESTRE DE 2020.
As pesquisadoras Luana Sousa e Isabela Rosier (à direita), sócias da Kefiran Spritz — Foto: Divulgação
Fazer com que as pessoas comam alimentos saudáveis e, ao mesmo tempo, saborosos foi um dos motivos que levou Luana Sousa, de 30 anos, a estudar nutrição.
Durante o doutorado, a paulistana foi além de seu objetivo inicial: criou com sua orientadora, Isabela Rosier, um suco gaseificado à base da bebida fermentada kefir, o Kefiran Spritz. Com propriedades probióticas, a bebida promete ajudar a equilibrar a quantidade de micro-organismos que fazem bem à saúde.
De acordo com Luana, em contato com o leite ou com misturas açucaradas, como os sucos, os “grãos” geram uma fermentação que dá origem ao kefir. O teor alcoólico é 0,5% — residual do processo de fabricação.
“A BEBIDA NÃO TEM AÇÚCAR, CONSERVANTES E É INTEGRAL. AS PESSOAS ESTÃO BUSCANDO TER MAIS QUALIDADE DE VIDA. ELAS QUEREM, NO LUGAR DE TOMAR REMÉDIO, PREVENIR DOENÇAS. ESTÃO MUDANDO A CHAVE”, EXPLICOU A DOUTORANDA, QUE PRODUZ, EM MÉDIA, 1 MIL LITROS DO REFRIGERANTE POR MÊS.
Além do kefir com suco de frutas, Luana conta que também está pesquisando como produzir cerveja com Kefir, em parceria com a cervejaria Tria, localizada na Grande São Paulo.
“Temos muita biodiversidade e conhecimento para produzir produtos saudáveis e saborosos. Nossa ideia é criar uma cerveja com características probióticas. Começamos a pesquisa em 2019, mas tivemos que parar pela pandemia”, disse Luana.
Cervejas se rendem ao zero álcool
Para não perder mercado, a própria cerveja, inclusive, está ganhando uma nova roupagem para consumidores mais conscientes: sem álcool e algumas até sem glúten.
Entre as marcas que comercializam o derivado de malte sem álcool estão Guinness, Itaipava, Heineken, Budweiser e Estrella Galícia.
Na avaliação de Paulo Petroni, diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria da Cerveja (CervBrasil), cervejas sem álcool bem produzidas não deixam a desejar em relação às normais — o que contribuiu para a adesão desse novo perfil de consumidores.
“AS PRIMEIRAS GERAÇÕES FICARAM DEVENDO, MAS OS NOVOS PROCESSOS PRODUTIVOS MELHORARAM BASTANTE A QUALIDADE DO PRODUTO. NA ESPANHA, ALGUNS ANOS À NOSSA FRENTE NESTE PRODUTO, A CERVEJA SEM ÁLCOOL ATINGE MAIS DE 15% DO MERCADO”, DISSE O DIRETOR.
Outras bebidas consideradas mais saudáveis, como a Kombucha, não concorrem diretamente com a cerveja – são uma “alternativa”, avaliou Petroni.
“Até o momento, novas bebidas não impactam o mercado. O que nos preocupa mesmo é o fim do Auxílio Emergencial. Nossa maior força para consumo de cerveja é a disponibilidade de renda.”
Jovan Demoner, presidente da Associação Brasileira de Kombucha — Foto: Divulgação
Produção de Kombucha no Brasil, em litros — Foto: G1
O presidente da Associação Brasileira de Kombucha, Jovan Demoner, também acredita que a bebida não vai competir com a cerveja porque são produtos distintos.
“SÃO MERCADOS COMPLEMENTARES. NOS ÚLTIMOS QUATRO ANOS, HOUVE UM GRANDE AUMENTO DE PRODUÇÃO E DE CONSUMO DA BEBIDA NOS EUA E NO BRASIL, PRINCIPALMENTE DO PÚBLICO ENTRE 35 E 40 ANOS. AS PESSOAS SAUDÁVEIS TAMBÉM SAEM”, AFIRMOU DEMONER, PROPRIETÁRIO DA MARCA KOMBUCHA VIVAODIA.
A kombucha começou a ser envasada há cerca de três décadas pelos hippies e passou a ser produzida em maior escala na última década. Ela é fermentada a partir do chá adoçado e rica em bactérias e leveduras benéficas que recomporiam a microbiota intestinal.
Por ser fermentada, a bebida possui ácido acético e teor alcoólico de aproximadamente 0,5%. Há também versões de kombucha alcoólicas para quem aprecia bebidas mais fortes.
Fonte: G1