RENAN MARRA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Diante do cenário de incertezas em decorrência da pandemia, empresários estão sendo obrigados a rever as movimentações financeiras do negócio quase diariamente para controlar a flutuação de faturamento, folha de pagamento e estoque.
Em São Paulo, por exemplo, o governador João Doria (PSDB) tem adotado política do “aperta e solta”. Na semana passada, o tucano suspendeu decreto que determinava fechamento dos serviços não essenciais em algumas cidades, incluindo a capital, nos dias úteis das 20h às 6h e nos fins de semana e feriados.
Com a mudança, restaurantes, shoppings e lojas de rua voltaram a funcionar aos sábados e domingos com horário reduzido nas regiões que estão na fases laranja e amarela do plano de flexibilização.
Para tomar decisões assertivas com tantas mudanças, o empreendedor precisa, em primeiro lugar, analisar a saúde financeira da empresa, afirma Luiz Henrique Barbosa, fundador da consultoria C2W Consulting.
Um sinal de alerta deve acender quando o dinheiro em caixa não é suficiente para cobrir as despesas de pelo menos três meses. “A imprevisibilidade da receita na pandemia demanda ações imediatas para proteger o caixa e evitar a ruptura na operação, que leva a empresa para um ciclo destrutivo”, diz.
Para minimizar os impactos, diminuir a margem de lucro e promover descontos podem não ser simpáticos ao dono do negócio, mas são alternativas para aumentar a liquidez das vendas.
Com a possibilidade da atração de mais clientes, a tendência é que o caixa não fique totalmente desabastecido, evitando o colapso em períodos com restrições mais duras.
Neste contexto de crise, o empresário deve estar sempre preparado para o pior. Portanto, é recomendado que ele compre o estritamente necessário para o dia a dia.
O contato com fornecedores ou as idas ao supermercado podem aumentar, mas o estoque enxuto evita eventuais perdas de produtos perecíveis em caso de novos endurecimentos da quarentena.
Mas, com o aumento da frequência das compras, ainda que em quantidades menores, o empresário deve ficar atento a fornecedores que podem ter problemas de entrega.
Foi o que enfrentou a rede de serviços de podologia Doctor Feet, que sofreu com o desabastecimento de máscaras e luvas, materiais usados pelos funcionários da marca.
Nesse caso, por serem insumos essenciais aos profissionais de saúde, a rede optou por investir em uma grande quantidade de produtos descartáveis, formando estoque para três meses.
A Doctor Feet tem 85 unidades, sendo que 90% delas ficam localizadas em shoppings, cujo funcionamento vem sendo mais afetado. Em média, uma unidade da marca faturava R$ 100 mil por mês antes da crise, valor que caiu pela metade na pandemia.
“O planejamento de longo prazo se tornou algo surreal. Passamos a viver uma semana de cada vez, tendo em vista que o fechamento do comércio e as restrições de horários assustam o consumidor e quebram o fluxo de caixa”, afirma Jonas Bechelli, fundador.
Para sobreviver, a rede teve de diminuir o quadro de funcionários. Dos 1.500 empregados, cerca de 400 foram demitidos em abril do ano passado.
Reduzir as chamadas despesas fixas (que não apresentam relação com o custo do produto) e criar estruturas mais enxutas e flexíveis são medidas recomendadas em tempos de crise e incertezas, afirma Rubens Massa, professor do Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios da FGV (Fundação Getulio Vargas).
“Independentemente do contexto externo, o empresário precisa criar ambiente responsivo aos diferentes cenários”, afirma Massa.
Nos períodos em que há medidas mais rígidas de quarentena e menor movimento, uma alternativa é adotar a escala 12 horas/36 horas, em que o funcionário trabalha em um dia e folga no outro.
Assim, o empresário consegue economizar a metade do valor do vale transporte pago no mês, aliviando o caixa.
Nesse caso, ele precisa consultar a viabilidade da mudança com o sindicato ou associação da categoria e advogados para evitar eventuais processos trabalhistas.
Para ações mais rápidas, o ideal é que a empresa invista em um departamento de crise. Esse grupo formula decisões com menor apelo emocional, permitindo inclusive mudanças drásticas, afirma Barbosa, da C2W Consulting.
No Grupo Laces, que oferece tratamentos e linhas de produtos naturais, o comitê de crise, formado por 15 pessoas com cargos de liderança, foi criado no início da pandemia.
“A grande vantagem é a velocidade para se movimentar. No comitê, todos os assuntos são discutidos. Surgem desde ideias esdrúxulas até propostas transformadoras. Quando uma ideia é aprovada, sai um batalhão de gente para realizá-la”, afirma o diretor-executivo do grupo, Itamar Cechetto.
Uma das ideias nascidas no comitê foi a transformação de salões de beleza em mercadinhos que oferecem hortifrútis, vinhos e itens de mercearia, limpeza, decoração, entre outros. A mudança, na época mais dura da pandemia, quando salões estavam fechados, ajudou na permanência dos 260 funcionários do grupo.
O dinheiro em caixa, que daria conta das despesas por cerca de três meses, foi fundamental para investimento no ecommerce e contratação de novos representantes comerciais, que ajudaram a expandir a distribuição de produtos capilares orgânicos desenvolvidos pelo grupo nas redes de varejo.
Mesmo com uma perda de receita de R$ 15 milhões, por causa do fechamento dos oito salões de beleza no início da pandemia, o grupo encerrou 2020 com o mesmo faturamento registrado em 2019.
“A gestão e o planejamento migram cada vez mais para a construção no dia a dia, buscando reação em tempo real dentro de um contexto de transformação e incerteza”, afirma Massa, da FGV.
Economia
Quinta-feira, 3 de outubro de 2024
Dólar | R$ 5,18 | 0,000% |
Peso AR | R$ 0,03 | 0,164% |
Euro | R$ 5,59 | 0,000% |
Bitcoin | R$ 114.180,92 | 0,096% |
SP: Reta final tem Nunes, Boulos e Marçal em busca de indecisos
Os três candidatos devem mirar eleitores jovens, mulheres e idosos No último debate do primeiro turno, os candidatos Ricardo Nunes (MDB), Guilherme Boulos (PSOL) e Pablo Marçal (PRTB) pretendem buscar o voto dos eleitores indecisos. O percentual de pessoas que ainda não definiu o voto na capital paulista é de 6%, segundo a última pesquisa estimulada da Quaest. Diante do...
Política
Fintech Nomad amplia oferta de serviços com cesta de investimentos nos EUA
Quem assiste às propagandas da Nomad com o astro americano Will Smith pode pensar que a fintech brasileira, fundada por Patrick Sigrist, um dos criadores do iFood, teve uma jornada tranquila. Não foi bem assim. Criada em 2019, a empresa teve as operações iniciadas em 2020, em plena pandemia, com o nome de OutInvest. Pretendia ser uma conta internacional integrada...
Negócios
A tão temida “guerra aberta” no Oriente Médio chegou
“Do ponto de vista de Israel, estamos em uma guerra regional desde 7 de outubro, e essa guerra agora é total”, disse Michael Oren, ex-embaixador de Israel nos EUA e um dos diplomatas mais linha-dura do país O cenário de uma “guerra ampliada” no Oriente Médio, temido há tempos, finalmente se concretizou. Nos últimos 360...
No Mundo
O que ainda falta para o Brasil melhorar nota e recuperar grau de investimento?
Com a elevação da nota de crédito pela Moody’s, o Brasil está agora a um passo do chamado grau de investimento, nível de classificação de risco perdido em 2016. O grau de investimento funciona como um atestado de que os países não correm risco de dar calote na dívida pública. É uma espécie de selo de...
Economia
Empresas que atuaram na campanha acusam Marçal de calote
Duas empresas que atuaram na campanha de Pablo Marçal (PRTB) à Prefeitura de São Paulo acusam o influenciador de não pagar pelos serviços contratados.Uma delas, a Vivere Press Comunicação 360 entrou com uma ação na Justiça estadual cobrando o pagamento.Segundo o documento, o contrato para a prestação de serviços foi firmado no dia 2 de...
Política
Shoulder compra a butique carioca Haight
Primeira fase é de 40% do capital e incorporação total acontece em até 18 meses Depois de incorporar a marca masculina Oriba, a Shoulder acaba de fechar sua segunda aquisição. Terá 40% da butique carioca Haight, por meio de um aporte em caixa, chegando à incorporação integral em até 18 meses, com troca de ações....
Negócios
Em autobiografia, Melania Trump defende direitos ao aborto livres de pressão do governo
Trechos do livro foram obtidos pelo The Guardian A ex-primeira-dama Melania Trump afirma que apoia os direitos ao aborto “livres de qualquer intervenção ou pressão do governo” em sua próxima autobiografia, segundo trechos do livro obtidos pelo The Guardian. “Por que alguém, além da própria mulher, deveria ter o poder de determinar o que ela faz com...
No Mundo